Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Designa-se uma pessoa como azarento quando é uma pessoa sem
sorte, apenas no meu entender é uma superstição adquirida ao longo de tempo,
principalmente no interior, mesmo assim vamos falar de um azarento, que
conviveu conosco, e considerava que nada na sua vida dava certo e com isto ele
ficava desesperado, e ansioso o nosso Juquinha. Alto e louro, olhos azuis. Uma
cabeleira que dava inveja. Andava sempre alinhado e era mantido pelos seus
pais, logo no início da sua vinda para a Capital. Morava no Recife, cidade de
dos seus sonhos desde menino que agora estava se realizando, aonde veio para
estudar, deixando o seu interior Aguazinha. Logo que aparecia na rua às pessoas
apontavam para ele, lá vem o azarento, não fale nada com ele, pois pode trazer
azar para nós. Isto criou um transtorno desmedido e fez com que deixasse a sua
cidade natal. Mas, mesmo ele, o Juquinha se sentia azarado, tudo que fazia ou
queria fazer ou realizar dava por água abaixo. Não tinha namorada, a que arranjou
dispensou - azar; no vestibular fez por três vezes e não passou em nenhuma, a
que tinha chance errou a ultima questão, não passou azar; no emprego o azar lhe
perseguia, quando estava se dando bem acontecia algo errado, - azar; e assim
foi se criando na mente de Juquinha que o azar que lhe perseguia. O padre da
igreja Nossa Senhora de Lourdes, o aconselhava, não pense nisso isto de azar é
folclórico. Ficou pensativo. Esta lenda
interiorana passou a fazer parte da sua vida. Morava em uma pensão na Rua
Velha. Ainda ninguém sabia deste fato, que ele mesmo contou para todos, quando
caiu do segundo degrau da escada – isto é um azar. A partir deste momento, os
convivas do pensionato começaram a ironizar e levar tudo na brincadeira.
Qualquer coisa que acontecia, é azar de Juquinha. Por menor que fosse o caso,
todos voltavam a dizer Juquinha o azarento. Certa vez saímos em domingo à tarde
para assistir um filme no Cine Moderno. A rua sem qualquer movimento. Tudo
corria bem e já íamos pensando no que ia acontecer porque Juquinha nos acompanhava.
Ao chegarmos à Rua da Aurora, para atravessar a Ponte da Boa Vista, tinha uma
poça de agua lamacenta. Não notamos, e neste momento passou um carro em
velocidade jogando aquela agua podre nos melando todos, calça e
camisa e todos voltamos para o pensionato para trocar de roupa. Azar do
Juquinha que estava conosco. Outra vez, íamos para o bar Mustang na Avenida Conde
da Boa Vista, quando passávamos na Rua José de Alencar, Alcimar levou uma topada
que soltou o solado do sapato, Azar do Juquinha, que nos acompanhava. Ele mesmo
contou – indo para o trabalho numa certa manhã quando atravessava a Pracinha do
Diário, um pombo sobrevoou e defecou em seu ombro manchando a camisa e, disse
hoje o azar esta me perseguindo, tantas pessoas estão passando e este maldito
pombo defeca em mim. É azar demais! Mas tudo isto era levado em brincadeira,
nada a serio. Muitas das vezes o azarento não queria sair conosco para tomar
uma cervejinha no pátio de Santa Cruz, pois assegurava que ia dar azar na
noitada. Insistíamos e ele ia meio desconfiado. Passou-se o tempo e saiu da
pensão. Há mais ou menos dois anos encontro com ele na Avenida Guararapes, já
idoso escorado em uma bengala, lucido com os seus setenta e cinco anos.
Aperta-me as mãos, hoje não é dia de azar e sim dia de sorte, pois te
encontrei. Sorri. O azar é o meu te encontrar, rimos. Como vai? É meu amigo
esta cisma do azar ainda me acompanha não me larga, não deixa me sossegado e eu
convivendo com este maldito pensamento. Casei-me e a mulher morreu, deixando-me
com dois filhos. Em seguida casei-me novamente, homem não pode viver sem uma
mulher ao seu lado, a “quenga” amasiou-se com um serviçal que dava apoio na
limpeza da casa, desgraçada. Mandei embora, não fiz nenhuma desgraça, pois não
valia a pena me desgraçar. Tá ai penando pela rua do bairro, o cara a largou
com uma mão na frente e outra atrás, Não é azar? É! E assim vou vivendo caindo
ali e acola. Vamos tomar uma cerveja,
antes que o azar me chegue. Tens coragem de me acompanhar. Sentamo-nos à mesa o
garçom colocou uma cerveja e dois copos, um caindo e se quebrando.
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