Por Ruy Fabiano
É estranha a resistência do TSE e
da esquerda partidária brasileira ao voto impresso, como registro complementar
ao voto eletrônico. O Congresso aprovou, em 2015, projeto nesse sentido, de
autoria do deputado Jair Bolsonaro, para viger já em 2018.
A presidente Dilma Roussef, sem
maiores explicações, vetou-o, mas o Congresso derrubou-lhe o veto. Tudo estaria
resolvido não fosse um detalhe: a Justiça Eleitoral. Lá, a resistência
persiste.
Alega-se que, por razões de ordem
financeira e operacional (não exatamente esclarecidas), só se poderia cogitar
da mudança a partir de 2022. O presidente do Tribunal – e também ministro do
STF -, Gilmar Mendes, considera o temor às urnas mera paranoia. E garante que são
seguríssimas. Não explica por quê.
Seu diagnóstico conflita com o de
parcela expressiva da comunidade científica brasileira e internacional – e com
o da própria empresa que fabrica as urnas e treinou técnicos do TSE para o seu
manejo, a Smartmatic. O CEO da empresa, Antonio Mujica, em entrevista em
Londres, há três meses, admitiu que são violáveis.
Mais que isso, revelou que foram
violadas nas eleições para a Constituinte da Venezuela, este ano, aumentando em
mais de 1 milhão o número de eleitores que efetivamente votaram.
As urnas, postas sob suspeita no
Brasil desde a reeleição de Dilma, cuja apuração quase secreta (havia apenas 23
pessoas acompanhando-a, sem fiscais partidários), têm mais defensores que
Gilmar - o PT e seus aliados de esquerda, por exemplo. No entanto, não lhe
acrescentam quaisquer argumentos.
Em julho, foi realizada em Las
Vegas, EUA, a maior conferência “hacker” do mundo, a Defcon, evento que ocorre
anualmente desde 1993. A deste ano teve como foco as urnas eletrônicas de
votação. Todos os modelos testados, inclusive o fabricado no Brasil, foram
violados em menos de duas horas.
Alguns, segundo Ronaldo Lemos,
representante do MIT Media Lab no Brasil, “foram hackeados sem sequer a
necessidade de contato físico, utilizando-se apenas de uma conexão wi-fi
insegura”.
E ainda: “Outras foram
reconfiguradas por meio de portas USB. Houve casos de aparelhos com sistema
operacional desatualizado, cheio de buracos, invadidos facilmente”.
O fato, diz ele, é que “todas as
urnas testadas sucumbiram”. Vejam bem: todas. E com um detalhe: a manipulação
de uma urna digital, segundo Lemos, “pode não deixar nenhum tipo de rastro,
sendo imperceptível tanto para o eleitor quanto para funcionários da Justiça
Eleitoral”. O crime perfeito.
O voto impresso, como complemento
ao voto eletrônico, pode ser um inibidor da fraude: o eleitor vê a confirmação
de sua escolha numa cédula impressa, que cai numa urna convencional, que será
lacrada para eventual recontagem. O óbvio em ação.
Isso previne outro truque, constatado
na Defcon, segundo Lemos: “Uma máquina adulterada pode funcionar de forma
aparentemente normal, inclusive confirmando na tela os candidatos selecionados
pelo eleitor. No entanto, no pano de fundo, o voto vai para outro candidato,
sem nenhum registro da alteração”.
Não são suposições ou meras
paranoias, como sugere o ministro Gilmar Mendes, mas constatações de
especialistas que puseram a mão na massa. O que se deduz é que, nos termos em
que se realizam, as eleições brasileiras não são seguras.
Podem até mesmo ter produzido
vencedores de araque já há alguns pleitos. Pelo perfil dos que nos governaram –
e dos que ainda governam -, não é despropositada (embora inútil) tal ilação.
Foram capazes de outras aberrações de calibre equivalente.
O risco, no entanto, é insistir
em nada fazer quanto às próximas eleições, dado o que já se apurou a respeito
com relação aos procedimentos até aqui utilizados. Há, sim, suspeições – e,
como se vê, fundamentadas. E a maior é alegar despesas para descumprir a lei. O
TSE alega que o custo de colocar impressoras nas juntas eleitorais seria de R$
2,5 bilhões. Ora, o fundo eleitoral aprovado pelo Congresso é de R$ 3,8 bilhões
para financiar os partidos.
Temer, para fazer frente na
Câmara às duas denúncias que lhe moveu a PGR, liberou emendas parlamentares que
montam a R$ 2,8 bilhões. E só na Petrobras os desvios de recursos, nos governos
petistas, ultrapassam R$ 42 bilhões. Por que a preocupação de economizar
exatamente nesse quesito? Sherlock Holmes, com seu gênio dedutivo, talvez
dissesse: “Elementar, meu caro”.
O certo é que, quando nem as
eleições merecem confiança, é a própria democracia que já acabou.”
------------
AGD comenta
Sem comentários
Nenhum comentário:
Postar um comentário