Por Carlos Sena (*)
Hoje, talvez movido pelo “auê” da
passagem de ano velho para o novo, fiquei pensando na magia que é o tempo.
Coisas tipo: faz quase três séculos depois de cristo que o tempo se veza e
reveza, veza e reveza nos paginando e repaginando, transformando-nos em sonhos
ou em meras lembranças que com uma ou duas gerações depois da nossa morte, já
ninguém nos lembrará, exceto alguns poucos gênios da humanidade. Como dizia
Ziraldo, “livre pensar é só pensar” e é um pouco disso que tergiverso nessa
tentativa de compreender melhor essa nossa “escravidão” do tempo. Acho mesmo
que muitos nem se preocupam com a morte por ser ela curta e grossa, quero
dizer, não manda recado – vem e leva quem quiser no tempo que desejar. E nós?
Medo da morte certamente que se tem, posto que nossa natureza tem horror ao
desconhecido. Imagino, pois, que driblar o tempo seja mais importante pra muita
gente, o que talvez justifique o exagerado culto ao corpo procedido em nossa
civilização. Mesmo ele (o corpo) também não se contempla em si, porque chega um
momento que ele se entrega mesmo que a gente não queira, mesmo que a “plástica”
ainda sirva e com ela o Botox, a
ginástica e quem mais existir pra driblar o tempo. Há lei na gravidade ou a
gravidade é que é a lei? Que nos responda quem a descobriu, quem sabe não foi a
puta que não pariu?
Nesse vai e vem de conceitos e
pontos de vistas, entendo que haja um componente mais de ponto do que de vista:
o ponto do amor. O tempo pode até ser medido por anos, por castanhas de cajus
como faziam os índios; ou pelo calendário Juliano, Maia, Asteca, sei lá
bisteca... Explico: há pessoas que passam pela vida sem amores. Não porque não
tivessem pretendentes, mas porque exageraram na “cota” de sua autoestima e,
assim, dando uma de “C” doce terminaram ficando na “peça” no caritó, como se
diz no meu Pernambuco. Talvez até mesmo porque quiseram ficar sozinhos ou
sozinhas por opção, ou porque erraram no calculo do romantismo ou do
platonismo. Há casos assim de mulheres lindas que, diante da primeira decepção
de amor, viraram freira, qual o casulo que vira borboleta. Independente, o mais
importante é marcar o tempo e a vida com o amor. Amor no lugar dos “cajus” dos
índios, no lugar do calendário Juliano ou Gregoriano (nem sei se existe) ou lá
seja qualquer, mas tem que ser amor. Trocando em miúdos, somar amores é a
melhor forma de ser jovem, ser velho, ser ancião. Se você hoje estiver sozinho
ou acompanhado, também pode fazer essa introspecção acerca do que seja somar os
seus amores. Não precisa avaliar se foram bons ou não, se foram amor ou sexo ou
apenas amizade. O amor nem sempre mostra a cara e nem sempre a gente tem
competência para saber, a rigor, onde ele nos fisgou. Elizabeth Taylor segundo
dizem teve quase uma dezena de amores – vejam que mulher feliz, a despeito do
tempo que impôs os rigores da “lei da gravidade”! Tudo faz crer e a mídia
noticia ser ela de alto astral e desenvolve um trabalho social de vulto na sua
terra.
No refugar desse meu pensar, me
penso por dento: já tive em torno de dez relacionamentos e, qual a Taylor sou
muito feliz e conto o meu tempo de vida por eles. Algo mais ou menos assim:
comecei namorar com 23. Meu primeiro namoro sério foi com “A” que durou dez
anos. Depois com “B” que durou cinco anos; depois com “C-D-E-F”, etc. senão
chego nas letras todas do alfabeto. Porque assim, ao contar nossos amores a
gente se conta e se encanta com tudo que o amor nos proporcionou e nos marcou.
Portanto, a gente não se preocupa com a lei da gravidade, porque daqui, enfim,
ninguém escapa com vida. Se a morte é certa, o amor sendo a mais incerta das
coisas é o limite da nossa eternidade. Ame - essa é a Lei. Esqueça sua idade.
Se for jovem não se grile em namorar uma pessoa mais velha e vice versa ou mais
versa do que vice. Se quiser iludir o tempo com plástica ou Botox ou
semelhantes, faça. Mas o tempo ignora isto e você pode um belo dia, se dar BOM
DIA NO ESPELHO pensando que você é outra pessoa. Então é melhor ser o que se é
porque a ventura da vida é torná-la uma permanente aventura a dois, ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 04/01/2013
Bom demais! Ameno e deliciosamente real, dá até pra 'brincar' com o tempo da morte. Amei!
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