Por Carlos Sena (*)
Você diz que sou um chato. Eu
fico triste e acho que, de fato, chato
sou. Chato é um estado de quem não é. Chato é quem você pergunta “como vai e a
pessoa diz”. Então você tem que ser chato pra barrar a pessoa e fazê-la deixar
de dizer “como vai” senão você não suportará tanta chatice. Chato é você dar
bom dia no elevador e não ter resposta de ninguém, principalmente quando só tem
uma pessoa dentro dele. Chato é coisa de chato, mas é coisa de quem não se acha
assim mesmo sendo. Chato não é a coceira que o bichinho faz no entreperna. O
bichinho chamado chato terá se inspirado em nós, humanos, ou o contrário? Não
importa, a chatice é filha pródiga do nosso egocentrismo que se alimenta de uma
suposta modernidade para ser exagerado em tudo, inclusive na inconveniência que
produz o chato. Há quem diga que chato não é a chatice que o chato faz, mas o
que ele, o chato, pode proporcionar. Muitas vezes o chato beira a idiotice,
mesmo sabendo que a idiotice contém o chato sem obrigação de a ordem ser
subvertida. Assim, enquanto houver chato haverá galocha. Chato de galocha, quem
já não se expressou assim? Pois é. Acho mesmo que a galocha não merece o chato,
mas todo ele gosta de galocha porque ela, sendo de borracha parece que o isola
dos choques que ele leva com a insatisfação das suas vitimas.
Portanto, se você tiver dúvidas
de sua chatice, é só testar: se alguém te perguntar como você vai e você
disser, você é um chato de galocha. Pronto. Essa é a regra geral, mas você pode
ter a sua em particular, porque há momentos na vida que até ler sobre o chato
se torna chato.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 26/12/2012
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