Por Carlos Sena (*)
Caixinha de Natal. Na padaria,
caixinha de natal. No boteco da esquina, caixinha de Natal. No restaurante,
caixinha de Natal. No prédio onde moramos, no lava-jato, no salão de beleza,
tudo tem caixinha de Natal. Essa moda pegou e o que é pior: a gente termina
“contribuindo” com aquelas caixinha que se relacionam diretamente conosco como
a CAIXINHA DOS FUNCIONÁRIOS DO CONDOMÍNIO. Tudo bem que dá quem quer. Mas a
gente nem sempre dá só querendo e, nalgumas vezes dá sem querer pelas
circunstâncias.
Essas caixinhas são muito
cínicas. Porque elas não falam e ainda a gente lhe ouve e lhe atende ao pedido.
Por que não “bolsinho de natal” – a rigor, essas caixinhas são dissimuladas e
utilizam o natal para se passarem por boazinhas. O ano todo “as caixinhas” nem
nos aparecem. Nem sempre o porteiro do nosso prédio é atencioso; nem sempre são
discretos e, geralmente, comentam a vida dos condôminos na forma que eles acham
que seja, etc. Independente, caixinha é produto legítimo do capitalismo que se
utiliza do afeto, das datas comemorativas para nos “ferrar”. A gente sabe que o
mundo está assim, mas não podemos colaborar com esse agravamento. As relações
sociais todas estão calcadas no interesse financeiro e, inclusive, as afetivas
entre homem e mulher e derivados. Há exceções, mas são tão poucas que a gente
fica se perguntando “pra onde vamos” com esse tipo de “compra e venda” dos
nossos sentimentos. Caixinha de Natal, nos condomínios, funciona um pouco como
os flanelinhas que nos enchem a paciência, dizem tomar conta do nosso carro e
se a gente não lhes pagar, corre o risco de ter o automóvel danificado. No
prédio os funcionários sabem quem deu mais caixinha ou menos e, não raro, agem
com mais ou menos responsabilidade dependendo disso. Pode ser quem não seja
literalmente assim, mas a linha geral dessas caixinhas a isso conduz.
Voltando ao “dá quem quer”, acho
que tudo certo. Só quem os donos das caixinhas não veem dessa forma, exceto nos
locais que as pessoas frequentem esporadicamente. Só falta mesmo o governo
pedir caixinha aos usuários, por exemplo, do SUS. Seria o máximo. Mas não nos
esqueçamos de que neste país tudo é possível, inclusive nada. Nada acontece com
quem nos rouba e quem nos assalta, quem nos violenta. Nada. Mas, pra final de
prosa, a grande “caixinha” é a da corrupção que assola o país. Dessa a gente
participa querendo ou não, porque ela acontece independente de natal. E a gente
que se “exploda”...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 19/12/2012
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