Por Zé Carlos
Como qualquer outra profissão, quando a exercemos por muito tempo, a de economista também nos toma um espaço em nós por muito tempo depois de não mais a exercermos. Existem coisas básicas em qualquer profissão que nunca esquecemos e que são válidas mesmo que o conhecimento tenha avançado, como o faz, quase a velocidade de luz, em nossa época.
Por exemplo, mesmo o médico que viu um paciente pela última vez há 20 anos, é capaz de reconhecer se aquele que está em sua frente está morto ou não. O engenheiro responsável pela construção da Ponte do Colégio em Bom Conselho, muitos anos atrás, pode dizer, mesmo que não tenha construído outra desde então, que ela poderá cair a qualquer momento, e friso, isto é apenas um exemplo. Um agrônomo que orientou a plantação do cafezal de Brejão, que eu achava lindo, quando lá passava, ainda é capaz de dizer que hoje, esta cultura seria lá quase impossível, depois que as pastagens mudaram o clima, e assim por diante.
Com o economista é a mesma coisa. E de vez em quando eu me vejo tentando dar pitaco no assunto que um dia foi minha profissão, a Economia, mas, com todo cuidado e toda consciência que há hoje conhecimentos novos na área, assim como nosso objeto de estudo, os fatos econômicos, que mudam com o tempo e com o homem.
Eu aprendi em suma que Economia é a ciência das prioridades. Onde não há escolhas, e portanto, uma situação onde não podemos fazer uma escala de prioridades, não é um lugar para economistas. Talvez o nome de Economia Política, como também é chamado nosso campo de estudo, venha da característica de que a Política, em última instância, é sempre uma escolha de prioridades.
Eu, quando faço aqui para a AGD, as páginas “Deu nos Blogs” e “Notícias” , que são as mais vistas, fora os textos dos colaboradores, eu tento seguir uma escala de prioridades, que vai das notícias de Bom Conselho, para onde o Blog é voltado, passando pelas notícias regionais, onde ele é mais lido, chegando às notícias do Estado, e continuando para as notícias nacionais. Alguns vezes as páginas até transbordam e abordam notícias internacionais. Até agora vem dando certo, depois do nosso fiasco de não conseguirmos ficar só nas notícias locais.
Em tudo isto eu procuro usar minha ex-profissão como guia, da mesma forma que um médico aposentado ainda receitaria óleo de rícino para vermes. Tanto num caso como no outro pode dar certo. E certo aqui significa um juízo econômico que nos diz que os benefícios são maiores do que os custos de nossa ação. E quase sempre é assim, mesmo em outras de minhas ações. No fundo, isto se aplica até ao nosso pouco dinheirinho com o qual tentamos sobreviver. Temos uma vantagem quando nos chamam de pirangueiros, dizemos que somos “econômicos”.
E agora já senti que estou gastando palavras demais para chegar ao assunto que tinha em mente quando sentei aqui para escrever. A duplicação da estrada entre Bom Conselho e Garanhuns, que vi estampada no Blog do Ronaldo César, ontem ou anteontem. O Ronaldo César acha uma excelente ideia. E eu pergunto, como bom-conselhense, nascido no “marco zero” da cidade: “E quem não acha?”
Já pensou, eu poder ir direto do Recife até Bom Conselho, sem ter que ficar atrás de caminhões, pois com meus dotes de motorista só consigo cortar fuscas e Fiat 147? Já pensou eu sair daqui do Recife meio-dia e chegar ao portal da cidade ainda no tempo de pegar o cafezinho do Luis Clério? Já sei que o Xico Pitomba vai dizer: “Lá vem o corpo que incorpora Lucinha Peixoto dizer besteira, pois todos sabem que do Portal até chegar na redação da A GAZETA, nunca ninguém tirou em menos de 1 hora e vinte minutos, por causa dos buracos.” É, talvez eu esteja exagerando no sonho, mas ainda posso perguntar, quem acha que não é uma excelente ideia?
