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terça-feira, 14 de abril de 2015

BOCA DE PRAGA




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Era e ainda é costume das pessoas quando estão com raiva de alguém soltar dizeres que a “pessoa é azarenta”, que supostamente faz “maus presságios” que acabam por se converter em realidade. Em nosso interior, principalmente no meu querido Bom Conselho, quando pequeno, morava na Rua do Caborje, quando qualquer coisa rogava-se praga, mesmo na brincadeira, dizia-se “filho desça já daí, você vai cair” ou “Se botar este pedaço todo na boca você vai se engasgar” “Você vai ser atropelado”, “vai levar um coice de burro”, “você vai se afogar no açude da Nação” e assim por diante, era uma advertência que muitas das vezes tomava-se como verdadeira, e às vezes acontecia o que se dizia “bem feito, não te avisei” ou “boca de praga” dizia a pessoa afetada.  Mas conta-se – “Duas senhoras moravam na mesma rua. Eram amigas, amicíssima. Todos os dias estavam sentados na calçada para botar a conversa em dia falando da vida alheia, bisbilhotando o que se passava ao seu redor. Ria com os comentários. Cala boca mulher! Só nós sabemos e aqui fica entre nós. Não diz a ninguém, viu! Oxente mulher eu sou de fofoca apenas conversamos o que se comenta na rua. Ninguém escapava da língua ferina destas duas senhoras. Por razões de brigas de filhos, elas se intrigaram. Não mais se falavam. Soltavam pragas uma com a outra. Dona Aurora era mais escandalosa, sempre soltava praga para sua ex-amiga – “esta baixinha ainda vai virar um palito”, dizia ela pra a outra. Verinha dava um bochecho e sai de nariz empinado “e tu vai virar uma gorducha que ninguém te quer”. O teu marido vai arranjar outra, tu vai ver gorducha de uma figa. Você vai se lascar, pois vai ficar tisica. E tu mulher vai estourar de gorda, ei de ver a gordura estourando por todos os lados. E não tem cura são caixão e vela preta! Cada dia uma para outra desejava o que não presta, mesmo em pensamentos com os olhos maus de quem não quer nada mais há não ser a desgraça da outra e sorrir depois, - eu não disse que tu ias virar um palito! Estás vendo cada dia perde um quilo e vais ficar rouca. E tu esta engordando vê a tua barriga crescendo, os peitos caídos e bochechas na cara, é pressagio e eu não erro nunca na minha previsão, tu vais ver! Vais morrer logo e eu vou sorrir acompanhando o teu enterro. Vou colocar um cacho de “cravo de defunto” em tuas mãos frias e brancas e jogar um punhado de terra no teu caixão no cemitério. A briga continuava até que o Padre da comunidade soube desta rixa, pois as duas pertenciam ao Apostolado da Oração do Coração de Jesus Chamou-as em sua casa as duas senhoras para ouvir o que elas tinham a dizer – soltar praga ou desejar mal para outra é pecado grave, a alma não se salva e irão para o inferno. Numa tarde de sexta feira, as duas foram à residência do padre. Uma atrás da outra sem se olharem. Bateram na porta e entraram e o sacerdote já estava as esperando sentado em uma cadeira no terraço. Sente-se. O que é que esta havendo entre vocês duas? Sempre se deram bem e porque agora uma e a outra deseja mal, rogando praga, coisa que não condiz com a nossa religiosidade. O que é? Digam. As duas caladas sem coragem de falar. Diga, repetiu o padre Anselmo. A gordinha começou a falar olhando para o chão tremula sem coragem de encarar o padre e disse – tudo começou quando um dos meus filhos esbofeteou o filho dela e ai começou a me rogar pragas dizendo que eu ia ficar um palito, curvada, e teria uma doença que eu morreria a qualquer momento. Deste momento fiquei irada e soltei uma praga contra ela – Ela vai ficar gorda e estourar. Ninguém quer saber dela, nem mesmo o marido, seu Martinho, arranjaria outra. Ai começou estes desaforos que ate agora não desata este nó. E você Dona Violeta, suava em gotas, o que diz – nada padre tudo já foi cantado e recontado, o que ela me desejava eu desejava em dobro para ela. O padre aconselhou a duas e disse não quer mais ver esta desarmonia aqui na igreja, peça desculpa uma para outra, agora. Levantou-se com a sua batina surrada pondo os chinelos levantando-se da cadeira. Vamos levante-se e peça desculpas. Desconfiada uma levantou-se devagarinho, olhando para o chão e a outra da mesma forma, sem que nenhuma tomasse a iniciativa de se desculparem. O padre olhou uma para outra agora dê a mão e se abracem. O que fizeram uma chorando no ombro da outra. Agora vocês vão ter uma penitencia, vão rezar cada uma vinte terços durantes os oito dias. Eu não vou ver esta penitencia, mas Deus esta vendo e qualquer coisa ele vai punir, quando vocês estiverem na sua presença lá no céu, portanto não se faça de esquecidas. Agora vão embora com a minha bênção. As duas saíram choramingando e desfez todo o mal que uma deseja para outra e voltaram à amizade com os mesmo defeitos, fofocar e bisbilhotar a vida dos outros, menos as delas. 

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