Cena do filme "O Vento Será Tua Herança" |
Por Zezinho de Caetés
Uma das minhas diversões,
nesta época mensaleira, é assistir ao julgamento da “organização criminosa” que achacava cofres públicos e privados há
alguns anos atrás, segundo o Procurador Geral da República. Aliás, apesar do
noticiário ter amainado nos últimos dias, pela repetição exagerada de
argumentos por parte dos advogados de defesa dos réus (“todos são heróis, até prova em contrário”), ainda espero avidamente
pelo começo da tarde, na TV Justiça.
Aquele ambiente solene da
corte suprema me encanta. Eu penso porque, ao invés de me dedicar às letras
neolatinas, eu não fui ser advogado. Hoje, quem sabe, estaria lá, com aquela
beca preta nos ombros, embora, como assistente da acusação. Isto porque não
creio na inocência de ninguém daquela turma.
No texto que transcrevo
abaixo o jornalista Sandro Vaia (publicado no Blog do Noblat em 10.08.2012) chama
o grupo de “O consórcio dos anjos”,
relembrando e louvando os filmes americanos que apresentam advogados. Foi o que
a gente aprendeu a ver no cinema. Eram empolgantes e inesquecíveis seus debates
sobre muitos assuntos. Filme que tinha julgamento eu não perdia um sequer. E
sentia falta, nos júris brasileiros daquela imponência argumentativa.
Um de que me lembro, e
que me emocionou demais, chamava-se “O
vento será tua herança”, do qual recordo a performance do Spencer Tracy,
embora sem os detalhes. Em resumo, numa cidade marcada pela forte presença de
comunidade religiosa, um professor foi preso por ensinar a Teoria da Evolução
de Darwin. O caso foi para o tribunal, onde acontece uma série de inflamados
debates ideológicos, que mexem com a localidade e com seus habitantes, e foi baseado
em caso real ocorrido em 1925, lá nos Estados Unidos.
Velhos tempos onde ainda
se discutia se o homem descenderia dos macacos ou não. Hoje, com o procedimento
de certos humanos, já vimos filmes (O Planeta do Macacos, por exemplo) onde os
macacos são presos por dizerem que descendiam de humanos. E o comportamento dos
advogados de defesa no mensalão parece uma verdadeira macaquice, pela repetição
dos argumentos.
No entanto, a partir do
meio desta semana, teremos os votos dos senhores Ministros. Pelo que li em
determinado blog, sobre as opiniões de um destes ministros sobre um jornalista
(aqui),
eu aguardo o seu voto já com os tampões de ouvido prontos, para quando ele
começar com aquele linguajar de baixíssimo nível no jargão jurídico. Mas, quem
sabe será bom para despertar alguns deles que cismaram em dormir em cena
aberta.
Fiquem com o Sandro Vaia
e com os anjos, e eu não volto vou sintonizar a TV Justiça, para mais um
capítulo desta novela que se arrasta por 7 anos.
“Os filmes de advogado são mais
divertidos na TV, principalmente porque os advogados norte-americanos são muito
objetivos, nunca falam “data máxima vênia” e estão sempre atrás daquilo que o
Garganta Profunda recomendava a Woodward e Bernstein: follow the money- sigam o
dinheiro.
Como o direito anglo-saxônico
escapou das complexas formulações da retórica latinória, não há perigo de
ouvir, naqueles filmes, advogados dizendo que seus clientes foram a Portugal
comer pastéis de Santa Clara ou pedir aos juízes que tenham piedade dos réus
porque aquele julgamento pode significar “a bala de prata” para alguns e muita
tristeza para suas famílias.
No quinto dia daquele que se
afigurava como “o julgamento do século”, ao final do qual afinal saberemos
porque querem proibir-nos de usar a palavra “mensalão”, paira sobre o assunto
um tédio tão mortal que não só faz adormecer os venerandos juízes no aconchego
de suas togas, como torna uma partida de handebol feminino entre Austrália e
Nova Zelândia um modelo de eletrizante emoção.
Desde o dia em que o procurador
Gurgel nos enterneceu com os baixos decibéis de seu interminável solilóquio,
com toda a carga de acusações que lhe foi possível juntar, parece que estamos
ouvindo uma interminável oração fúnebre. De novo, como nos filmes
norte-americanos, onde os elogios fúnebres fazem parte dos rituais de
despedida.
Os desolados amigos contam a
outros desolados amigos como eram maravilhosas essas pessoas que tão
prematuramente abandonaram o nosso convívio deixando para trás inesquecíveis
lições de vida. Assim foram até agora os réus do mensalão.
Isso faz parte do ritual e ainda
vai demorar um tempo, considerando o alentado número de acusados. Muitos
cochilos ainda ressoarão na Egrégia Corte.
Ouviremos ainda muitas histórias
de reputações ilibadas (salvo a de alguns poucos mequetrefes) de pessoas que
nada mais fizeram do que dedicar-se ao bem comum, com a ajuda de generosos
bancos que jamais pensaram em dedicar-se à mesquinha tarefa de cobrar
empréstimos feitos com o único objetivo de ajudar os outros.
Para que serve o dinheiro senão
para oferecê-lo a quem precisa ? Que banco seria tão estróina a ponto de pedir
o dinheiro de volta?
Estes são os primeiros dias do
julgamento do – com perdão da palavra, senhores censores - mensalão. Cada um
dos 11 juizes do Supremo Tribunal Federal deve guardar no segredo das suas
togas uma sentença já formada para cada um dos 38 acusados.
Lá pelo começo de setembro é bem
possível que saibamos de que material são feitos os nossos anjos e para que
espécie de País os nossos futuros campeões olímpicos vão procurar ganhar as
suas medalhas.”
P. S.: Ontem, depois de já haver fechado este escrito, vi que colocaram o Lula com autor principal da trama mensaleira. Eu apenas pude dizer, por enquanto: EU JÁ SABIA!
P. S.: Ontem, depois de já haver fechado este escrito, vi que colocaram o Lula com autor principal da trama mensaleira. Eu apenas pude dizer, por enquanto: EU JÁ SABIA!
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