Por Carlos Sena (*)
Em São Paulo, um casal de
moradores de rua encontra nela um pacote com vinte mil reais. Entregaram a
polícia que localizou os verdadeiros donos e devolveram a quantia achada. Virou
noticia: a Globo noticiou no seu jornal da noite e no Bom Dia Brasil. O Ratinho
levou o casal para entrevista ao vivo, enfim, eles tiveram mais que os quinze
minutos de fama. Sem entrar nas curiosidades que o fato agrega, principalmente
por se tratar de mendigos e moradores de rua, uma pergunta não nos cala neste
momento: “QUE PAÍS É ESTE”?... Pois é. Este
é o pais:
a) Do “mensalão” em que se
roubaram bilhões e, passados oito anos, agora é que vai haver julgamento que já
se sabe da sentença: (nada)
b) Do homem que, para matar a
fome dos filhos, “roubou” uma margarina do supermercado e foi preso e só não
mofou na cadeia por conta do apelo popular;
c) Da violência desenfreada por
conta da impunidade, mas nenhum poder constituído se dispõe a mudar as leis
caducas, nem mesmo o judiciário – seu principal interessado;
d) Da educação capenga em que
tudo se inventa em nome da pedagogia moderna, mas os alunos continuam passando
de ano analfabetizados ou beirando a idiotice;
e) Da saúde em que os
parlamentares se negam a aumentar seu financiamento porque estão aliados aos
grupos privados da saúde. Escondem-se em cima de argumentos pífios como o mau
gerenciamento e questões do gênero. Esquece-se que o SUS é o maior sistema
público de saúde do mundo;
f) Das “cachoeiras” e dos
"rios" de dinheiro surrupiados por parlamentares e outras
"autoridades" intermediadoras;
g) Do LEVAR VANTAGEM EM TUDO.
h) Do matar gay, índio e outras
minorias pela certeza da impunidade;
i) Do dirigir automóvel sem
carteira, embriagado e matando gente impunemente;
j) Do desrespeito aos idosos; às
vagas de estacionamento para cadeirantes e idosos;
k) Da falta de política para
menores abandonados e velhos desamparados;
l)Da Universidade que forma mal
os médicos e outros profissionais;
l) Dos FLANELINHAS nas ruas a nos
estorquir sem que ninguém faça alguma coisa;
m) Dos daputadas, dalevada,
dacompradevotos, dafaltadecompostura, dafaltadecidadania;
n)......... (Complete com sua
lista).
Do casal que entregou os vinte
mil reias aos seus legítimos donos, nos restaram essas reflexões sempre
oportunas. Restou-nos, por conseguinte, O MELHOR DA DECLARAÇÃO DESSES MENDIGOS
MORADORES DE RUA: “devolvi o dinheiro porque não era meu. Foi assim que minha
mãe me ensinou”, disse um deles na entrevista da TV. Mais nada precisava ser
dito. Mas, o que eles disseram não sabemos se calou a voz dos que vivem
deseducando nossos jovens em nome de uma educação moderna, mas que não educa,
não eleva nem congrega valores, que é se-pa-ra-ti-vis-ta, que não é libertadora.
Educação que NÃO leva os alunos a ler, escrever e depois interpretar, conforme
recomenda os conceitos ELEMENTARES de alfabetização.
Certamente que esses
"notáveis moradores de rua" não calaram a voz da grande maioria de
pais que criam os filhos como “Deus criou batatas”. Dizer em público que “não
levaram o dinheiro pra casa porque não era deles” não tem muita importância,
até porque se eles tivessem levado haveria motivos de sobras para que nós os
compreendêssemos. Afinal, o que esse país lhes fez além de condená-los ao
abandono das ruas? Será que eles (OS MENDIGOS), com essa verve educacional
forte proveniente das mães deles, não foram vitimas do Estado, mais do que
vilões? Pois é, senhores pais! Não é cafona dar limites aos filhos, porque mais
tarde a polícia poderá lhes dar. Não é démodé participar da vida dos filhos que
não pediram pra nascer, mas estão por aí pedindo pra morrer, diante da falta de
educação que vocês nunca souberam proporcionar, ou o fizeram pela metade.
Portanto, vocês, pais, que oferecem um carro ao seu filho se ele passar no
vestibular tenham juízo. O principio da educação é aquele da condução dos
filhos pra vida. Prometendo prêmios para os filhos por fazerem aquilo que seria
obrigação deles é, de certa forma, jogá-los nas raias da irracionalidade ou, no
mínimo, da precoce morte física ou
emocional dos seus "pimpolhos" - mais pimpos do que polhos...
Aos educadores, talvez coubesse
um seminário acerca dessa magnífica declaração daquele casal de moradores de
rua. Repetimos: ELES DISSERAM QUE AS SUAS MÃES LHES ENSINARAM A NÃO PEGAR NO
QUE DOS OUTROS, OU SEJA, NÃO ROUBAR.
Será que essa lição é dada também
pelas escolas?
Ou a pedagogia moderna leva tudo
isto no terreno da esportividade?
Educação é coisa séria e não é
coisa de um. TAMBÉM NÃO É COISA DE METADE. É coisa integral e de todos: pais,
escola, igreja, comunidade, estado, município, nação... Por ser coisa séria e
plural, prezados professores, se não for sua praia caia fora. Com educação não
se improvisa porque esse oficio se conjuga com amor e dedicação.
Pior é constatar que boa parte
dos que se dizem professores são picaretas.
Quem rouba consciências não merece complacência. Paicaretas há muitos.
Mas tudo pode ser mudado, dependendo do nosso voto, da fortaleza de nossa cidadania
e da responsabilidade da nação...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 10/07/2012
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