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terça-feira, 7 de agosto de 2012

MORADORES DE RUA: "mamãe me ensinou a ser honesto"...





Por Carlos Sena (*)

Em São Paulo, um casal de moradores de rua encontra nela um pacote com vinte mil reais. Entregaram a polícia que localizou os verdadeiros donos e devolveram a quantia achada. Virou noticia: a Globo noticiou no seu jornal da noite e no Bom Dia Brasil. O Ratinho levou o casal para entrevista ao vivo, enfim, eles tiveram mais que os quinze minutos de fama. Sem entrar nas curiosidades que o fato agrega, principalmente por se tratar de mendigos e moradores de rua, uma pergunta não nos cala neste momento: “QUE PAÍS É ESTE”?... Pois é. Este  é o pais:

a) Do “mensalão” em que se roubaram bilhões e, passados oito anos, agora é que vai haver julgamento que já se sabe da sentença: (nada)
b) Do homem que, para matar a fome dos filhos, “roubou” uma margarina do supermercado e foi preso e só não mofou na cadeia por conta do apelo popular;
c) Da violência desenfreada por conta da impunidade, mas nenhum poder constituído se dispõe a mudar as leis caducas, nem mesmo o judiciário – seu principal interessado;
d) Da educação capenga em que tudo se inventa em nome da pedagogia moderna, mas os alunos continuam passando de ano analfabetizados ou beirando a idiotice;
e) Da saúde em que os parlamentares se negam a aumentar seu financiamento porque estão aliados aos grupos privados da saúde. Escondem-se em cima de argumentos pífios como o mau gerenciamento e questões do gênero. Esquece-se que o SUS é o maior sistema público de saúde do mundo;
f) Das “cachoeiras” e dos "rios" de dinheiro surrupiados por parlamentares e outras "autoridades" intermediadoras;
g) Do LEVAR VANTAGEM EM TUDO.
h) Do matar gay, índio e outras minorias pela certeza da impunidade;
i) Do dirigir automóvel sem carteira, embriagado e matando gente impunemente;
j) Do desrespeito aos idosos; às vagas de estacionamento para cadeirantes e idosos;
k) Da falta de política para menores abandonados e velhos desamparados;
l)Da Universidade que forma mal os médicos e outros profissionais;
l) Dos FLANELINHAS nas ruas a nos estorquir sem que ninguém faça alguma coisa;
m) Dos daputadas, dalevada, dacompradevotos, dafaltadecompostura, dafaltadecidadania;
n)......... (Complete com sua lista).

Do casal que entregou os vinte mil reias aos seus legítimos donos, nos restaram essas reflexões sempre oportunas. Restou-nos, por conseguinte, O MELHOR DA DECLARAÇÃO DESSES MENDIGOS MORADORES DE RUA: “devolvi o dinheiro porque não era meu. Foi assim que minha mãe me ensinou”, disse um deles na entrevista da TV. Mais nada precisava ser dito. Mas, o que eles disseram não sabemos se calou a voz dos que vivem deseducando nossos jovens em nome de uma educação moderna, mas que não educa, não eleva nem congrega valores, que é se-pa-ra-ti-vis-ta, que não é libertadora. Educação que NÃO leva os alunos a ler, escrever e depois interpretar, conforme recomenda os conceitos ELEMENTARES de alfabetização.

Certamente que esses "notáveis moradores de rua" não calaram a voz da grande maioria de pais que criam os filhos como “Deus criou batatas”. Dizer em público que “não levaram o dinheiro pra casa porque não era deles” não tem muita importância, até porque se eles tivessem levado haveria motivos de sobras para que nós os compreendêssemos. Afinal, o que esse país lhes fez além de condená-los ao abandono das ruas? Será que eles (OS MENDIGOS), com essa verve educacional forte proveniente das mães deles, não foram vitimas do Estado, mais do que vilões? Pois é, senhores pais! Não é cafona dar limites aos filhos, porque mais tarde a polícia poderá lhes dar. Não é démodé participar da vida dos filhos que não pediram pra nascer, mas estão por aí pedindo pra morrer, diante da falta de educação que vocês nunca souberam proporcionar, ou o fizeram pela metade. Portanto, vocês, pais, que oferecem um carro ao seu filho se ele passar no vestibular tenham juízo. O principio da educação é aquele da condução dos filhos pra vida. Prometendo prêmios para os filhos por fazerem aquilo que seria obrigação deles é, de certa forma, jogá-los nas raias da irracionalidade ou, no mínimo,  da precoce morte física ou emocional dos seus "pimpolhos" - mais pimpos do que polhos...

Aos educadores, talvez coubesse um seminário acerca dessa magnífica declaração daquele casal de moradores de rua. Repetimos: ELES DISSERAM QUE AS SUAS MÃES LHES ENSINARAM A NÃO PEGAR NO QUE DOS OUTROS, OU SEJA, NÃO ROUBAR.

Será que essa lição é dada também pelas escolas?

Ou a pedagogia moderna leva tudo isto no terreno da esportividade?

Educação é coisa séria e não é coisa de um. TAMBÉM NÃO É COISA DE METADE. É coisa integral e de todos: pais, escola, igreja, comunidade, estado, município, nação... Por ser coisa séria e plural, prezados professores, se não for sua praia caia fora. Com educação não se improvisa porque esse oficio se conjuga com amor e dedicação.
Pior é constatar que boa parte dos que se dizem professores são picaretas.  Quem rouba consciências não merece complacência. Paicaretas há muitos. Mas tudo pode ser mudado, dependendo do nosso voto, da fortaleza de nossa cidadania e da responsabilidade da nação...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/07/2012

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