Por Zezinho de Caetés
Gerou-se uma febre de denúncias e contra-denúncias este final de ano na mídia brasileira. No governo federal isto já vem durando um ano, mas, o mais recente episódio do ministro Pimentel, e que vai entrar, por obra e graça da presidenta pelo ano novo, é a bola da vez da imprensa que, que segundo alguns, quer desestabilizar o governo, como se publicar a verdade não fosse consequência e sim causa dos desmandos que certos ministro praticaram.
Do outro lado da cerca, está a mídia que vi num blog alguém chamar de “chapa branca”, embora com uma certa impropriedade, pois o termo é usado somente para automóveis. O termo mais correto seria o que foi dado pelo Blog Chumbo Grosso: PIG (Partido da Imprensa Governista). Estes só publicam a favor do grande evento que eles dizem ser muito grande, que é o lançamento de livro chamado “Privataria Tucana”, que dizem ter sido bem vendido neste fim de ano.
A maior queixa dos PIGs é que a grande imprensa não noticiou o evento de lançamento do livro de imediato. Muitos não entenderam esta crítica, assim como eu. Ora, lança-se um livro que se esgota no primeiro dia do seu lançamento, como querem que se noticie sobre algo que não existe? Querem que as pessoas ajam como os petistas de carteirinhas que criticam por criticar, se nem ao menos ler o livro? Paciência, meu Deus!
Mas, aos poucos as pessoas que não pertencem e este mundo de ilusão que se tornou a PIG, vão encontrando alguns exemplares, lendo e comentando. Muitos já fizeram isso, menos eu, pois sei que não terei acesso ao livro pelo menos nos próximos meses, se for verdade o que se falou sobre as multidões que se acotovelam na editora para pegar os exemplares. Ora, se eu procurei comprar, para presentear no Natal o livro, com certeza muito mais importante e verdadeiro do Fernando Henrique Cardoso, “A Soma e o Resto”, e não encontrei nas livrarias, como vou encontrar a “Privataria Tucana’?
Enquanto eu não o leio, contento-me a citar as pessoas sérias que já o leram e que conhecem muito mais o autor e os personagens envolvidos do que eu. E neste caso é, ainda por cima, um imortal de nossa ABL, e que pelo menos não dará margem a algum imbecil criticá-lo, corrigindo seus erros de português.
Fiquem com o texto do imortal Merval Pereira, “A ficção do Amaury”, publicado no O Globo neste fim de semana. Agora o livro “O Chefe” do Ivo Patarra, eu li, mas agora não tenho tempo de comentar. Os sinos já bimbalham.
“O livro “Privataria tucana”, da Geração Editorial, de autoria de Amaury Ribeiro Jr, é um sucesso de propaganda política do chamado marketing viral, utilizando-se dos novos meios de comunicação e dos blogueiros chapa-branca para criar um clima de mistério em torno de suas denúncias supostamente bombásticas, baseadas em “documentos, muitos documentos”, como definiu um desses blogueiros em uma entrevista com o autor do livro.
Disseminou-se a idéia de que a chamada “imprensa tradicional” não deu destaque ao livro, ao contrário do mundo da internet, para proteger o ex-candidato tucano à presidência José Serra, que é o centro das denúncias.
Estariam os “jornalões” usando dois pesos e duas medidas em relação a Amaury Jr, pois enquanto acatam denúncias de bandidos contra o governo petista, alegam que ele está sendo processado e, portanto, não teria credibilidade?
É justamente o contrário. A chamada “grande imprensa”, por ter mais responsabilidade que os blogueiros ditos independentes, mas que, na maioria, são sustentados pela verba oficial e fazem propaganda política, demorou mais a entrar no assunto, ou simplesmente não entrará, por que precisava analisar com tranqüilidade o livro para verificar se ele realmente acrescenta dados novos às denúncias sobre as privatizações, e se tem provas.
Outros livros, como "O Chefe", de Ivo Patarra, com acusações gravíssimas contra o governo de Lula, também não tiveram repercussão na "grande imprensa" e, por motivos óbvios, foram ignorados pela blogosfera chapa-branca.
Desde que Pedro Collor denunciou as falcatruas de seu irmão presidente, há um padrão no comportamento da “grande imprensa”: as denúncias dos que participaram das falcatruas, sejam elas quais forem, têm a credibilidade do relato por dentro do crime.
Deputado cassado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson desencadeou o escândalo do mensalão com o testemunho pessoal de quem esteve no centro das negociações, e transformou-se em um dos 38 réus do processo.
