Por Zezinho de Caetés
Eu, como quase todo brasileiro, sou católico apostólico
romano, principalmente, porque minha família, vinda de Portugal e com sangue
espanhol o era, e até tentou que eu fosse mais religioso do que o sou. Mas, foi
em vão.
Entretanto, pegou-nos durante o carnaval (a mim depois, pois
não acompanhei o mundo durante esta período, a não ser que se chame de mundo as
troças de Olinda) a notícia de que o Papa renunciaria com data e hora marcada.
Coisas mesmo da Igreja. Teremos mais um mês para curtir a renúncia do Papa,
quando ainda ele ainda é Papa.
Eu penso que isto, se não fosse dentro dos padrões
religiosos do Vaticano seria um verdadeiro terror. Não só os padrões religiosos,
mas, a pequena influência que este estado tem na economia mundial, a não ser na
bolsa de alguns fiéis mais caridosos.
Já imaginaram, se o Obama dissesse que iria renunciar daqui
a 30 dias? Seria um perigo para o mundo. Ou, melhor, já pensaram se o Renan
declarasse da cadeira da presidência do Senado que iria renunciar no dia 31 de
março? Haveria dois meses de carnaval no Brasil, com desfiles de escola de
samba e tudo. Ambas as hipóteses dificilmente serão verificadas, por vários
motivos.
Transcrevo, abaixo, um texto do Elio Gaspari que vi no dia
12/02/2013 no Globo, onde ele mostra, com sua erudição jornalística, as firulas
que podem existir no próximo conclave que elegerá o novo Papa.
Eu não esqueço o que li da colega e amiga Lucinha Peixoto (aqui)
onde ela, inteligentemente, associou a renúncia do Papa com o mensalão. Talvez,
a hipótese dela, que pode se tomar como mais uma de suas jocosidades, não seja
não descabida assim. Hoje o meu conterrâneo Lula tem um influência mundial e
por que não pode ter influenciado o Bento XVI em sua decisão?
Vejam que o importante e inusitado do fato é a renúncia e
não a substituição do Papa que já tivemos muitos durante o tempo recente. A
renúncia já é diferente. A alegação da doença pode ser verdade, mas, não seria
motivo de renúncia, a não ser num caso extremo de completa incapacidade, o que
não parece o caso.
Então, deve ter caroço maior no meio do angu papal. A
influência da Igreja é enorme e há forças de todos os lados tentando mandar.
Ora, se para substituir o Sarney houve aquela quizumba toda, e ele, só é papa
no Maranhão, imaginem lá em Roma. A meu ver a hipótese mais provável é de que o
Bento XVI quer sim influir na escolha do seu sucessor. Mesmo que não seja a
versão da Lucinha a correta.
Todos dirão que ele ficará trancado rezando, mas, mesmo
assim ele estará rezando para que seja um conservador como ele, seu substituto,
o que para mim é muito bom.
E aí corre na frente da disputa o cardeal de São Paulo, o
Odilo Sherer, que parece não gostar muito de padre de passeata, pois não se
bica com a CNBB. Vamos esperar o grande conclave e que vença o melhor, com a
ajuda de Deus.
Fiquem com o texto do Elio Gaspari, lendo e rezando para que
Deus ilumine os cardeais durante o conclave. E rezem muito e com fé, temos que ultrapassar
as rezas do Leonardo Boff, e, quem sabe, do Lula.
“Tudo o que se pode esperar da escolha do sucessor de Bento XVI é o fim
de um Vaticano eurocêntrico. Desde que Karol Wojtyla tornou-se João Paulo II, a
Europa é o centro das atenções da Cúria. O Papa polonês cumpriu uma fenomenal
missão histórica ajudando a desmontar décadas de tolerância com as ditaduras
comunistas.
Seu sucessor teve um pontificado medíocre enrolado pela tolerância com
escândalos sexuais e financeiros de sacerdotes. Um deles passou de raspão pelo
Brasil, num trambique do namorado da atriz Anne Hathaway, sócio do sobrinho do
atual decano do Colégio de Cardeais, o poderoso ex-secretário de Estado Angelo
Sodano. A moça micou em US$ 135 mil e o rapaz foi preso nos Estados Unidos.
As dificuldades do Vaticano com suas finanças são antigas. Foi Pio IX
quem avisou: “Posso ser infalível, mas estou falido.” Já os desempenhos sexuais
de alguns sacerdotes, mesmo sendo coisa antiga, tornaram-se uma encrenca
recente, com a qual João Paulo II e Bento XVI nunca conseguiram lidar direito,
envenenando a missão pastoral de dioceses europeias e americanas.
O eurocentrismo da Cúria Romana refletiu-se no Brasil. Durante o
pontificado de Paulo VI, Pindorama passou de dois para oito cardeais. Hoje tem
cinco. Bento XVI deixou sem o barrete cardinalício as arquidioceses do Rio e de
Brasília. Porto Alegre teve cardeal e está sem. Recife, a primeira sé
cardinalícia brasileira, está na segunda divisão desde os anos 60, quando a
ditadura hostilizava D. Helder Câmara e não queria vê-lo cardeal.
Se foi econômico com os barretes brasileiros, Bento XVI foi generoso
aspergindo-os pela Europa. Elevou a diocese de Valencia (800 mil habitantes),
na Espanha, mas não confirmou o barrete de Porto Alegre (1,5 milhão de
habitantes).
Quem especular o nome do sucessor de Ratzinger pode jogar cara ou
coroa. Nos seis últimos conclaves elegeram-se três favoritos (Ratzinger, Paulo
VI e Pio XII) e três azarões (João Paulo II, João Paulo I e João XXIII, um
gorducho que mal cabia nas vestes preparadas pelos alfaiates que trabalharam
durante o conclave.)
Pode-se esperar que, depois de um Papa saído da academia de teólogos e
da burocracia de Roma, venha um pastor, como os dois João Paulo e João XXIII.
Um administrador de diocese do Terceiro Mundo uniria o útil ao agradável.
É assim que entra nas listas, com um sopro romano, o cardeal de São
Paulo, D. Odilo Scherer, pastor de uma das maiores arquidioceses do mundo.
Aos 63 anos, teria um longo pontificado. Ele tem uma característica
anfíbia. É brasileiro, mas, como quatro outros cardeais brasileiros (Claudio
Hummes, Paulo Evaristo Arns, Aloisio Lorscheider e Vicente Scherer, seu parente
distante), descende da imigração alemã. A mola mestra da eleição dos dois
últimos papas foi a capacidade de articulação da hierarquia alemã.
D. Odilo lidera a facção conservadora do clero brasileiro, derrotada na
última eleição da CNBB e nas eleições gerais em que se meteu. Para consumo
mundial, preenche o requisito de um Papa do Terceiro Mundo, condição só
superável pela escolha de um africano como Francis Arinze, de Lagos. Mais que
africano, Arinze tem 80 anos e passou 25 em Roma. Seria um Papa de transição.
Com uma eleição marcada para o fim de março e um Papa vivo, vem aí um
conclave inesquecível.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário