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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

De mal a pior





Por Mary Zaidan

A um ano das eleições gerais, os protagonistas conhecidos na disputa para o Planalto impressionam. Não por ideias, plataformas ou coisa que o valha. Mas pela falta delas. Pela repetição de vícios e modos.
À criatividade zero somam-se a desconexão com o eleitor e mais do mesmo: as mentiras de Lula nos palanques antecipados, portanto ilegais, as brigas fraticidas entre os tucanos e os repetidos atores na terceira via: Marina Silva, Ciro Gomes, Cristovam Buarque.
As novidades ficam por conta de uma aventura embalada por Luciano Huck e do ultradireitista Jair Bolsonaro, que alimenta o sonho de ser o Donald Trump tupiniquim.
Bolsonaro tem surfado no neomilitarismo, que tem lá os seus adeptos, mas que dificilmente arregimentará maioria. E, ainda que com jovens bons de barulho nas redes sociais venha conseguindo angariar apoios, atrai ódio em proporção similar.
Na outra ponta, o ex Lula lidera absoluto. Mas não tem qualquer chance de chegar lá com as tais caravanas que, nas melhores plagas petistas, Nordeste e Minas, reuniram menos gente do que o ex imaginava, e que o PT, a CUT e os demais movimentos ditos populares prometeram.
Escaldado por duas derrotas consecutivas para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno de 1994 e 1998, Lula sabe que tem de ir além do campo à esquerda, que, assim como o da direita de Bolsonaro, tem limite definido. Daí o perdão aos “golpistas”, diga-se, ao PMDB.
Lula foi quem desenhou e firmou a parceria com Michel Temer, ungido vice da pupila Dilma Rousseff. Foi ele quem alinhavou o apoio do PMDB que hoje ocupa com primazia as páginas do noticiário político-policial sem que o PT receba créditos pelo patrocínio da roubalheira geral e, em particular, de Sérgio Cabral e cia.
Pouco importa. Pragmático, Lula quer renovar a aliança com o PMDB.
Por dever de ofício, vai repudiar publicamente Temer, mas já abriu as portas para Renan Calheiros e os seus, para aliados de Eduardo Cunha. Do contrário, teme colaborar para que os votos do centro – a maior faixa da população -- caiam no colo de novidades à la Huck ou dos tucanos, ainda que estes estejam tropeçando no peso de seus bicos.
O PSDB é um caso à parte. Tem especial talento para conspirar contra si, em especial quando as chances de poder se mostram promissoras. Seria a alternativa natural entre candidaturas extremas, mas não consegue lidar nem com as divergências internas, quem dirá com os conflitos cotidianos que um governo exige. Antes das urnas, tem dois dilacerantes confrontos intramuros agendados: a guerra pela presidência da sigla e uma ainda não definida prévia para escolha do candidato ao Planalto.
Enquanto os tucanos se imolam em vez de amolar seus bicos para a disputa de outubro, Bolsonaro mordisca parte do eleitorado do PSDB utilizando o Movimento Brasil Livre e outros do tipo. E Lula tenta alargar sua rede de apoios para além dos fiéis.
Mas está só.
Perdeu para a prisão seus dois mais preciosos auxiliares – José Dirceu, o “capitão do time”, e Antonio Palocci, o homem que dialogou com a classe média e a atraiu para o então chefe. E o rumo, com a morte do ex-ministro e salvador de todas as trapalhadas, Márcio Thomaz Bastos, há exatos três anos. Abandonou muitos companheiros desde o mensalão e hoje inspira mais desconfiança do que crédito.
Em seu favor, o candidato Lula tem o fato de as investigações concentradas no PMDB darem alívio à folha corrida do PT e dele próprio.
Com o PMDB nas páginas nobres da ladroagem, perdeu fôlego a difusão de notícias sobre os desvios petistas. Poucos lembram, por exemplo, que a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, é ré por corrupção e lavagem de dinheiro.
Lula, com ganhos declarados de R$ 6 mil da bolsa-anistia e R$ 25 mil de pró-labore da sua empresa de palestras, não mais foi cobrado pelos R$ 9 milhões de previdência privada que só vieram à tona depois de o juiz Sérgio Moro pedir o bloqueio da conta. Muito menos dos R$ 21,6 milhões que o Ministério Público Federal quer bloquear.
Nem o mais fundamentalista dos militantes seria capaz de explicar como Lula, o nordestino pobre que virou presidente, amealhou tal fortuna. Superou com folga, em pouquíssimo tempo, a elite dos 172 mil entre os 200 milhões de brasileiros que, segundo o Global Wealth Report 2016, realizado pelo Banco Credit Suisse, têm mais de U$ 1 milhão, R$ 3,4 milhões ao câmbio de hoje. Lula tem.
A fogueira na qual o PMDB arde agora protege a fritura de Lula, que, amanhã, estará azeitado com o mesmo PMDB dos escândalos de hoje.

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