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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CAIXINHA DE NATAL





Por Carlos Sena (*)

Caixinha de Natal. Na padaria, caixinha de natal. No boteco da esquina, caixinha de Natal. No restaurante, caixinha de Natal. No prédio onde moramos, no lava-jato, no salão de beleza, tudo tem caixinha de Natal. Essa moda pegou e o que é pior: a gente termina “contribuindo” com aquelas caixinha que se relacionam diretamente conosco como a CAIXINHA DOS FUNCIONÁRIOS DO CONDOMÍNIO. Tudo bem que dá quem quer. Mas a gente nem sempre dá só querendo e, nalgumas vezes dá sem querer pelas circunstâncias.

Essas caixinhas são muito cínicas. Porque elas não falam e ainda a gente lhe ouve e lhe atende ao pedido. Por que não “bolsinho de natal” – a rigor, essas caixinhas são dissimuladas e utilizam o natal para se passarem por boazinhas. O ano todo “as caixinhas” nem nos aparecem. Nem sempre o porteiro do nosso prédio é atencioso; nem sempre são discretos e, geralmente, comentam a vida dos condôminos na forma que eles acham que seja, etc. Independente, caixinha é produto legítimo do capitalismo que se utiliza do afeto, das datas comemorativas para nos “ferrar”. A gente sabe que o mundo está assim, mas não podemos colaborar com esse agravamento. As relações sociais todas estão calcadas no interesse financeiro e, inclusive, as afetivas entre homem e mulher e derivados. Há exceções, mas são tão poucas que a gente fica se perguntando “pra onde vamos” com esse tipo de “compra e venda” dos nossos sentimentos. Caixinha de Natal, nos condomínios, funciona um pouco como os flanelinhas que nos enchem a paciência, dizem tomar conta do nosso carro e se a gente não lhes pagar, corre o risco de ter o automóvel danificado. No prédio os funcionários sabem quem deu mais caixinha ou menos e, não raro, agem com mais ou menos responsabilidade dependendo disso. Pode ser quem não seja literalmente assim, mas a linha geral dessas caixinhas a isso conduz.

Voltando ao “dá quem quer”, acho que tudo certo. Só quem os donos das caixinhas não veem dessa forma, exceto nos locais que as pessoas frequentem esporadicamente. Só falta mesmo o governo pedir caixinha aos usuários, por exemplo, do SUS. Seria o máximo. Mas não nos esqueçamos de que neste país tudo é possível, inclusive nada. Nada acontece com quem nos rouba e quem nos assalta, quem nos violenta. Nada. Mas, pra final de prosa, a grande “caixinha” é a da corrupção que assola o país. Dessa a gente participa querendo ou não, porque ela acontece independente de natal. E a gente que se “exploda”...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 19/12/2012

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