Por Zezinho de Caetés
Hoje, ao zanzar pelos Blogs, me deparei com um texto no Blog do Josias de Souza, reproduzido aqui na AGD na página Deu nos Blogs, com o título “Explicações fazem de Pimental um consultor ‘peculiar’”. Como em minha vida pregressa (e não me venham, pelo amor de Deus reclamar do pleonasmo intermitente) já ganhei alguns trocados como consultor, eu me interessei pela matéria.
Quem me conhece sabe que minha área, apesar de conhecer um pouco de Economia, não é a mesma do Fernando Pimentel. Eu me arranjo na área de letras e línguas, o que já não o faço com freqüência, a não ser escrevendo aqui na AGD. Neste área trabalhei para algumas empresas e até para políticos, e como não estou sendo acusado de ficar rico com a prática, prefiro não citar nomes, a não ser que o Senado me chame para depor.
Mas, não poderia deixar de citar uma empresa para a qual trabalhei e o fiz com um prazer quase inenarrável. Foi a CIT Ltda. Uma empresa pequena, mas, com um dinamismo de fazer inveja a muitas grandes. Ainda dizem, alguns de meus colegas maldosos, que só fui contratado por que meu nome era quase um homônimo do de outra pessoa que estava em guerra contra a empresa por achar que escrevíamos com erros gramaticais.
Não vem ao caso agora o meu nome verdadeiro (que espero meus leitores já tenha esquecido), nem tampouco o do senhor quase meu xarapim. O importante foi a consultoria, que terminou virando quase um vínculo empregatício, depois que elaborei um Manual de Redação, que ainda hoje influencia quem o lê, e muitas vezes culpam os que trabalharam naquela empresa de terem estilo parecidos. E esta sempre foi a minha intenção, criar um estilo CIT de comunicação, que agora sobrevive nesta AGD e em blogs de outros que nela trabalharam.
Todavia, o que quero salientar aqui, é que mesmo eu tendo uma importância crucial, não só para a CIT Ltda mas para outras empresas onde passei, estive muito longe, e põe longe nisto, de amealhar 2 milhões de reais. E olhem que muitos anos se passaram de minha labuta.
Agora tudo é diferente. Meu conterrâneo Lula, dentro de um ano ganhou mais do que eu em minha vida toda, mesmo não tendo estudo, como eu, e nem mesmo ser capaz de “ler uma carta e escrever outra”. Palloci, em pouco menos de 4 anos ganhou uma fortuna. Zé Dirceu está tão rico, consultando, que só toma vinho de mais de 3 mil a garrafa. E agora o Ministro Pimentel, em 2 anos amealhou 2 milhões. Eu me sinto frustrado. Com tantos anos de dedicação às letras, com muitas consultorias dadas, e hoje vivo pelos laboratórios para ler os jornais que estão lá pra os clientes.
Quem manda ser burro e não ter entrado no PT muito tempo atrás, ainda quando eu admirava a luta do partido pela ética na política? Logo eu que defendo tanto uma economia de mercado, hoje, e que as pessoas ganhem por aquilo que produzem e pelo que os outras pagam pela produção, perdi esta chance. No entanto, pensando bem, mesmo que tivesse entrado no PT, hoje eu estaria na mesma situação. Certos pruridos éticos são passados de geração em geração e eu tive a minha geração, crescendo lá em Caetés e em Pernambuco. O Lula deu sorte e emigrou para São Paulo. Criou nova ética que agora esbanja. Mesmo que eu tivesse entrado no PT, hoje eu seria um colega daqueles que o abandonaram, e que deveriam ter criado o PT do B (eu acho até que já existe este partido, mas parece que cabe numa Kombi).
E não adianta choro nem vela agora. Eu até gosto da minha situação, pois tenho mais liberdade de escrever sem ter que dar explicações ao Senado, e nem mesmo ao Diretor Presidente, a quem devia explicações quando exagerava em minhas letras, onde tenho minhas idiossincrasias, mas, nunca fui, como o Fernando Pimentel, um consultor ‘peculiar’. Mesmo assim, como uma das firmas a que ele deu consultoria é aqui tão perto, em Paulista, quem sabe eles não estão querendo alguém com experiência nas letras para não escreverem o nome da tubaína errado. Vou mandar o meu currículo.
Fiquem com o texto do Josias de Souza que mostra porque as consultorias do ministro são ‘peculiares’.
“As tentativas de explicar os negócios de consultoria que renderam R$ 2 milhões a Fernando Pimentel fizeram dele um consultor peculiar. O ministro teve quatro clientes. Exibe as notas fiscais. Mas não mostra o resultado do trabalho.
