Por Ruy Fabiano
PT e PSDB, que por décadas
simularam um antagonismo de fachada, chegam juntos ao ocaso político. Enquanto
o PT padece as consequências do desastre que impôs ao país, o PSDB, que lhe
oferecia falso contraponto, perde suas referências existenciais.
Sua identidade vincula-se à do
PT, que protagoniza a esquerda carnívora, enquanto os tucanos posam de
socialistas vegetarianos, no melhor estilo da estratégia das tesouras,
concebida por Lênin.
Ambos, porém, são faces da mesma
moeda, que ora sai de circulação, sob o desgaste da Lava Jato e da debacle
institucional do país. Se o povo ainda não sabe o que quer, já sabe, no
entanto, o que não quer. E o projeto esquerdista, lastreado no politicamente
correto, que busca minimizar ou ultrajar os que se lhe opõem, se empenha em refundar-se
sem dispor de lideranças que o renovem.
FHC chegou a dizer que Luciano
Huck, o animador de auditório de TV, representa o novo na política brasileira.
É um diagnóstico de desespero, que expõe o estado de indigência política do
partido.
O nome que despontava entre os
tucanos, João Doria, prefeito de São Paulo, é alvo do fogo amigo, que cresce na
razão direta de sua compulsão marqueteira. Seus maiores detratores estão dentro
de casa – e seu maior concorrente é quem o apadrinhou: o governador Geraldo
Alckmin. Parecem destinados ao abraço dos afogados, já que imersos num ambiente
sem sinais de consenso.
Lula continua sendo o único nome
no horizonte do PT, mas sua popularidade perde cada vez mais para os crescentes
índices de rejeição. Seu projeto político hoje é escapar da cadeia. Não é
pouco.
Dificilmente conseguirá registrar
sua candidatura, como, aliás, já sinalizou o futuro presidente do TSE, ministro
Luís Fux. Os petistas, por isso mesmo, passaram a conspirar contra as próprias
eleições, como se depreende de reiteradas declarações da presidente do partido,
senadora Gleisi Hoffmann. Sem Lula, disse ela, as eleições não terão
legitimidade. Órfão de candidato, o partido joga no caos.
Daí o retorno de ações predatórias,
de teor criminoso, cada vez mais violentas, sob o patrocínio do MST e do MTST,
os “exércitos” de Stédile e Boulos, braços armados do partido, a invadir
propriedades e detonar redes elétricas e patrimônio público.
Ambos parecem desejar uma
intervenção militar, dada a estratégia de desafio à lei e à ordem que
protagonizam.
Lula, como se sabe, prometeu
“tocar fogo no país”, sob os auspícios daquelas milícias, caso não possa se
candidatar. Ao que parece, é a única promessa que está disposto a cumprir.
Os tucanos, antevendo o drama que
ora vivem, tudo fizeram para evitar o impeachment de Dilma Rousseff. Aderiram
aos 44 minutos do segundo tempo, e embarcaram no governo Temer na expectativa
de dominá-lo. Perderam para as raposas do PMDB.
Coadjuvantes de um governo que já
nasceu fadado à impopularidade, discutem agora se dele devem desembarcar. Aécio
Neves, presidente afastado, às voltas com a Justiça, quer ficar.
Precisa do guarda-chuva do
Planalto. Tasso Jereissati, que o substituía interinamente, quer sair. E tem
FHC a seu lado - o que, até há pouco, era um trunfo; hoje talvez já não seja.
Aécio, ainda com os poderes formais do cargo, o afastou, abrindo nova crise,
que não tem prazo para acabar – e talvez não acabe nunca.
Alberto Goldmann, ex-governador
paulista e crítico feroz de João Doria, substitui provisoriamente Tasso e fala
em união, vocábulo que, no PSDB, tornou-se uma abstração metafísica. Marcone
Perillo, governador de Goiás, disputará com Tasso a presidência efetiva,
convicto de que nenhum dos dois dará jeito na encrenca.
As eleições do ano que vem (se o
ano realmente vier) já não serão bipolares, como as anteriores. Prometem um
vasto elenco de candidatos, o que está longe de significar grandes alternativas
ao eleitor. Quantidade, desta vez, será antônimo de qualidade.
O descrédito – que vai dos
partidos às urnas eletrônicas – permeia todo o processo, que se antevia
precedido de profunda reforma eleitoral. A reforma não veio - e a esperança de
renovação do país muito menos. O candidato que mais cresce nas pesquisas, Jair
Bolsonaro, evoca no imaginário popular uma ruptura com a conjuntura presente,
seja lá em nome do que for.
O eleitor, desencantado, parece
dizer que aceita qualquer coisa, desde que não seja o que aí está. O cenário
não é dos mais promissores, para dizer o mínimo.”
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AGD comenta
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