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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O PRIMEIRO CABELO BRANCO A GENTE NUNCA ESQUECE





Por Carlos Sena (*)

De repente você se olha no espelho e... Um cabelo branco, sem te avisar, se mostra inteiro! Você se aproxima do espelho para vê-lo mais de perto como que não acreditando que seja verdade. Então você olha em volta da cabeleira e, “ufa” sai todo satisfeito porque talvez aquele fiozinho branco seja o que o povo costuma chamar de “sinal”. E é. Sinal de que o tempo escorre pelas nossas mãos e cedo ou tarde ele dá provas de que seus passos marcharam feito soldados no sete de setembro, no coco das nossas cabeças. De repente você novamente se olha no espelho e... Um discreto “pé de galinha” se delineia  lento por sobre os cantos dos seus olhos. Novamente você chega mais perto do espelho para ver se não se trata do que você está pensando, mas é exatamente o que você está imaginando. Rugas. Neófitas dobrinhas que talvez você prefira acreditar que seja falta de protetor solar, mas não são. São as pegadas do tempo que marcam nosso rosto como que não querendo nos perder de vista. E a nossa vista tão boa para, de longe, vermos as pessoas mais bonitas, não vê o que está na cara, literalmente. Então a gente começa a se render às evidencias do tempo, embora ele nem se incomode com o incômodo que possa nos proporcionar. Os seus mistérios nos deixam sem muitas alternativas – invade e fim as nossas cabeças, o nosso rosto, o nosso corpo e se faz morada. Lentamente ele se intromete em nossas entranhas e a gente tem que engolir calado seus ditames... Aos poucos a gente não vai mais gostando de “narciso” e narciso se alia facilmente a ele como se nos desafiasse. Tirar proveito disto é fundamental. Melhor encarar o lado bom que os cabelos brancos proporcionam. Afinal, quando a “prata” chega a cabeça o “ouro” já deve ter chegado ao bolso, ou não? Mas, se o bolso estiver liso, certamente o coração estará robusto de experiências que auxiliam dando força para que quando os demais cabelos brancos aparecerem, quando as outras dobrinhas do rosto se delinearem, estejamos fortes para suportar a pressão que o tempo faz.

Um dia, um jardineiro tentou desafiar uma rosa que desabrochava na sua varanda. Montou guarda junto dela, fez verdadeira vigília. Seu desejo era ver o momento exato em que a rosa em botão se abrisse. Deitou em sua rede e ficou mirando aquele botão de rosa bem de perto. Aguardava ele o momento exato em que aquele botão desabrochasse em sua em sua plenitude. De repente, num piscar de olhos, a rosa se abriu e o jardineiro não flagrou o momento único daquela rosa. A sabedoria da rosa é a mesma do primeiro cabelo branco, da primeira ruga em nosso rosto, mas não é a mesma que nossos desgostos que proporcionam, ou não?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/08/2012

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