Por Carlos Sena (*)
De novo a Lei das Palmadas. Independente do desfecho legal do Congresso, fica clara a intromissão do estado na vida dos cidadãos. Ele até pode ter essa intromissão e deve: no que for concernente a saúde, educação, segurança pública, etc., que todos sabemos não andam muito bem em nosso país. Como se vê, os PRALAMENTARES perdem tempo legislando sobre o sexo dos anjos. Enquanto a reforma política não acontece, a reforma do judiciário não acontece, tampouco a econômica e fiscal...
Meter-se na vida dos pais pra lhe dizer que não deve dar palmada nos filhos é, no mínimo, querer ser mais realista do que o rei. Dar palmadas num filho não é comparar à violência que alguns pais poderão fazer, porque violenta tem sido a nossa sociedade em todos os sentidos das nossas atividades. Em nome da Psicologia defende-se o Psicologismo. Em nome da Pedagogia defende-se o Pedagogismo. Se esse assunto fosse tão consensuado não estava aí virando polêmica. Fato é que a chamada geração “X” (abaixo dos 60 anos) se utilizou muito das palmadas enquanto ingrediente de educação dos seus filhos. Se alguém se interessar poderá fazer uma pesquisa e relacionar essa geração ao aumento de drogas, violência urbana, etc., e verá que devem existir casos de tudo isto, mas certamente em menor quantidade do que os da chamada geração “Y”.
Conhecemos sem querer generalizar, famílias da geração passada em que todos foram criados com base nas palmadas. Uma delas composta por nove filhos está toda inteira. Não há drogado, nem prostituídos, nem ladrões, assaltantes, ou assemelhados. Todos estão aí, na vida, felizes, enfrentando suas dificuldades com determinação, coragem e muito trabalho. Todos constituíram famílias, são felizes e os filhos deles, até onde sabemos estão seguindo a vida sem drogas, com limites e respeitando os mais velhos (coisa difícil de encontrar hoje), além de estudarem e seguirem vida normal... Esses nove filhos foram criados aos safanões, na base das palmadas, mas também com muito amor e dedicação dos pais. Claro que não estamos falando de “modelo” ou de “receita” de criar filhos. Acreditamos que se pode muito bem criar filhos sem palmadas. Mas não se pode esquecer que há índole má nalgumas “crionças” e que isto tem que ser conduzido com palmadas mesmo.
Diante disto, recordo-me da passagem de Jesus pelo tempo (igreja) que estava cheio de comerciantes: ELE tirou o cinto e os colocou pra fora dizendo: “a casa de Deus é a casa de oração”. Certamente que muitos dirão que não há comparação. Por que não? Jesus era e é a expressão do amor. Os pais não são isto para os seus filhos? Platão dizia que “o homem faz o mal porque não conhece o bem”... Não estaria ele sugerindo a índole má do homem? Questão importante, pois, pra se repensar nessa bobagem da LEI DAS PALMADAS.
Talvez fosse bem melhor que os nossos pralamentares estivessem fazendo leis em prol de uma educação mais libertadora; que estivessem promovendo debate nacional sobre a vida dos professores que vivem aí com salário de fome; que fizessem uma lei em que seus filhos fossem obrigados a estudar em escola pública e a ser atendidos, quando doentes, pelo SUS. Isto dá trabalho e atrapalha as trapalhadas deles. Discutir a Lei da Palmadas “enche lingüiça” enquanto nos bastidores do congresso eles chafurdam negociatas que a imprensa tão bem tem nos informado e a nossa presidente tão bem tem se posicionado.
Que se eduque sem palmadas se for possível. Mas se for necessário algumas, que sejam “poucas e boas, devagar que doam”...
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 16/12/2011
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