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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MEU PAI FOI DO "MENSALÃO".





Por Carlos Sena (*)

Do “mensalão” que a imprensa tanto fala e alardeia não sei de nada. E até sei. Sei que o que a notícia vaticina  trata de um bando de politicos ladrões que, mês a mês roubava a nação brasileira pra fazer caixa dois e pagar contas de campanha de seus partidos. Pois é. O MENSALÃO que eu conheço desde criança é diferente. Aprendi com meu pai. Meu pai era servidor público Estadual que para completar sua renda trabalhava feito um doido na sua marcenaria. Ele transformava madeira em altares das igrejas nas redondezas de Bom Conselho - Papacaça. Transformava toras de madeiras em mesas e cadeiras que serviam para as famílias se reunirem em volta em almoços e jantares QUE TANTO AJUDARAM NA TRANSMISSÃO DE VALORES ÉTICOS E MORAIS. Meu pai tinha esse ofício de transformar madeira – passou a vida inteira nesse mister e nunca se permitiu a ser CARA DE PAU. Esses que a imprensa noticia são os verdadeiros CARAS DE PAU, literalmente. Talvez mais pau do que cara. Meu pai não. A única coincidência é que ele tinha o seu MENSALÃO. Mas esse “mensalão” do meu pai só me dava orgulho. Diferente desse (mensalão) que aí está para ser julgada pelo Supremo Tribunal de Justiça que, se envolvesse gente simples como o meu pai, certamente seria chamado de roubo, ladroagem, rapinagem, gatunagem, e outros adjetivos. Como se trata apenas dos medalhões da politicagem, chama-lhes apenas de “MENSALÃO”, ou seja, COLARINHOS BRANCOS. Até nisto meu pai ERA diferente: seu colarinho era encardido de tanto SUOR por tanto trabalhar. Chegavam momentos em que minha mãe lavava uma das suas roupas à noite, para no dia seguinte ele está com ela lá, limpinha, embora com o colarinho encardido.

Como se vê, a vida continua tendo seus dois lados. A minha infância foi pródiga pelo lado do trabalho dos meus pais. Minha mãe não era “mensaleira”, digo não tinha salário mensal  – ela costurava para uma clientela boa mas, que não tinha renda financeira com frequência mensal. Meu pai sim. O seu ordenado (era assim que naquela época ele se referia ao seu salário), era até menor que o mínimo, mesmo sendo servidor do Estado de Pernambuco. Mas ele juntava seu pequeno ordenado de cada mês com o que minha mãe ganhava costurando pra fora e ainda contava com um dinheirinho da sua OFICINA DE MARCENARIA. Pronto. No final do mês ele tinha um MENSALÃO. Dava pra tudo. Tinha meses que a gente se apertava um pouco, mas no geral tudo fechava no final do mês. Eram nove filhos que foram criados graças a esse MENSALÃO. Mas havia algumas vantagens: eu e meus irmãos estudávamos em escola pública de primeira linha. Não havia planos de saúde como hoje e, portanto, o posto médico estadual era quem nos servia.

Atualmente, diante do MENSALÃO da república que o STJ quer julgar eu fico triste porque ele, certamente, surrupiou dinheiro que poderiam estar na saúde e na educação. O “mensalão” de meu pai – hoje tenho essa consciência, era como se fosse o milagre de Canaã. Minha mãe ajudava nesse milagre. A marcenaria ajudava nesse milagre. Quando já formado, ajudei concretizar esse “mensalão” , pois diferente de meu pai eu consegui ser FUNCIONÁRIO PUBLICO FEDERAL e, igual a ele, meu “mensalão” conseguiu lhe dar uma vida menos atribulada junto com minha mãe e meus  irmãos. Ele, meu pai,  já não está mais conosco neste plano da vida, mas certamente está super feliz, pois de certa maneira, ele já me dava lições de como viver a vida com um MENSALÃO decente, de cara limpa, fruto do meu trabalho. Diferente desses que irão ser julgados de caras sujas, de mãos sujas. Se eles, além da cara de pau, fossem de cara de madeira, meu pai jamais conseguiria, como bom marceneiro que foi,  fazer um altar de igreja, exceto se fosse pra rezar nos cus dos Judas ou colocá-los pra satanás rezar nas profundezas dos infernos.

P.S.: Meu pai se chamava JOSÉ BARROS DE SENA, ou simplesmente Zé Barros como era mais conhecido na cidade de Bom Conselho-PE.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 31/07/2012

Um comentário:

  1. BONS TEMPOS, AQUELES DA MINHA INFÂNCIA, TAMBÉM. OS JORNAIS E REVISTAS PUBLICAVAM HORÁCIO, ASTERIX, MORTADELO & SALAMINHO E NA REVISTA CRUZEIRO TINHA O AMIGO DA ONÇA!!! HOJE É MENSALÃO EM QUADRINHOS...

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