LAMPIÃO ERA GAY - Diz escritor em livro censurado.

Por Carlos Sena (*)

Ouvi na Rádio Jornal (Recife-PE), entrevista de um escritor, ex-juiz, ex-mil coisas, que está publicando um livro (censurado pela família de Lampião) que, dentre outras coisas, diz que LAMPIÃO ERA GAY. Que Maria Bonita nunca foi reconhecida como tal e que servia apenas para fazer o "H" em relação ao Virgulino. Nada contra Lampião ter sido Gay, se o livro tratasse de um estudo psicanalítico sério dentro de uma abordagem holística para mostrar as contradições do ser humano no viés da sexualidade. Encafifa-me sobremaneira é a provocação “LAMPIÃO ERA GAY”! E daí? Só acho mesmo é difícil achar quem fosse curtí-lo, pois para as “indumentárias” masculinas funcionarem dessa forma é difícil e quase impossível. Só falta agora alguém identificar um outro cangaceiro a quem se lhe possa atribuir o "concubinato" entre dois cabras machos. Sendo prático: como "cu" dá ibope, mesmo tanto tempo depois e com um personagem que passou para a história como sanguinário! Talvez inspirados pela fama de que a posição de "armar a meia água" é meio napoleônica, posto que se diz sempre que "aquela" era a posição que Napoleão perdeu a gurerra. Independente de acreditar ou não, certamente a sexualidade não tem nada a ver com estereótipos preconceituosos. Se Lampião deu, deu o que era dele. Se alguém o comeu, comeu porque ele deu também o que era dele. Se ele comeu seus capangas, comeu com o que era dele, inclusive os capangas. kkkk. Mais fácil é acreditar que muito neguinho que ele matou pode muito bem ter sido com um tiro no fiofó. Será que essa suposta preferência não teria levado os bisbilhoteiros de plantão a enveredar por essa vertente meio capitalista de se falar dos outros, mesmo esse outro sendo nossa Maria Bonita, digo, Lampião? Nesse caso, talvez Maria Bonita fosse LAMPIÃO E VICE VERSA... Agora é tarde e Lampião é morto. Se vivo fosse, certamente nos diriga: "eu, gay?" - "Nem morta"...

A própósito, em Serra Talhada – a terra natal do Lampa (este poderia ser o seu nome de guerra) houve uma passeata gay que revolucionou o sertão. Até o Fantástico esteve lá e mostrou pro Brasil inteiro. Como se vê, a vontade de fazer relação com o Lampa e a possibilidade dele ter sido gay é imensa. Soube que a câmara municipal de Sera fez uma lei proibindo que na parada gay se utilizasse os adereços de Lampa com conotação gay, mas achamos tudo muita tolice. Como disse, se ele foi gay estava no seu direito, mas hoje quem vocifera isto talvez nem esteja no seu dever. Lampa se foi, escafedeu-se, é o personagem mais estudado no gênero pelas universidades brasileiras. Há inúmeras monografias abordando o Lampa, ou a Lampa (?). É considerado internacionalmente como o maior cangaceiro da história. Neste contexto se ele tiver sido mesmo gay, talvez teremos que entender isto como sendo a glória, principalmente porque ele mostrou que pra ser gay tem que ser macho.

Numa versão moderna, “viajo” vendo Lampa indo ao nosso BAILE DOS ARTISTAS. Entrando triunfal com suas indumentárias coloridas em tom róseo, juntinho do seu “bofe” escândalo e dando o grito de guerra pra galera do arco-íris: “e aê”? Depois colocar as mãos cheias de anéis na boca e soltar beijinhos pra todos, não seria o máximo?

Ah, caro Lampa, talvez você fosse muito necessário nestes tempos de intolerância com os gays e com outras minorias. Queria saber de notícias tuas passeando pela Avenida Paulista e, de repente, uma turma de “filhinhos do papai” te enfrentar para cobrir de cacete. Não tenho dúvidas que tu irias acertar várias balas nos cus desses homófobos. Mostrarias pra eles com quantos “paus” se fazem uma “cu-noa”... De lambugem dirias pra eles entre um tom e outro das balas: “nordestino é macho, mesmo os que “armam a meia água”... Humor a parte, mas talvez isto fosse possível se o Lampa fosse vivo.

Como Getúlio, Lampa “saiu do cangaço para entrar na história” e, deste modo, tornou-se imortal. Virou volante de intelectuais, de alunos de universidades, de Sociólogos, Psicólogos, políticos e outros mais. No sertão há vários memoriais ao nosso Lampa. Por isto, repito que se ele vivo fosse e se alguém lhe perguntasse se era gay, sem duvidas diria: “Eu, Lampa, nem morta”!

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 29/11/2011