Por Zezinho de Caetés
Eu não posso dizer que só fui assistir ao filme ‘Lincoln’, porque
li o texto do Senador pernambucano, por Brasília, Cristovam Buarque, publicado
no Blog do Noblat em 04.02.2013, tendo como título “‘Lincoln’, o filme de Steven Spieberg”. Foi apenas pura coincidência
que eu o lesse no mesmo dia em que me desloquei para um cinema próximo e
assisti à bela peça cinematográfica. E aqui não me deterei nos aspectos
cinematográficos em si, pois o Oscar vem por aí.
Já faz algum tempo, e não me perguntem onde, eu vi um texto
tentando relacionar o comportamento político do evento narrado com o mensalão.
Nele o seu autor tentava até, pasmem, justificar o crime cometido e já julgado
e condenado pelo STF, pelo que se passou nos Estados Unidos em 1865. O texto
abaixo do senador também faz uma comparação, mais sutil, e com o cuidado de não
justificar crimes de lesa pátria com pecadilhos que existiram nas negociações
para aprovar a emenda à constituição americana que aboliu a escravidão naquele
país.
Quando se diz que a atividade política não é para vestais,
com bons sentimentos, não que se dizer que se possa fazer tudo de ruim a partir
dela. Com bons sentimentos pode-se dizer isto apenas para mostrar que a
política é feita por homens e não por deuses, tanto lá, nos EEUU, quanto aqui.
O que vi no filme foi uma constatação deprimente, se quiser fazer comparações
no tempo, que os homens de lá prezam os valores morais e legais mais do que
aqui é feito.
Eu não sou um especialista em história americana, e nem
mesmo em história brasileira para entender tudo o que se passou naqueles dias
corridos e nervosos que o filme tenta mostrar, com maestria, ao ponto de ter de
usar toda minha capacidade de concentração para não perder um só diálogo, com
palavras profundas, até nos mais inesperados momentos.
Durante o filme, vemos de tudo, corrupção, compra de votos,
nepotismo, machismo, humanismo, sensibilidade, inteligência, mas, acima de
tudo, Política feita com P maiúsculo. E isto só foi possível porque havia uma
causa que só um homem de visão e estadista como o Lincoln poderia vislumbrar
sua importância naquela época: A abolição da escravatura.
Havia uma guerra civil no país por causa do desentendimento
em torno da escravidão negra. Ao longo do filme, diante dos horrores da guerra
o diretor nos mostra os horrores da escravidão, que para os da época era tida
como um fato natural. Ora, dizia um escravocrata, se Deus quisesse os homens
iguais os teria criado todos brancos. Uma discussão que hoje nos parece
ridícula, pois pensamos que não existem mais escravos, foi motivo para a maior
carnificina da história americana. E pensar que hoje nem raças existem mais do
ponto de vista biológico.
E o Linconl, um dos presidentes mais populares do país,
diante de um congresso desfavorável à emenda da abolição, usou de todos os
meios para que a emenda fosse aprovado, o que o foi, tornando o final do filme
simplesmente apoteótico, até que alguém dar a notícia de que o haviam assassinado.
E o filme termina neste anti-clímax cruel do ponto de vista do cinema e da
história. E com um dos parlamentares dizendo que presenciou a corrupção do
homem mais puro que ele conheceu, no evento.
Realmente não se pode deixar de fazer um paralelo com nossa
história recente, como o faz o senador, abaixo, e eu o faço de modo diferente.
Se tivermos tempo de meditar durante o filme veremos lá o
Roberto Jefferson, o Zé Dirceu, o Genoíno, o Demóstenes, o Renan, o Sarney.
Vemos até mesmo umaa Marisamais corajosa
e determinada, embora não vejamos nem a Rosemary nem o Lula. A influência da
mulher de Linconl e de sua família em suas ações é colocada no filme e não é
pequena. Mas, não podemos comparar o filho do presidente americano, pedindo
para ir para a guerra, não tendo o consentimento do pai, a pedido da mãe, com o
Lulinha recebendo dinheiro de um empresa para ajudá-lo em seus negócios, que o
fizeram um rapaz de posses, ao afastá-lo dos animais do zoológico.