Em três casos, Pimentel reconhece que não chegou a produzir relatórios. Noutro, disse ter feito um texto “não muito extenso.” Numa das transações, nem contrato foi celebrado.
As últimas entrevistas de Pimentel foram concedidas aos repórteres Leandro Loyola e Marcelo Rocha (aqui) e a Fernando Rodrigues (aqui). Vão abaixo algumas das peculiaridades recolhidas das duas conversas:
1. Fiemg: A Federação das Indústrias de Minas Gerais borrifou R$ 1 milhão na caixa registradora da P-21, a firma de consultoria de Pimentel. O ministro exibe a nota fiscal. Instado a mostrar as provas da execução do trabalho, Pimentel disse que coube ao cliente preparar os relatórios: “A Fiemg produziu material.” Curioso. A entidade que paga a consultoria e ela mesma cuida dos relatórios. O consultor entra apenas com o gogó:
“Essa consultoria […] foi de orientação. E de um pré-planejamento de quase todos os programas que a Fiemg desenvolveu nesses quase dois anos”, disse Pimentel.
2. Convap: a empreiteira pagou a Pimentel R$ 514 mil. Para quê? “A construção pesada começou a aquecer no Brasil, com o PAC”, explicou o ministro.
“Eu ajudei a fazer um plano de negócios. Nada a ver com influenciar resultado de licitação no setor público.”
De novo, Pimentel não teve de fazer relatórios. Nesse caso, nem contrato houve. O dono da empresa, Flávio Vieira, 85, “foi amigo do meu pai”, declarou Pimentel.
“Se eu pedir ao doutor Flávio para fazer um contrato comigo, ele vai ficar ofendidíssimo. O contrato é a nota fiscal”.
3. QA Consulting: sobre o terceiro cliente, uma empresa de informática, Pimentel disse: “Os sócios são filhos de meu sócio na P-21, Otílio Prado.”
Acrescentou: “Eles me pediram ajuda num plano de negócios.” De novo, não há relatórios. “Sugeri que fizessem um serviço de cabeamento para a [construtora] HAP.”
Na conta de Pimentel, o serviço sugerido por ele rendeu que à QA algo entre R$ 230 mil e R$ 240 mil. Bem menos que o valor da consultoria: R$ 400 mil.
Ou seja: a QA pagou ao consultor quase o dobro da cifra que logrou faturar com o serviço "sugerido" por ele.
4. Eta: indústria de bebidas sediada em Pernambuco, a Eta pagou a Pimentel R$ 130 mil em duas parcelas.
Na nota fiscal está escrito: “Consultoria para aprimoramento da gestão empresarial com elaboração de projeto na área econômica e tributária."
Nesse caso, Pimentel disse ter redigido “um diagnóstico de mercado.” Como assim? Foi “um diagnóstico de possibilidades, pois esse negócio de refrigerantes é complicado…”
“…Eles iriam entrar em um mercado em que se enfrenta gigantes, como a Ambev. Então, eu fiz um trabalho para eles.”
Para municiar o cliente na guerra contra os “gigantes”, Pimentel disse ter feito um documento raso. “Não foi muito extenso, mandei e nunca mais tive contato.”
Depois de se consultar com Pimentel, a Eta foi vendida. “Os que compraram nem sabem desse trabalho”, disse o ministro. A empresa encontra-se desativada.
Pimentel não sabe explicar por que uma empresa de tubaína do Nordeste foi procurá-lo em Minas para obter aconselhamento sobre os meandros do setor de bebidas.
5. Provas: insistiu-se com Pimentel para que exibisse as provas dos trabalhos que realizou. O ministro declarou que cabe aos clientes mostrar, “se quiserem”.
“No caso da Fiemg, eles vão ter material para mostrar”, disse Pimentel numa entrevista. Noutra, acrescentou:
“Você vai perguntar: 'Mas isso foi ele [Pimentel] que escreveu?' Não escreveu pessoalmente, mas o que está aqui foi discutido, foi orientado.”
Nos outros casos, afirmou Pimentel, seus clientes não dispõem senão de “material interno”. A exceção foi a Eta: ”Nessa, até fiz uma coisa por escrito.”
Aos que insinuam que seus negócios ocultam tráfico de influência na prefeitura de Belo Horizonte, Pimentel declara: “Respeitem a minha história, respeitem a minha biografia.” Explicações mais sólidas ajudariam.”
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