O ex-secretário de governo Durval Barbosa detonou a maior crise política da história de Brasília, com denúncias e gravações que culminaram com a prisão do então governador José Roberto Arruda e vários políticos.
E por aí vai. Já Amaury Ribeiro Jr. foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documentos falsos e oferta de vantagem a testemunha, tendo participado, como membro da equipe de campanha da candidata do PT, de atos contra o adversário tucano.
O livro, portanto, continua sendo parte da sua atividade como propagandista da campanha petista e, evidentemente, tem pouca credibilidade na origem.
Na sua versão no livro, Amaury jura que não havia intenção de fazer dossiês contra Serra, que foi contratado “apenas” para descobrir vazamentos internos e usou seus contatos policiais para a tarefa que, convenhamos, conforme descrita pelo próprio, não tem nada de jornalística.
Ele alega que a turma paulista de Rui Falcão (presidente do PT) e Palocci queria tirar os mineiros ligados a Fernando Pimentel da campanha, e acabou criando uma versão distorcida dos fatos.
No caso da quebra de sigilo de tucanos, na Receita de Mauá, Amaury diz que o despachante que o acusou de ter encomendado o serviço mentiu por pressão de policiais federais amigos de José Serra.
Enfim, Amaury Ribeiro Jr, tem que se explicar antes de denunciar outros, o que também enfraquece sua posição.
Ele e seus apoiadores ressaltam sempre que 1/3 do livro é composto de documentos, para dar apoio às denúncias.
Mas se os documentos, como dizem, são todos oficiais e estão nos cartórios e juntas comerciais, imaginar que revelem crimes contra o patrimônio público é ingenuidade ou má-fé.
Que trapaceiro registra seus trambiques em cartórios?
Há, a começar pela escolha do título – Privataria Tucana – uma tomada de posição política do autor contra as privatizações.
E a maneira como descreve as transações financeiras mostra que Amaury Ribeiro Jr. se alinha aos que consideram que ter uma conta em paraíso fiscal é crime, especialmente se for no Caribe, e que a legislação de remessa de dinheiro para o exterior feita pelo Banco Central à época do governo Fernando Henrique favorece a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
É um ponto de vista como outro qualquer e ele tenta por todas as maneiras mostrar isso, sem, no entanto, conseguir montar um quadro factual que comprove suas certezas.
Vários personagens, a maioria ligada a Serra, abrem e fecham empresas em paraísos fiscais, com o objetivo, segundo ilações do autor, de lavar dinheiro proveniente das privatizações e internalizá-lo legalmente no País.
Acontece que passados 17 anos do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, e estando o PT no poder há 9 anos, não houve um movimento para rever as privatizações.
E os julgamentos de processos contra os dirigentes da época das privatizações não dão sustentação às críticas e às acusações de “improbidade administrativa” na privatização da Telebrás.
A decisão nº 765/99 do Plenário do Tribunal de Contas da União concluiu que, além de não haver qualquer irregularidade no processo, os responsáveis “não visavam favorecer em particular o consórcio composto pelo Banco Opportunity e pela Itália Telecom, mas favorecer a competitividade do leilão da Tele Norte Leste S/A, objetivando um melhor resultado para o erário na desestatização dessa empresa”.
Também o Ministério Público de Brasília foi derrotado e, no recurso, o Tribunal Regional Federal do Distrito Federal decidiu, através do juiz Tourinho Neto, não apenas acatar a decisão do TCU mas afirmar que “não restaram provadas as nulidades levantadas no processo licitatório de privatização do Sistema Telebrás. Da mesma forma, não está demonstrada a má-fé, premissa do ato ilegal e ímprobo, para impor-se uma condenação aos réus.
Também não se vislumbrou ofensa aos princípios constitucionais da Administração Pública para configurar a improbidade administrativa.”.
O livro de Amaury Ribeiro Jr. está em sexto lugar na lista dos mais vendidos de “não-ficção”. Talvez tivesse mais sucesso ainda se estivesse na lista de “ficção”.
Cada vez fica mais evidente o tipo de bandido que denunciou Arruda - 40 processos por corrupção, chantagem, desvio de dinheiros públicos, formação de quadrilha. Foi baseado nesse indivíduo, Durval Barbosa que se cassou e prendeu o melhor governador da historia do Distrito Federal. Que crédito merece esse bandido que, segundo os blogs de Lauro Jardim (Veja) e Noblat está sendo processado por pedofilia? E agora esse Durval se beneficia por ser delator. Se cassa e se prende o melhor governador e se extinguem processos do delator-criminoso. Vivam os Titãs: Que país é esse?
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