Por José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Estive nestes últimos dias na boa praia Perua Preta em Tamandaré, para
descansar o juízo, que anda muito carregado. Lá caminhando sob o sol frio da
manhã, descansa a mente, não na sua totalidade, pois os pensamentos mesmo
distantes perambulam. Participando a noite da Santa Missa na bela Igreja Matriz
de São Pedro, do amigo Padre Arlindo, conhecido desde que ele era Coroinha, ele comentou em sua homilia uma verdade que
nós ignoramos - “que todos nós amamos mais o inimigo do que o amigo”, pois este
desafeto não sai do nosso pensamento, dia e noite, e isto incomoda a nossa
vida, pois sempre teremos aquele rancor no coração, se não houver o perdão para
florescer o amor, nada adianta. A vida é bela e necessitamos vivenciar esta
beleza que Deus nos concedeu.
“Contou - Aconteceu a bastante tempo, quando tinha 16 anos, morando no
bairro do Rio Doce / Olinda. Numa certa manhã, seu irmão, mandou que ele
levasse um rádio na oficina de Seu Luis, a mais ou menos cinquenta metros de
sua residência para ser instalado. Entregou o rádio às nove horas da manhã, e o
Seu Luis prometendo entregar o carro às quatro horas da tarde. Até ai, tudo
bem. Às quatro horas da tarde, voltou para apanhar o carro e como não encontrou
nem o carro e nem seu Luis, resolveu esperar, sentado em frente à oficina. Por
volta da cinco e meia da tarde, vinha da praia e bêbado, dirigindo o seu carro sem
autorização e sem a instalação do rádio. Desceu cambaleando abriu a oficina
para apanhar algum objeto. Pedi ao Seu Luiz o rádio, que se encontrava na mesa
ainda com invólucro vindo da loja, pois não queria que ele fizesse o serviço.
Seu Luis no auge de sua cachaça se negou a entregar-lhe e ele sentou no capu do
carro e disse – só saio daqui quando o Senhor me der o rádio. Foi aquela
contenda. Seu Luis queria que eu descesse e eu não queria. Acalorada a
discussão foi criada e nesta ocasião seu Luis me deu murro que eu cai do outro
lado. Uma hematoma foi gerada em meu rosto. O ódio subiu na minha cabeça e como
não podia enfrenta-lo, por trata-se de um sujeito com os seus um metro noventa
e cinco de altura fiquei amuado sentado no meio fio. Tudo que não prestava
apresentou-se em minha mente. Desejava mata-lo, se assim o fosse. Voltei para
casa esmurrado e choramingando de raiva. Ai começou crescer o ódio no meu
coração. Não pensava em outra coisa, a não ser em Seu Luis. Neste tempo
frequentava a Matriz de São Francisco de Assis, participando da celebração da
Santa Missa como coroinha e participava do Encontro de Jovens, e tinha que
passar em frente à oficina do Seu Luis. Evitava. Muitas das vezes, quando via a
oficina aberta, desviava de caminho somente para não ver a cara daquele sujeito
barbudo. A raiva, o rancor aflorava em meu coração. Não tinha. mais sossego na
vida. Pensava a cada instante no seu Luiz. Ia-se a padaria comprar o pão, lá
estava o Seu Luis; se ia comprar carne no açougue, lá estava seu Luis; se ia a
feira comprar tomate, batata doce, laranja, cenoura e cebola, lá estava o Seu
Luiz; se pegava o ônibus lá estava o Seu Luis; se ia para escola, pensava em
Seu Luis; almoçando o jantando o meu pensamento era para Seu Luis e se ia
dormir sonhava com Seu Luiz. Era um inferno. Vejam vocês meus queridos irmãos e irmãs como
era ruim esta minha vida. Não pensava em outra coisa se não fosse na figura do
Seu Luiz. Carreguei por muito e muito anos esta rancor que tinha no coração.
Desejava tudo acontecesse ao seu Luiz. Uma doença grave, uma atropelamento, um
assalto seguido de morte, tudo que era de ruim desejava que acontecesse com o Seu
Luiz. Aquele rancor já esta me prejudicando na minha adolescência. Não podia
continuar com este rancor, haja vista, que a minha vocação para o sacerdócio
não comungava com esta atitude, mantendo esta raiva que nutria em mim. Era um
desafio afastar de mim este acontecimento que acontecera há anos. Certo
dia resolvi tomar a atitude de perdoar o Seu Luis. Sabia que era difícil, mas a
raiva que tinha já estava passando. Não podia nutrir este sentimento, pois já
me preparava pra ingressar no Seminário. Ao me levantar, em uma manhã ensolarada,
tomei a decisão é hoje que eu falo com o Seu Luis dizendo para ele que eu
estava perdoando e que apagasse aquele fato de sua vida. Foi tiro e queda. Ao
chegar à oficina, Seu Luis ficou espantando. Olhei para ele e disse – me dê um
abraço e vamos esquecer o que aconteceu – foi um abraço sincero, que emocionou seu
Luiz que choramingou e ajoelhando-se pediu perdão por aquele desgraçado dia. Ficamos
“amigos e aquele rancor saiu dos nossos corações e com isto a VIDA tornou-se
BELA”.
Sai da Igreja pensando e
refletindo comigo mesmo este relato. Não é uma verdade? Quando não simpatizamos
com alguém, quando as desavenças ocorrem conosco passamos a nutrir uma
insatisfação em nossa vida, tornando-a incomoda e sem sossego. Portanto,
aprendemos a PERDOAR, pois assim a vida torna-se MAIS BELA.
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