Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Quando o carteiro
chegou e o meu nome gritou com a carta na mão, ante surpresa tão rude não sei
como pude chegar ao portão. Marilene ouvia a musica no radio ligado na cozinha e som estridente.
Varria a casa e olhava de vez em quando as panelas no fogo. De vez em quando
também cantava a canção que ouvia no radio. Voz desafinada, mas cantava. Não se
incomodava com as criticas da mãe, tu não sabes cantar Marilene. Cala esta
boca. Morena, cor de canela, olhos claros e sedutores. Cabelos longos e
castanhos dava a ela uma beleza que fazia inveja a muitas moças. Morava com o irmão, Fidelis e sua mãe Naninha
já idosa. Marilene baixe este radio! Quer me deixar mouca! Vai baixa este radio
se não eu quebro este desgraçado que todo dia fica tocar. Vamos, vamos! Marilene
afobada saiu e baixou o rádio, mamãe esta ficando esclerosada, não gosta mais
desta musicas desde que meu pai o Abílio faleceu. Seu pensamento estava no
namorado. Ela ficou sentida e qualquer musica ela fica nervosa, recordando o
seu passado. Marilene namorava o seu vizinho há muito tempo. Já se considerava
noiva. O namoro era duradouro e já pensavam em se casar no final do ano, dia 08
de dezembro uma data bonita onde todos devocionais de Nossa Senhora da
Conceição, comemorava. Ficou desempregado, e resolveu ir para São Paulo, tentar
a sorte. Muitos acharam que não deveria outros a favor e lá se foi o Betinho.
Apanhou o ônibus na rodoviária, com todos na calçada em uma manhã fria e nuvens
escuras acenando quando da partida do ônibus. Marilene quase morria de chorar,
vestida em um casaco cor de rosa. Com lenço na mão enxugava as lagrimas que
escorria pela face rosada. A sua mãe
enrolada em um chalé preto rezava pegando na mão de sua filha. Deus te leve,
não se esqueça de nós. Aguardamos com ansiedade uma carta sua. O adeus quando o
ônibus partiu, acenando gritando pela janela, não esquecerei vocês nunca, breve
voltarei. Assim que eu chegar lá em São Paulo escrevo, dando as minha noticias.
Ela balançou a cabeça aceitando aquela afirmação. Voltaram para casa,
choramingando. Passou o primeiro mês, nenhuma noticia nenhuma carta, segundo e
terceiro mês nada de carta ou mesmo um telegrama. Diariamente o carteiro
passava na sua rua e ela na janela esperando por uma carta que não chegava.
Todos os dias esta penitencia esta aflição e angustia às 16 horas. O carteiro
já de longe balançava a mão informando que nada tinha para ela. O tempo passava
e o Betinho não dava noticias. Todos estavam preocupados com o seu
desaparecimento. Será que morreu? Se morreu alguém já teria falado, pois tinha
os documentos em sua carteira. E assim Marilene
espera uma carta que nunca vinha, já fazia um ano e nada. Mas não desanimava.
Algum dia ele se lembrara de que deixou uma noiva a sua espera. Era cotejada
por outros rapazes, mas não dava bola, pois tinha um compromisso assumido com o
seu noivo. Certo dia, o carteiro vinha depressa. Alegre e sorridente com uma
carta na mão. A moça estava na janela e desceu apressadamente para ir até o
portão de ferro que protegia a casa. Saiu correndo, deixando a porta aberta.
Segurou a carta como segurava um tesouro. Lembrou-se da musica ouvida pela manhã
- Porem não tive coragem de abrir a
mensagem porque na incerteza eu meditava Dizia: será de alegria ou será de
tristeza, cantarolava baixinho, pálida e suando frio. O envelope lacrado, aéreo com as bordas verde e amarelo. Beijou o
envelope. Entrou contente. Sentou-se na poltrona e sua mãe perguntou por que
tanta alegria. Mãe ele escreveu para mim. Agora vou matar as saudades e saber
como ele vai ao trabalho em São Paulo. Ele não tinha tempo de escrever é o que
penso. Abriu devagarinho cortando com uma tesoura, antes olhando contra a luz
para ver se não cortava a carta. Puxou para si o papel que estava escrito assim
– “Querida
Marilene. Escrevo estas pequenas linhas para dizer-lhe que eu não escrevi antes
com vergonha. Chegando a São Paulo me instalei numa hospedaria. Lá tinha uma
moça Creuza, filha da dona e eu com fraqueza de homem me envolvemos com ela.
Fizera-me casar, o seus irmãos me ameaçaram de morte e eu casei contra a
vontade. Podia fugir, mas ele me encontrava dizia e quando me encontrasse me
castrava. Fiquei apavorado com esta ameaça. Neste envolvimento apareceu uma
criança linda e forte, Ângela, minha filha. Agarrei-me a ela, pois uma criança
nada sabe da safadeza dos pais. Não gosto dela, mas é o jeito esta ao seu lado
por causa da criança. Nunca me esqueci de ti, amava e ainda te amo, mas é um
amor impossível de realizar, somente em sonho, como sonho todas as noites em
você. Perdoa-me deste mal que te fiz. Não tenho coragem de voltar para minha
terra, sou um fraco. Agora esta tudo resolvido e você já sabem por que não te
escrevia - Betinho”. Chorou e amassou a carta tão
esperada jogou na lata do lixo. Quanta
verdade tristonha Ou mentira risonha uma carta nos traz E assim pensando,
rasguei sua carta e queimei para não sofrer mais.
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