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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

DF - BRÁS-ILHA





Por Carlos Sena (*)

Estou aqui no DF: Distrito Federal. Ou no GDF como também se chama - mais chama do que cala e calando consente nem sempre o que se quer. Brasilia, penso, que se quis torná-la híbrida como o Brasil, mas ficou mesmo um pouco do Brás - aquele bairro paulista - uma ilha, só que pintada com outros matizes. Assim, Brás-ilha. A sensação que nos dá é que aqui é um grande Brás disfarçado, ou um pavão que tenta esconder os pés horroros com sua plumagem bela e esplendorosa. Principalmente no quesito parecer (sendo) ou em sendo nunca parecer. O perfil das pessoas daqui é complexo e não poderia ser diferente, pois afinal aqui é um "mosaico"  tal qual o Brás que representa o país pela sua mistura nem sempre fina. Predomina o movimento linguístico e gastronômico mineiro," centroestino", de modo Geral. Aqui abunda pimenta. Melhor do que pimenta na bunda. Abunda musica sertaneja e aqui não é melhor o sertanejo na bunda. Por isto é que acho tudo isso muito fantástico pra quem vem de pernambuco - um estado de espírito que, sendo plural nos torna singulares pro resto do mundo. Sim, digo resto porque fora pernambuco tudo o mais é resto. Calma: resto na lógica da sobra, porque nem toda sobra é resto. E, como sobra, há sobra demais por aqui, como por exemplo qualidade de vida. Nem tanto assim, mas é o maior IDH do país. Por outro lado, a questão politica por aqui é uma sofreguidão. BSB é uma vitima de maus governos. Coincidência com o poder central tão perto? Talvez sim, talvez não. Brasilia é assim mesma: um eterno "talvez sim e talvez não", principalmente pra quem vem de fora trabalhar. Algo mais ou menos assim: uma pessoa é super gentil com você na rua, mas é bom você logo imaginar que "talvez sim". O contrário é igualmente verdadeiro, não nessa mesma ordem. Resultado da mistura dos povos dos diferentes estados? Pode ser, mas também pode não ser. Brasilia é meio assim: "pode ser e pode não ser". Você pode achar movimentos culturais importantes, mas eles não dizem que Brasilia é assim, cultural, como Rio, São Paulo, Recife, Salvador, etc. Nessa configuração a cidade se nos apresenta sendo o que não é, mas sempre será uma surpresa em que o que de fato seja é descoberta de cada um. Complexo? Sim. Porque é uma cidade misteriosa, sexualizada, moralista onde não deveria ser e falso moralista onde não carecia. Brasília é cheia de eixos e tesouras e subterrâneos. Túneis por aqui não faltam. A própria catedral - um dos símbolos mais bonitos daqui é cheia de estacionamentos no seu subsolo. Eu me assustei quando pude ver isso! E os mistérios? Esses estão todos no misticismo do planalto central e nas pessoas desconfiadas, arredias que pululam pelas quadras (aqui não tem rua nem beco) a qualquer hora do dia ou da noite. E a questão da sexualidade? Ora, uma cidade cheia de eixo que entra e eixo que sai é, essencialmente, sexualizada ou erotizada, melhor dizendo. As "tesourinhas" que são a confluência entre os eixos W e L mais parecem os testículos masculinos como o segmento do pênis que são as vias de acesso às quadras mais importantes. Coisas da minha cabeça? Pode ser. Mas tem lógica e muitos sabem disso, mas poucos botam no papel o que sentem por mede de serem mal interpretados. Por medo de que lhe digam: "fulano só pensa naquilo". Eu penso na-quilo e no grama. Afinal sou integrado no mundo que tem que se render às evidências de que pensar "naquilo" é, sobre muitos ângulos de visão, saúde mental.

Pois é. Trancafiado num apartamento cedido de arrego por uma grande e generosa amiga, pra romper a solidão do serrado e não me serrar feito o "serra-velho" do nordeste, escrevo. A escrita é a libertação dos escritores e dos escriDORES como eu. Há quem, generosamente, me chame de escritor, mas prefiro escriDOR, porque faço da escrita meu divã psicanalítico. Aproveito isso para fotografar sob meu ponto de vista essa cidade que termina sendo mara. Maravilhosa, mais vistosa do que mara, porque mara tá no canã, porque mara tá no pelô, porque mara tá no tambor, porque mara tá no bacalhau na vara, tá no alto e tá na sé. Tá na fé dos para quem há fé de mais e fé de menos (fede).

Pra encerrar, pois muitos devem ter desistido no meio da leitura, digo que o que mais me incomoda por aqui é o "não me toque de algumas pessoas": muitas vezes você nem chega perto de uma pessoa (uma trombada por exemplo) e elas já estão pedindo desculpas. Parece uma cantiga da perua. Agora, se você cair na rua, nem se preocupe que logo vai aparecer muita gente que, de longe nem chega perto. Exagero a parte, mas é meio assim que não funcionam as relações sociais na nossa BSB. Essas relações são categóricas, sociológicamente falando. Ademais e uma cidade que dá medo, mas dá prazer pelo que ela nos proporciona de desafios a serem vencidos todo dia. Dizem que Brasilia é uma questão objetiva: ou se ama ou se odeia. Eu, fiel a minha tradução, fico no meio.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 05/01/2013

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