Uma imagem (não autorizada) do show do Jessier |
Por Zé Carlos
Semana passada recebi uma mensagem familiar avisando-me
sobre um show do Jessier Quirino no Teatro Santa Isabel. O avisador sabe que “apriceio” os dois: o artista e o teatro.
Quando escrevo ainda estou sob influência do linguajar usado pelo Jessier e que
nos faz lembrar de nossos interiores e hoje nos faz rir também, quando vindo da
boca do grande artista.
O Teatro Santa Isabel é outra referência para mim, aqui no
Recife, por ter convivido com ele durante quase todo meu tempo na capital. Eu
diria que minha relação é apenas por fora do teatro, pois por dentro, fui
poucas vezes por lá. Em uma delas, fui ver um peça, junto com outros
bom-conselhenses, sendo um deles, o meu melhor amigo o Zé Rato Branco, ou saudoso
Zé Guedes. Fomos ver um peça com o Paulo Autran, chamada “Liberdade, Liberdade”. Não me lembro exatamente o ano, mas vivíamos
ainda os efeitos mais diretos de 1964, e ir àquele espetáculo ainda era
considerado um ato de rebeldia. O Zé Rato era mais rebelde do que eu e curtiu
mais. Sem muitos detalhes.
Modernamente, depois de muitas reformas, e agora na
comemoração dos seus 160 anos, eu tinha muita vontade de lá voltar, mas sempre
com preguiça, pois, para sair à noite, sou mais preguiçoso do que “cachorro de fateira” com diz o Jessier.
Mas, diante do clamor conjugal, eu me dispus a ir ao espetáculo. Três dias
antes e tudo lotado. Quando já estava mais descansado, alguém me avisou que
iria haver uma apresentação extra do espetáculo. Saí da preguiça e fui comprar
os ingressos. E fomos lá.
Antes de chegar nos finalmentes do espetáculo, devo escrever
sobre quanto é difícil hoje o deslocamento para qualquer ponto de nossa cidade,
a não ser para os shoppings, onde foi montada um infraestrutura que ainda nos permite
levar o carro e usar nossas prerrogativas de idosos, usando nossas vagas, que
conquistamos por serviços prestados à pátria.
Quando vamos para algo como o Teatro Santa Isabel, que foi
projetado em termos arquitônicos e urbanísticos para uma cidade com um décimo
da população atual, temos dúvidas atrozes de como chegar. Vamos de pé, de
carrro, de táxi, de metrô, de trem, de ônibus, de helicóptero, ou,
simplesmente, não vamos?
Para aqueles que, depois de alijar todos outros modos de
transportes, fica em dúvida entre o carro e um táxi, eu fiquei com o taxi. No
percurso de ida foi uma beleza, e quando cheguei lá, que soube que os
flanelinhas estão cobrando dez reais por vaga de estacionamento, eu fiquei
certo da minha escolha. Mas, aguardem a saída, que daqui a pouco eu conto.
Mesmo antes do espetáculo começar, para mim, e para minha
esposa houve outro espetáculo que foi o encontro com pessoas de Bom Conselho no
teatro, com quem ficamos conversando até o seu início, sendo a conversa menor
do que as lembranças que me passavam à cabeça. As pessoas encontradas eram a
viúva e duas filhas do meu professor Joaldi Soares.
Desde menino, sempre tive o maior respeito e admiração pelo
professor Joaldi e devo a ele muito do interesse que tive pelos estudos e pelo
meu progresso pessoal. Possa até dizer que além de professor, ele foi meu amigo
e até médico (que era o que ele era naquela cidade tão desprovida de
profissionais da saúde). Até hoje guardo numa perna o resultado de uma de suas
crueldades, como profissional zeloso, que é a marca da vacina de varíola. Foi
uma alegria muito grande encontrar suas filhas e esposa e com elas conversar.
E aí começa o espetáculo. O Jessier Quirino é um artista de
ponta. Destes que, tal qual Luis Gonzaga, divulga sua gente e seu povo com humor e graça
como ninguém. As histórias por ele contadas, se contadas por mim, não
arrancariam um sorriso maroto de ninguém. Ele, nos faz rir com as coisas mais
simples e histórias que até já ouvimos, e que em sua voz tornam-se
espetaculares.
Sem querer repetir o espetáculo suponha eu contando que na
infância, menino entre 10 e 12 anos só pensa em safadeza. Eu poderia contar
tais histórias porque as vivi lá em nossa terra e me lembro quantas vezes,
descia eu e a corriola para cortar as peias dos jumentos para eles pegarem as
jumentas, enquanto ficávamos embevecidos observando. Nenhum riso, tenho
certeza. No entanto, quando o Jessier Quirino refaz o diálogo dos seus
personagens assim:
- Eu vou cortar tua
bimba!
- Eu vou comer teu cu!
- Sem bimba?!
A plateia morre de rir, e eu com eles. Parece até diálogo de
políticos atuais:
- Eu vou cortar tua
verba!
- Eu vou te denunciar
à imprensa!
- Sem verba?!
Ou:
- Eu vou te contar que
você andou com o Cachoeira!
- Eu vou contar que
andastes com o Demóstenes!
- Sem o Perillo?!
E por ai foi um grande show do artista que nos faz rir por
mais de uma hora e meia, dentro de um teatro, que não tem todas as comodidades
de um teatro moderno, mas tem a beleza que adoramos dos tempos dos reis e
imperadores. Como se diz hoje, “tudo de bom”.
Para que eu não saia como mentiroso do “tudo de bom”, tivemos que voltar para casa e como fomos de taxi
tentamos voltar em um também. E aí aprendemos que a ida é um coisa e a volta é
outra, principalmente quando muitas pessoas tem a mesma ideia. Cadê os taxis?
Então o professor Joaldi continuou me ajudando através de
suas filhas, que ao nos verem perdido rodando pelo teatro, gentilmente, parou o
seu carro e nos deu aquela carona, a que seremos sempre gratos. Quem sabe se
ainda não estaríamos lá?
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Filme feito por mim das atuais instalações do Teatro Santa
Isabel que está muito bonito:
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