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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

MIUDINHO (2)





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Na noite do crime, mais um, na vida foi levado a Delegacia para ser autuado em flagrante delito. Não se fez de rogado e disse – Não estou arrependido. Mato qualquer um que venha com estas insinuações. Não tenho medo de morrer, pois a gente nasce e morre agora ou daqui alguns anos, não me importa – assinou o termo de ocorrência do interrogatório.  Foi encarcerado no pavilhão D. A noticia deste assassinato correu por todo Complexo Penitenciário. Os detentos que estavam na cela, o reconheceram. - Valeu bicho, aqui se você não der uma de homem, mesmo, a turma te enraba. Sentou-se no canto da cela, onde estavam quatro detentos – Olho Verde, um galego de olhos verdes e sardento de estatura mediana, preso por assassinar um colega em mesa de bar que o chamou de “corno manso”, soltando piada; Jacaré um preto de branco somente os enormes dentes e a palma da mão, musculoso com os seus um metro e oitenta de olhar frio, preso por traficância de maconha, fora apanhado com 50 quilos da erva para distribuição na cidade; Relâmpago, ágil e rápido no manejo de armas não vacilava em usar a arma nos assaltos; Galego de olhos claros e cabelos lisos louro, parecendo um artista de cinema. Dois anéis nos dedos, um ostentando uma “caveira” de riso aterrador, no braço esquerdo uma tatuagem de uma “mulher” de biquíni, preso por assalto à mão armada; Joviano, um moreno vindo do interior do Estado para trabalhar na Capital, caiu na conversa com amigos, pois, estava sem dinheiro, e partiu para assaltar uma agencia bancaria. Fora preso durante o assalto quando o carro enguiçou. Entregou-se para não morrer. Mas vou sair deste inferno. Assim Miudinho tomou conhecimento dos seus novos companheiros de cela, também se apresentando como Assaltante de Banco. Deu-se a conhecer. Um com medo do outro evitava conversar com detalhes de sua vida. Dormiam com olhos abertos. Um temia o outro. Nada de brincadeiras. A higienização da cela era compartilhada, todos os dias dois ficavam responsáveis. Na hora do banho de sol, se isolava. Não gostava de muita conversa, pois, conversa vai e conversa vem, trás aborrecimentos e intrigas. Os dias e as noites se passavam sem nenhuma novidade. Os dias na prisão é um tormento, nada a fazer. E a noite o silencio era terrível. Em horas incertas ouviam-se passos pelo corredor dos agentes penitenciário, na ronda. Olhava tudo, muitas das vezes com a luz da lanterna em suas mãos vasculhando a cela. Trancafiado em uma cela guardada por uma grade de ferro fechado com um cadeado atormentava todos. O calor era insuportável. O suor entrava pelas narinas causando mal estar, espirros eram ouvidos. Somente saia quando das refeições e, assim mesmo por pavilhões. Em fila indiana apresentando um caneco para suco, quando tinha, e um prato onde era colocada uma refeição precaríssima. Muitos não comiam toda refeição servida. Deixavam. Outros apanhavam o resto e comiam para não morrer de fome. As intrigas e os desafetos são constantes. Somente um olhar basta para atrair desconfiança. No domingo de visitação dos familiares apresentou-se um advogado, que em conversa ficou de defender, pois ia alegar a “defesa da honra” e com isto com certeza o Juiz assinaria o termo de “habeas corpus” e ele responderia o processo em liberdade, mais tinha um custo. Acertaram o valor e que alguém ia o procurar para dar o adiantamento de oito mil cruzeiros. Assim ficou combinado. O trato foi realizado, porem não cumprido pelo advogado que desapareceu sem dar nenhuma noticia. Dois meses se passaram. Alguém fora lhe visitar, um amigo, e ele, Miudinho, ordenou-lhe que fosse até a casa do advogado “lhe lembrar de que ele continuava preso, e sem nenhuma resposta, pois tinha lhe adiantado o valor pedido e até agora nada” desce um aviso a Ele o advogado. E, assim foi feito. O emissário não encontrou o advogado em sua residência, somente a sua mulher e deixou um recado “avisa ao Doutor, que Miudinho esta lhe esperando para acertar as contas, caso contrario, nós sabemos de todo itinerário de vocês, principalmente do seu filho que estuda em colégio tal. Tá dado o aviso”.  Três dias depois, o Advogado apareceu na penitenciaria, com pasta na mão. Apresentou-se nervoso. Informou que tinha dado entrada no Juizado e que aguardava solução. Depois de três meses, nada? Mais uma semana chegou à soltura e ele se mandou.... Para onde? Ninguém sabe.

(complemento da narração no inicio do ano 90 em mesa de bar por trás do cinema São Luis)

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