Então, começo a me retorcer e contorcer como se recebesse alguém, que tenho certeza não é a Lucinha Peixoto, pois esta eu considero do bem, mas sim, estou incorporando o economista que, fui um dia, e não me deixa em paz. Aí eu começo a ter visões de rios e rios de dinheiro sendo jogados fora, descendo por uma estrada duplicada, que é fruto das escolhas mal feitas, ou da ausência de uma escala de prioridades. E eu começo a catar as notas de 100 e 50 reais e as coloco numa bolsa grande, para melhor aplicá-las. O pesadelo continua, pois faltam-me dados precisos sobre o fluxo de tráfego, o potencial da região, as alternativas modais de transporte, e quase morro me contorcendo de dor quando vejo se gastar dinheiro em um modo de transporte que foi nossa pior prioridade: O transporte rodoviário.
Aí, eu faço um esforço, e obrigo este economista velho a sair deste corpo que não lhe pertence, e volto a sonhar com uma rodovia duplicada até Bom Conselho. Aí, eu volta pensar que seria uma excelente ideia, como todas as pessoas normais. Por pouco tempo no entanto.
Lá vem outra vez o meu espírito obsessor velho e carcomido do economista. Luto mas não posso evitar a incorporação. Aí eu me lembro da antiga estação de trem de Garanhuns onde, em criança, vi minha primeira locomotiva, e que a rodovia sepultou. Vejo o projeto original da época de Dantas Barreto de levar a ferrovia até Bom Conselho. Vejo quanto nos falta em escolas, hospitais, saneamento básico, e quanto o automóvel atrapalha nossas vidas cotidianamente, e as contorções continuam.
Tento me livrar do intruso e digo para ele: “Eu quero é progresso! Sai de mim!” E cadê que eu tenho força para mandá-lo de volta, antes que ele me coloque a pecha de defensor do regresso e das estradas simples e não duplicadas. Mas, ele não atende e se torna cada vez mais forte e diz:
“Estamos chegando a um ano eleitoral. As prioridades e escolhas num ano como este sofrem pela ganância dos candidatos em serem catapultados para os cargos públicos e depois são esquecidas. Ainda bem, pois sei que a duplicação da estrada entre Garanhuns e Bom Conselho é o maior desperdício de recursos, guardando as devidas proporções, desde a Transamazônica. O velho lema que governar é abrir estradas, gerou os maiores desequilíbrios regionais deste país, que, com sua extensão, era para ser cortado de ferrovias e hidrovias, feitas quando as atividades assim as comportassem. A teoria de pólos do François Perroux, adotadas em parte pelos órgãos de planejamento da época do milagre, levou o país para São Paulo, e para o centro Sul. Agora querem, quando o petróleo é tido como o vilão, trazê-lo de volta, outra vez com rodovias.
Depois desta, eu fiz “das tripas corações” e me livrei do intruso. Ah, como eu gostaria que ele não voltasse a me obsediar! Mas, sou apenas um pobre mortal cujo sonho é obter notícias de primeira mão de Bom Conselho, indo e vindo a minha cidade no mesmo dia, sem pagar uma diária no Hotel Raizes, nem fazer escala em Caruaru. Será que viverei para realizar meu sonho?
P.S.: Já hoje, depois do texto acima pronto, coloquei em nossa página "Deu nos Blogs" uma postagem do Ronaldo César, mostrando uma carta do vereador Carlos Alberto dizendo que já apoiava o pleito, etc. etc. Agora o intruso economista voltou, e já comecei a me contorcer outra vez. Tenho que procurar algum terreiro, e tem que ser na Bahia. Já penso em propor a duplicação da BR-101. Vade retro!
ZC
P.S.: Já hoje, depois do texto acima pronto, coloquei em nossa página "Deu nos Blogs" uma postagem do Ronaldo César, mostrando uma carta do vereador Carlos Alberto dizendo que já apoiava o pleito, etc. etc. Agora o intruso economista voltou, e já comecei a me contorcer outra vez. Tenho que procurar algum terreiro, e tem que ser na Bahia. Já penso em propor a duplicação da BR-101. Vade retro!
ZC
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