Por Carlos Sena (*)
Não acho o dia dos pais insosso.
Não há carne sem osso, não há filho sem pai, não há dor sem ai, nem se calam os
gritos da alma. Dia dos pais não é mesmo insosso, repito. É que pai tem seu
jeito e JEITO DE PAI não é visto a olhos nus. Há quem diga que JEITO DE PAI é
jeito de homem como se homem não tivesse sensibilidade, amor, paixão. JEITO DE
PAI é talvez o maior jeito que caminhe paralelo com o afeto sem ser ele, como o
amor sem ser ele, com a paixão sem ela ser, mas sendo tudo isto junto. JEITO DE
PAI vai além da imaginação – quando mais se imagina que o pai é distante, ele
fica presente; quando mais se imagina que ele é frio, ele se supera em carinhos
e cuidados pelo filho; quando mais se pensa que ele é subtraído pela mãe, ele
se multiplica com ela e transformam os filhos em dádivas; quando mais se
imagina que os pais são secos, durões, eles viram gelatina e choram pra
valer quando um filho adoece. Mas quando
alguém tenta maltratar ou ferir uma cria sua, então ele se transforma em
fera feroz. Jeito de pai é meio largado.
Parece que ele se encontra no filho bem calçado, bem vestido, bem nutrido, bem
feliz. JEITO DE PAI não se encontra nele, mas em cada filho que lhe espera a
noitinha só pra saber se ele vai ao futebol; só pra saber se ele vai buscar sua
filhota na balada depois das dez. JEITO DE PAI não se encontra na cozinha, mas
na fervura que o fogão não dispõe para ocasiões impares; não se encontra na
decoração da casa, mas na casa que a alegria dos filhos decora, adorna, orna;
não se encontra JEITO DE PAI na rotina socialmente estabelecida, porque ele
está sempre ali, para o momento exato em que a vida surpreende os ritos e o
santo vira mito e a mentira precisa ser
dilacerada… JEITO DE PAI é assim mesmo sem jeito. JEITO DE PAI, cada pai tem o
seu. Se a mãe se mira em Nossa Senhora como aliada, pai conta com Deus em suas
paradas. JEITO DE PAI segue o jeito de mãe: se a mãe coloca o filho pra dormir,
o pai o conduz dormindo pra cama. No dia seguinte o filho fica na dúvida: quem
mais me ama?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 10/08/2012
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