Por Carlos Sena (*)
De repente você se olha no
espelho e... Um cabelo branco, sem te avisar, se mostra inteiro! Você se
aproxima do espelho para vê-lo mais de perto como que não acreditando que seja
verdade. Então você olha em volta da cabeleira e, “ufa” sai todo satisfeito
porque talvez aquele fiozinho branco seja o que o povo costuma chamar de
“sinal”. E é. Sinal de que o tempo escorre pelas nossas mãos e cedo ou tarde
ele dá provas de que seus passos marcharam feito soldados no sete de setembro,
no coco das nossas cabeças. De repente você novamente se olha no espelho e...
Um discreto “pé de galinha” se delineia
lento por sobre os cantos dos seus olhos. Novamente você chega mais
perto do espelho para ver se não se trata do que você está pensando, mas é
exatamente o que você está imaginando. Rugas. Neófitas dobrinhas que talvez
você prefira acreditar que seja falta de protetor solar, mas não são. São as
pegadas do tempo que marcam nosso rosto como que não querendo nos perder de
vista. E a nossa vista tão boa para, de longe, vermos as pessoas mais bonitas,
não vê o que está na cara, literalmente. Então a gente começa a se render às
evidencias do tempo, embora ele nem se incomode com o incômodo que possa nos
proporcionar. Os seus mistérios nos deixam sem muitas alternativas – invade e
fim as nossas cabeças, o nosso rosto, o nosso corpo e se faz morada. Lentamente
ele se intromete em nossas entranhas e a gente tem que engolir calado seus
ditames... Aos poucos a gente não vai mais gostando de “narciso” e narciso se
alia facilmente a ele como se nos desafiasse. Tirar proveito disto é
fundamental. Melhor encarar o lado bom que os cabelos brancos proporcionam.
Afinal, quando a “prata” chega a cabeça o “ouro” já deve ter chegado ao bolso,
ou não? Mas, se o bolso estiver liso, certamente o coração estará robusto de
experiências que auxiliam dando força para que quando os demais cabelos brancos
aparecerem, quando as outras dobrinhas do rosto se delinearem, estejamos fortes
para suportar a pressão que o tempo faz.
Um dia, um jardineiro tentou
desafiar uma rosa que desabrochava na sua varanda. Montou guarda junto dela,
fez verdadeira vigília. Seu desejo era ver o momento exato em que a rosa em
botão se abrisse. Deitou em sua rede e ficou mirando aquele botão de rosa bem
de perto. Aguardava ele o momento exato em que aquele botão desabrochasse em
sua em sua plenitude. De repente, num piscar de olhos, a rosa se abriu e o
jardineiro não flagrou o momento único daquela rosa. A sabedoria da rosa é a
mesma do primeiro cabelo branco, da primeira ruga em nosso rosto, mas não é a
mesma que nossos desgostos que proporcionam, ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 10/08/2012
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