Nem tampouco poderemos comparar a mesquinhez das causas
envolvidas em nossa política com a causa em questão na fita. Nem tampouco
poderemos ver qualquer atitude do Linconl para tentar simplesmente acabar com a
independência e equilíbrio entre os poderes como aquele que foi vista aqui
patrocinada, segundo a denúncia do Marcos Valério, pelo Lula, que diz de nada
saber, como se fôssemos idiotas.
Lá no filme, até o Valério é bem representado na figura de 3
pessoas encarregadas de “convencer”
os oponentes da emenda a mudarem de posição. E não conseguindo eles seu intento
com todos, o próprio presidente foi “convencê-los”
e conseguiu com um bom número. No entanto, nem o fato de dizer que não sabia
das coisas, sabendo, leva o Lula a ser comparado com o Lincoln. Por que? Pela
causa envolvida, e pela mudança tecnológica. Vemos nos filme alguém sair
correndo do Capitólio (congresso) até a Casa Branca para avisar ao presidente
de uma decisão. Hoje temos os imeios.
Alguns me perguntarão se os fins justificam os meios,
maquiavelando a política de uma vez. Esta é uma questão muito séria e que
merece ser discutida. Entretanto, para não dizer que estou fugindo da resposta,
eu diria que há uma gradação de fins o que leva a uma gradação para ética e
para a moral humana. Os valores absolutos só existem dentro de determinados
espaço e tempo, como nos ensina a história da humanidade. O que não podemos ser
é relativistas morais no nosso espaço e no nosso tempo, pois isto só nos leva
ao pior dos mundos, no futuro. Um dos eixos políticos que nos direcionam numa
república para nossa atuação é nossa Constituição e o sistema legal. Politicamente,
esta nos baliza em nosso tempo, até que mude..., mas aí já é outra discussão,
como ocorreu nos Estados Unidos com a emenda aprovada.
Mas, fiquem com o texto do Senador Cristovam e não deixem de
ver a fita. Vale a pena!
“Assisti ao filme Lincoln, no dia seguinte à eleição do novo presidente
do Senado. O centro do filme está nas articulações no Congresso norte-americano
durante os dias que antecederam a votação da emenda constitucional que aboliu a
escravidão nos EUA.
O que se percebe são os debates dentro do Congresso e a movimentação
intensa do presidente e de seus assessores para obterem os votos necessários em
uma decisão muito difícil, que aprovou a abolição por 119 a 56, na Câmara dos
Deputados, e por 38 a 6, no Senado.
Até o último momento, Lincoln não tinha os votos necessários. Foi
preciso uma articulação cuidadosa, um a um de um grupo de contrários ou
indecisos, até obter-se a maioria, durante a própria votação. Em um suspense
que em nada se parece com as votações de hoje no Congresso brasileiro, onde um
rolo compressor, sem ideologia, mas por acordos anteriores, aprova qualquer
proposta vinda do Poder Executivo.
O filme mostra a determinação e a habilidade de Lincoln. Mostra que na
democracia para conseguir votos necessários no Congresso é preciso transigir,
negociar, até mesmo oferecer vantagens para obter mudanças de lado entre
deputados e senadores. Mas uma negociação onde o Congresso demonstre sua
independência e força, mesmo com um presidente muito popular e que liderava uma
guerra civil de quatro anos.
O filme mostra duas grandes diferenças entre o que acontece nas
relações entre Executivo e Legislativo no Brasil, cujo exemplo é a eleição do
presidente do Senado. Primeiro, lá as negociações não visavam criar base
permanente, fazer alianças espúrias que servissem para implantar um
presidencialismo monárquico. Segundo, lá as negociações foram por uma causa, a
abolição da escravatura.
O que enfraquece hoje o Congresso brasileiro é a perda de causas no
exercício da arte da política. E em consequência, sem elas, a política vira um
jogo menor de artimanhas por interesses pessoais, alguns querendo o poder pelo
poder, outros querendo o poder para enriquecer com dinheiro público.
Seria interessante passar o filme Lincoln para que os senadores
assistissem e, depois, dedicassem uma sessão plenária para debater como é
bonito quando Política casa com História.”
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