Por Zé Carlos
Eu sempre lembro do meu pai. Foi um lutador. Diante de
adversidades naturais foi um leão. Criou-me, a mim e mais três irmãos com a
garra dos valentes. Dentro da escuridão, que o vitimou por quase toda sua
existência, teve um propósito maior. Dar a seus filhos luz própria e boa.
Eu, como o filho mais velho o acompanhei todo tempo. De
perto ou de longe. E até hoje parece que estou com ele, nos momentos melhores e
piores, embora, egoisticamente, gostaria sempre de estar nos melhores.
Naqueles, onde ele, com sua inteligência privilegiada, nos fazia entender que
pode existir luz dentro da escuridão, e que nem sempre esta escuridão é a treva.
Dela pode-se tirar todo o proveito da vida pelos os escapes que ela proporciona,
e ser feliz.
Nunca o chamei de papai, painho ou papito. Apenas Pai. E
penso que foi quase só isto que ele foi: Pai. Sua felicidade sempre esteve com
a dos filhos, mesmo quando, tomando umas e outras se sentia mais alegre. Sua
alegria não era felicidade. Por um filho abandonou a alegria para que ele fosse
feliz, e ele junto.
Outro motivo de sua
felicidade era sua fé, que também foi motivo de tristeza por não passá-la como
desejaria a todos os filhos. Nunca questionou a fé herdada dos seus pais e
assim queria que acontecesse com seus filhos. Nisto, foi uma vítima de seu
próprio desejo de ver os filhos estudarem mais do que ele. Eu hoje me questiono
se é possível aumentar o conhecimento sem mudanças. Pela vida do meu Pai não
sei responder, pois o seu conhecimento foi apenas o suficiente para não nos
impedir que conhecêssemos mais.
E se hoje brinco com as palavras para falar de Pai, é apenas
uma forma boa de lembrança de tantos fatos e atos que passamos juntos, para os
quais, se narrados, um livro seria pequeno para contê-los.
Hoje, também sendo pai, mas, sendo chamado de Papai, ou até
Papi (motivo de riso para meu neto), dizem que vou ganhar um presente porque é
Dia dos Pais. Fico triste ao lembrar que nunca dei um presente a Pai, neste
dia. Será que ele me perdoou por tal falta de sensibilidade filial? Não tenho
fé suficiente para sabê-lo.
O presente maior que eu gostaria de ganhar seria saber que
eu sou um pai tão bom quanto foi Pai. Agora tenho que ir receber o presente dos
filhos. Será que é um maior? Eu tenho minhas dúvidas.
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