Por Zezinho de Caetés
Mais uma vez encontro um sulista falando da seca do
Nordeste. E o primeiro não foi o D. Pedro II, com certeza. E o pior de tudo, é
que parece que eles a veem com mais isenção do que nós.
Vivemos muitas vezes numa situação de auto-louvação,
principalmente, quando chega o carnaval, onde nossos problemas parecem sumir. E
eles não sumirão enquanto a água não aparecer para que a região tenha um
sustento permanente.
Eu nunca fui a favor da tal de transposição do Rio São
Francisco, por vários motivos, sendo o principal, seu teor explosivo para
propaganda política em detrimento de soluções mais simples e mais baratas. E é
desta transposição basicamente do que trata o Elio Gaspari no texto abaixo,
publicado no Blog do Noblat, com o título: “Governos espetaculares fazem espetáculos”.
Ele junta a vergonha que é a obra de transposição do Rio São
Francisco que entra governo e sai governo e a obra permanece, como diz ele, sem
produzir um “copo d’água” sequer para
o sertanejo sofredor, com a crítica aos gastos de propaganda de todas as
esferas de governo.
O caso emblemático é o do Cid Gomes, em cujo governo,
redistribuiu a renda do nordesta, mais do que qualquer política da antiga e
morta SUDENE, em direção da Bahia, contratando a Ivete Sangalo. Mas, a seca
continua por lá e cada dia pior.
O que mais me impressiona é que o Cid Gomes é do PSB, o
mesmo partido do nosso governador, que, mesmo não precisando até agora da ajuda
dos artistas bahianos para fazer o povo dançar, não deixa de ser um
propagandista contumaz do próprio governo. Tudo se passa como se houvesse uma
competição para venda de um produto corriqueiro em qualquer mercado.
A existência dos chamados “marqueteiros” é o cancro da política moderna, onde, cada dia mais
os fins estão justificando os meios, e os fins não são “matar” a sede do nordestino, e sim, continuar no poder.
E a vida continua boa para todos que se locupletam dos
recursos públicos e os desviam de suas finalidades. E cada dia mais, com o
aumento do tamanho do estado, aumentando sua inoperância ao enfrentar problemas
como a seca, que em pleno século XXI, ainda clama pela venda das joias da
coroa, para acabá-la. Só que a coroa que resta é a presidenta.
Fiquem com o Gaspari, que eu vou tomar meu copo d’água antes
que alguém sugira levar o Rio Capibaribe para o sertão.
“Desde o ano passado, o semiárido nordestino atravessa uma grave seca.
Na Bahia, em Sergipe, Alagoas e no Maranhão, 75% dos municípios estão em estado
de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram
em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros
contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de
um milhão de pessoas. Em algumas cidades, as escolas dependem do socorro de
vizinhos.
Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para
enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se
agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.
A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto
que a Secom botou nas televisões da região. Nele, Chambinho do Acordeon, feliz
e sorridente, anda pela caatinga informando que “a seca sempre vai existir, mas
o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela”. Cantando louvores aos
investimentos feitos pelo governo, informa que “o sertanejo é um cabra forte,
só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais”.
Os sertanejos que estão sem o
abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é
água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para
falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar,
ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela
pagaria.
Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de
José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos
tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: “O sofrimento do
povo nordestino só vai acabar no dia em que a gente tiver políticas de
investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas, o PT tem”.
Qual era? “O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e
prometeu transpor as águas do Rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer
um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para
ganhar voto”.
Em 2003, eleito, Lula prometeu: “Nesses quatro anos, 24 horas por dia
serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do
Rio São Francisco”. Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois, e depois
de dez anos o “copo de água” ainda não apareceu.
A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos
criou um novo estilo de administração e, nele, o governador do Ceará, Cid
Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado,
a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de
convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Placido Domingo. A tertúlia custou
R$ 3,1 milhões e alegrou três mil convidados.
Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro
passado, ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar
a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço
político de sua família desde a proclamação da República.
Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia
funcionários. Até hoje, ele funciona como posto de saúde, só com consultas e
raios X. Hospital mesmo, só em maio.
Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em
propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows
quanto tiver serviço para entregar.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário