Por
José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Nos arredores da pequena cidade de Ribeirinha, o seu sitio
era um ponto dos moradores conversarem sobre os mais variados assuntos.
Sentava-se no tronco de arvores arrancado, e ali todas as tardes batiam papo. Tomé
ficava olhando para o terreiro grande, com pés de jacas, mangas rosa e abacate.
As galinhas no terreiro rodopiavam no aguardo a distribuição do caroço milho
jogados no terreiro; ali perto o chiqueiro com dois bacorinhos baés, fuçando e
roncando junto ao uma gamela cheia de caldo de feijão e farinha. E mais na
frente um burrinho focinhava a grama junto com o cavalo de estimação para ir à
feira. Olhava com gosto o seu pedaço de terra, plantada e cultivada. O pequeno
açude com agua limpinha que costumava colher para beber e para uso domestica. Ali
estava a sua vida, ali estava a sua felicidade. Nada mais queria neste mundo. Acendia
o seu cachimbo com fumo de rolo cortado com um canivete e acedendo com um tição
fumegante dado por Dona Redonda, sua mulher, apelido, pois se chamava Violeta. Dava um trago um suspiro olhando para o céu azul e o sol
procurando se esconder. Fim de tarde. O seu vizinho seu Bernardino, Bene, todas
as tardes lá estava para prosear. Aparecia de vez em quando seu Jacó, seu
Chico, seus vizinhos, mais longe. Seu Tome tinha ido ao Ceará e seu Bernardino,
Jacó e seu Chico desejava saber as novidades da cidade grande. Nunca tinha
cruzado uma cidade que não fosse a sua Ribeirinha. “Boas tardes! Meu cumpade,
como foi à viagem? Ora meu cumpade, tu sabe qui Alfrredim é tinhoso, quando
bota no quengo uma coisa vai brigar até que aconteça. É riento e queria porque
queria que eu fosse para a capitá. Conhecer outro mundo. Viver outas coisa que
não via. Tanto insisti que fui pra lá. Esta viagem que num era do meu agrado,
tu sabe como sou não gosta de arredar o pé do meu sitio. Aqui tem de tudo não é
mesmo cumpade? Mas mesmo assim fui. Sái
no amanhecer do dia. Tumei o ônibus eu e
mia veia dona Redondinha. Viajamos muito tempo, cheguei a recife quase de
noite. um monte de automovel e ônibus rodando a ruá. muita luz nunca vi coisa
igual. Fui pra uma pensão perto da rodoviária e ali me atrepei e olhei pela
janelinha um fussue danado de pessoa indo de um lado pra outro como formiga
perdida. Eu lá de cima via tudo que doidice. Fui dormir mas não dormi a peste
da muriçoca rodopiava os meus ouvido, o calor agoniava o meu cangote e dissia
um suor mulhando a camisa, rolava de um lado prá outro e nada de dormi. Redonda
roncava, ou mulher danada nada incomodava enrolada em pano branco. O dia
amanheceu e eu sem dormi me lavei numa pia num corredor com gente na fila. Não
estava acustumado com isso, a minha mué saiu de chinelo foi a privada da mueis.
Tomei um café frio e rim num lanchonete com pão amassado e ovo mole, igual a Redondinha.
Paguei e desci para pegar o avião pru ceara. O sol queimando o braço e eu com
maleta e sacola na mão e o suor escorrendo pela cara. Gente como um diabo. indo
pra lá e pra cá. O carro que me levou para o aeroporto chamado taxi, nome esquisito,
saiu em disparada. Casa em cima de casa. Alto que num avista o fim. Redondinha
estava abismada. a rua cheia de gente e carro pra todo lado. cheguei no campo
de pouso. Desci com duas maleta e duas sacola. Levava queijo de coalho e
manteiga, farinha fininha como se fosse gome, feijão pretinho e dois quilos de
charque e três rapaduras para adoçar a boca. Saímos e entramos num salão
grande. gente pra lá e pra cá. Algumas gente falando que num entidia, parecida
ser estrangeiro. O carregador me levou eu
pra um balcão bonito que só vosemesce vendo. Uma moça vestida de preto e gorro
na cabeça com um lenço vermelho no pescoço, sorridente com os dentes no
quarador – bom dia meu velho. Mais respeito eu sou velho, mas sou de Ribeirinha,
terra de cabo macho, viu. A moça ficou olhando pra mim. Sou cabra macho e não
aceito afago de ninguém, tenho a minha Redonda que dá conta do recado. Me de
sua identidade e dela também. Pediu a moça, sorrindo. Remexi no bolso e Redonda
em uma carteira pendurada no braço, catando dentro onde se encontrava a sua
identidade, depois de muito tempo achou a desgraçada e entregou a moça que
continua com os dentes no quarador. Deu um papel e ficou com a maleta e sacola
e disse ali naquele portão o senhor vai entrar para pegar o avião. Fui correndo
e olhando para todos os lados por que dizia que tinha ladrão por todos os
lados. O meu dinheirinho estava no bolso da cueca, feita pra viagem. Duvido que
algum cabra tenha coragem de vir me abocanhar que eu mato o safado de ponta
pés. Entrei e sentou-me numa cadeira fria e sem encosto. Fiquei esperando e
logo fui chamado. Um microfone, falou alto, dizendo que o avião ia pro ceara. Entrei
num ônibus pensei que ia voltar, mas o desgraçado foi caminhando devagar até o
avião que se encontrava parada. Subi a escada devagarzinho e com medo, e
Redonda desconfiada pisa leve no degrau, segurando uma bolsa vemelha comprada
no vuco vuca de seu Mané da Foto. Será
que este troço vai voar como disse as pessoas? Sentei-me numa cadeira e Redonda
em outra. Um moço igual à outra sorrindo disse aperte o cinto. Eu cumpadre num
sabia de nada, deu-me a costa e foi embora. Olhei para o cinto, já está
apertada. Redonda disse que estava com uma cinta na barriga que já estava
sufocando de tanto apertada. O moço voltou a ajeitou-me, prendeu com cinto
preto encravado na cadeira e uma fivela branca. O bicho começou a rosnar.
Andando de ré aprumou-se e saiu devagarinho e dentro de pouco ouvi uma
acelaração medonha o bicho correu pelo uma pista e saiu do chão, lá de cima via
as casas pequenininha e o mar grandão e
verde como este manga pendurada ali. Cheguei na capita, Furtaleza, lá tava Alfredim. O pouso foi de dar medo. O
bicho bateu no chão, com se tivesse estrebuchando, e freio fui pra frente e
voltei pra traz. Me benzi, como Redonda branquinha da silva, enjoada tremeu.
Tomei um taxi, disse Alfredim, este carro que leva pra gente onde quer e
cheguei na casa um luxo. Tudo tinha, fomos descansar no outro dia fomos à praia,
ver o mar que eu nunca tinha visto, a não ser televisão de dona Josefa, uma vez.
Nunca tinha visto tanta agua, Bene, nunca. Agua salgada. Verde igual à folha de
bananeira. Ia lá ia cá à agua. A areia fininha, pisando atolava o pé, Molhei
meus pés arregaçando a calça. Redonda
com seu vestido não quis vestir calça e nem butar maio. As moças não tinha
respeito e nem vergonha, vestinha taquinho de pano cubrinco aquilo e aquilo o
resto todo pra ver. Andava de um lado pra outro e a gente fica só olhando. Pouca
vergonha! Maluquice. O meu Padim Cicero, disse certa vez que “as mulheres ia
andar nua e ai está a verdade, do Santo Padre”. Não são verdade meus cumpadre. O sol desgraçado de quente, pior do que o
daqui. Fiquei vermelhão, Redonda muito branca ficou rosada. Mais o que mais
gostei foi dum mercado lá pra bandas da cidade. Oxente nos num tamo na cidade,
disse pra Alfredim. Muita gente, muita bugigangas, um enroscado danado subindo
em curva todo tempo. muchila, sapato, paninho de cubir mesa, rede de toda cor,
corda, barbante, panelas, chapeu de palha
e boné de toda cor, uma miseria mas parecia a feira de caruaru, cumpadre. Mas
sabe o que mais gostei! foi a carne de bode comida lá pro cima em barzinho com
meu fio. Olhem coisa boa pedi um à bicada lá veio o homem com um copo é um
quartinho. Bebi e comi. Voltei e to aqui cumpdre. São e salvo. Tomaram café com
bolacha e despediram e foram embora. Já era noite.
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