Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Na noite do crime, mais um, na vida foi levado a Delegacia
para ser autuado em flagrante delito. Não se fez de rogado e disse – Não estou
arrependido. Mato qualquer um que venha com estas insinuações. Não tenho medo
de morrer, pois a gente nasce e morre agora ou daqui alguns anos, não me
importa – assinou o termo de ocorrência do interrogatório. Foi encarcerado no pavilhão D. A noticia
deste assassinato correu por todo Complexo Penitenciário. Os detentos que
estavam na cela, o reconheceram. - Valeu bicho, aqui se você não der uma de
homem, mesmo, a turma te enraba. Sentou-se
no canto da cela, onde estavam quatro detentos – Olho Verde, um galego de olhos
verdes e sardento de estatura mediana, preso por assassinar um colega em mesa
de bar que o chamou de “corno manso”, soltando piada; Jacaré um preto de branco
somente os enormes dentes e a palma da mão, musculoso com os seus um metro e
oitenta de olhar frio, preso por traficância de maconha, fora apanhado com 50
quilos da erva para distribuição na cidade; Relâmpago, ágil e rápido no manejo
de armas não vacilava em usar a arma nos assaltos; Galego de olhos claros e
cabelos lisos louro, parecendo um artista de cinema. Dois anéis nos dedos, um
ostentando uma “caveira” de riso aterrador, no braço esquerdo uma tatuagem de
uma “mulher” de biquíni, preso por assalto à mão armada; Joviano, um moreno
vindo do interior do Estado para trabalhar na Capital, caiu na conversa com
amigos, pois, estava sem dinheiro, e partiu para assaltar uma agencia bancaria.
Fora preso durante o assalto quando o carro enguiçou. Entregou-se para não
morrer. Mas vou sair deste inferno. Assim Miudinho tomou conhecimento dos seus
novos companheiros de cela, também se apresentando como Assaltante de Banco. Deu-se
a conhecer. Um com medo do outro evitava conversar com detalhes de sua vida. Dormiam
com olhos abertos. Um temia o outro. Nada de brincadeiras. A higienização da
cela era compartilhada, todos os dias dois ficavam responsáveis. Na hora do
banho de sol, se isolava. Não gostava de muita conversa, pois, conversa vai e
conversa vem, trás aborrecimentos e intrigas. Os dias e as noites se passavam
sem nenhuma novidade. Os dias na prisão é um tormento, nada a fazer. E a noite
o silencio era terrível. Em horas incertas ouviam-se passos pelo corredor dos
agentes penitenciário, na ronda. Olhava tudo, muitas das vezes com a luz da
lanterna em suas mãos vasculhando a cela. Trancafiado em uma cela guardada por
uma grade de ferro fechado com um cadeado atormentava todos. O calor era
insuportável. O suor entrava pelas narinas causando mal estar, espirros eram
ouvidos. Somente saia quando das refeições e, assim mesmo por pavilhões. Em
fila indiana apresentando um caneco para suco, quando tinha, e um prato onde
era colocada uma refeição precaríssima. Muitos não comiam toda refeição
servida. Deixavam. Outros apanhavam o resto e comiam para não morrer de fome. As
intrigas e os desafetos são constantes. Somente um olhar basta para atrair
desconfiança. No domingo de visitação dos familiares apresentou-se um advogado,
que em conversa ficou de defender, pois ia alegar a “defesa da honra” e com
isto com certeza o Juiz assinaria o termo de “habeas corpus” e ele responderia
o processo em liberdade, mais tinha um custo. Acertaram o valor e que alguém ia
o procurar para dar o adiantamento de oito mil cruzeiros. Assim ficou
combinado. O trato foi realizado, porem não cumprido pelo advogado que
desapareceu sem dar nenhuma noticia. Dois meses se passaram. Alguém fora lhe
visitar, um amigo, e ele, Miudinho, ordenou-lhe que fosse até a casa do
advogado “lhe lembrar de que ele continuava preso, e sem nenhuma resposta, pois
tinha lhe adiantado o valor pedido e até agora nada” desce um aviso a Ele o
advogado. E, assim foi feito. O emissário não encontrou o advogado em sua
residência, somente a sua mulher e deixou um recado “avisa ao Doutor, que
Miudinho esta lhe esperando para acertar as contas, caso contrario, nós sabemos
de todo itinerário de vocês, principalmente do seu filho que estuda em colégio
tal. Tá dado o aviso”. Três dias depois,
o Advogado apareceu na penitenciaria, com pasta na mão. Apresentou-se nervoso.
Informou que tinha dado entrada no Juizado e que aguardava solução. Depois de
três meses, nada? Mais uma semana chegou à soltura e ele se mandou.... Para
onde? Ninguém sabe.
(complemento da narração no inicio do ano 90 em mesa de bar
por trás do cinema São Luis)
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