Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Era e ainda é costume das pessoas quando estão com raiva de
alguém soltar dizeres que a “pessoa é azarenta”, que supostamente faz “maus
presságios” que acabam por se converter em realidade. Em nosso interior,
principalmente no meu querido Bom Conselho, quando pequeno, morava na Rua do Caborje,
quando qualquer coisa rogava-se praga, mesmo na brincadeira, dizia-se “filho
desça já daí, você vai cair” ou “Se botar este pedaço todo na boca você vai se
engasgar” “Você vai ser atropelado”, “vai levar um coice de burro”, “você vai
se afogar no açude da Nação” e assim por diante, era uma advertência que muitas
das vezes tomava-se como verdadeira, e às vezes acontecia o que se dizia “bem
feito, não te avisei” ou “boca de praga” dizia a pessoa afetada. Mas conta-se – “Duas senhoras
moravam na mesma rua. Eram amigas, amicíssima. Todos os dias estavam sentados na
calçada para botar a conversa em dia falando da vida alheia, bisbilhotando o
que se passava ao seu redor. Ria com os comentários. Cala boca mulher! Só nós
sabemos e aqui fica entre nós. Não diz a ninguém, viu! Oxente mulher eu sou de
fofoca apenas conversamos o que se comenta na rua. Ninguém escapava da língua
ferina destas duas senhoras. Por razões de brigas de filhos, elas se
intrigaram. Não mais se falavam. Soltavam pragas uma com a outra. Dona Aurora
era mais escandalosa, sempre soltava praga para sua ex-amiga – “esta baixinha
ainda vai virar um palito”, dizia ela pra a outra. Verinha dava um bochecho e
sai de nariz empinado “e tu vai virar uma gorducha que ninguém te quer”. O teu
marido vai arranjar outra, tu vai ver gorducha de uma figa. Você vai se lascar,
pois vai ficar tisica. E tu mulher vai estourar de gorda, ei de ver a gordura
estourando por todos os lados. E não tem cura são caixão e vela preta! Cada dia
uma para outra desejava o que não presta, mesmo em pensamentos com os olhos
maus de quem não quer nada mais há não ser a desgraça da outra e sorrir depois,
- eu não disse que tu ias virar um palito! Estás vendo cada dia perde um quilo
e vais ficar rouca. E tu esta engordando vê a tua barriga crescendo, os peitos
caídos e bochechas na cara, é pressagio e eu não erro nunca na minha previsão,
tu vais ver! Vais morrer logo e eu vou sorrir acompanhando o teu enterro. Vou
colocar um cacho de “cravo de defunto” em tuas mãos frias e brancas e jogar um
punhado de terra no teu caixão no cemitério. A briga continuava até que o Padre
da comunidade soube desta rixa, pois as duas pertenciam ao Apostolado da Oração
do Coração de Jesus Chamou-as em sua casa as duas senhoras para ouvir o que
elas tinham a dizer – soltar praga ou desejar mal para outra é pecado grave, a alma
não se salva e irão para o inferno. Numa tarde de sexta feira, as duas foram à
residência do padre. Uma atrás da outra sem se olharem. Bateram na porta e
entraram e o sacerdote já estava as esperando sentado em uma cadeira no
terraço. Sente-se. O que é que esta havendo entre vocês duas? Sempre se deram
bem e porque agora uma e a outra deseja mal, rogando praga, coisa que não
condiz com a nossa religiosidade. O que é? Digam. As duas caladas sem coragem
de falar. Diga, repetiu o padre Anselmo. A gordinha começou a falar olhando
para o chão tremula sem coragem de encarar o padre e disse – tudo começou quando
um dos meus filhos esbofeteou o filho dela e ai começou a me rogar pragas
dizendo que eu ia ficar um palito, curvada, e teria uma doença que eu morreria
a qualquer momento. Deste momento fiquei irada e soltei uma praga contra ela –
Ela vai ficar gorda e estourar. Ninguém quer saber dela, nem mesmo o marido,
seu Martinho, arranjaria outra. Ai começou estes desaforos que ate agora não
desata este nó. E você Dona Violeta, suava em gotas, o que diz – nada padre
tudo já foi cantado e recontado, o que ela me desejava eu desejava em dobro
para ela. O padre aconselhou a duas e disse não quer mais ver esta desarmonia
aqui na igreja, peça desculpa uma para outra, agora. Levantou-se com a sua
batina surrada pondo os chinelos levantando-se da cadeira. Vamos levante-se e
peça desculpas. Desconfiada uma levantou-se devagarinho, olhando para o chão e
a outra da mesma forma, sem que nenhuma tomasse a iniciativa de se desculparem.
O padre olhou uma para outra agora dê a mão e se abracem. O que fizeram uma chorando
no ombro da outra. Agora vocês vão ter uma penitencia, vão rezar cada uma vinte
terços durantes os oito dias. Eu não vou ver esta penitencia, mas Deus esta
vendo e qualquer coisa ele vai punir, quando vocês estiverem na sua presença lá
no céu, portanto não se faça de esquecidas. Agora vão embora com a minha bênção.
As duas saíram choramingando e desfez todo o mal que uma deseja para outra e
voltaram à amizade com os mesmo defeitos, fofocar e bisbilhotar a vida dos
outros, menos as delas.
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