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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Os pacotes econômicos estão de volta, e muito mal amarrados





Por Zezinho de Caetés

Semana passada vi no Blog do Noblat um texto do senador Cristovam Buarque, que guardei para depois tecer alguns comentários. O título é muito sugestivo do caráter amador com que se faz política econômica hoje, no Brasil: “Os pacotes econômicos estão de volta”. Eu o transcrevo abaixo, mas, antes, não há como não colocar meu bedelho na questão.

Por longo tempo, durante quase todo o período do governo Lula, a economia internacional parecia até que havia abolido o sistema capitalista e suas crises cíclicas tão conhecidas. Aproveitando isto e os fundamentos de governos anteriores, Lula conseguiu passar todo seu tempo de governo como um grande administrador e quase se transformando em um deus vivo. Mas, a partir de 2008 voltamos a ser cobrados, em termos mundiais, pelos excessos que sempre ocorrem em períodos de prosperidades.

E só a partir de 2011 a “marolinha” nos atingiu de forma negativa, levando a desequilíbrios sérios, que, se não sanados, teremos um mau tempo pela frente. Um desses gargalos é a excessiva valorização de nossa moeda, menos por seu méritos, mas por deméritos das outras que não valem muito, pelos problemas da crise em si (como o dólar e o euro) ou de forma artificial como na China. E o texto do senador vai ao ponto.

Durante todo este período de prosperidade quisemos redistribuir nossa renda em termos quantitativos, através de programas sociais, sem mudar muito nosso perfil de produtividade, que só é aumentado de forma duradoura pelo investimento em educação e inovação tecnológica. Este é o nosso calcanhar de Aquiles. Não tivemos a mesma coragem do chineses e japoneses para copiar tecnologia, pelos nossos pruridos esquerdistas (que os chineses não tiveram) de evitar o capitalismo a qualquer custo e nem diversificamos nossa pequena poupança para aplicar no nosso setor do conhecimento e agora estamos encalacrados no longo prazo e tentando sobreviver, através de pacotes mal amarrados, no curto prazo.

No fundo perdemos uma grande oportunidade de mudar os fundamentos de nossa economia no período de prosperidade de Lula, e agora vamos ter que esperar para que a prosperidade volte para termos outra chance. Será que voltará e quando? Como não sabemos responder a isto leiam o texto do senador e meditem sobre o que pode nos acontecer.

“Os “pacotes” de curto prazo voltaram à rotina no lugar de políticas econômicas.

A razão disto está no entrelaçamento dos problemas de difícil desatamento que foram se acumulando e da resistência dos agentes econômicos a reorientarem os propósitos da economia brasileira, encontrando uma porta para novos tempos, ao invés de pacotes para manter o velho ritmo.

Estamos sequestrados pelo Real valorizado. Mantê-lo apreciado motiva desindustrialização, sua desvalorização eleva o custo dos insumos na produção nacional e dos preços dos bens importados.

Em uma economia aberta isso significa inflação. E escassez numa economia exportadora de bens primários e importadora de bens de alta tecnologia.

Estamos amarrados ao desempenho da indústria automobilística. A economia sofrerá se reduzirmos a produção e a venda de carros, mas para dinamizar a indústria de automóvel é necessário facilitar crédito e desonerar impostos, aumentando o impacto ecológico e o caos nas cidades.

E facilitar crédito leva à inadimplência, desonerar impostos gera problema de déficit e reduz investimento público, inclusive para as obras em infraestrutura urbana necessária para evitar o colapso, já em marcha, das cidades e estradas.

Os juros altos nos aprisionam há décadas, mas sua redução pode reduzir o fluxo internacional de divisas para o Brasil e insuflar crédito e consumo, com ameaça à estabilidade monetária, além do aumento ainda maior da inadimplência.

A exportação de “commodities” permite gerar superávits na balança comercial, mas implica em vulnerabilidade à demanda e à vontade de outros países, especialmente a China, devido à baixa elasticidade da demanda por esses produtos, e ao risco decorrente de novos produtores, especialmente na África.

O baixo investimento crônico em C&T nos faz escravos da baixa competitividade, por não produzirmos bens com características inovadoras, de alta tecnologia.

Nossos produtos levam a marca “feito no Brasil”, mas não “criado no Brasil”. Para sair dessa escravidão precisamos reformar drasticamente o frágil setor produtor de conhecimento, fruto de décadas de uma universidade divorciada do setor produtivo e do baixo investimento privado em inovação.

Somos viciados nos gastos públicos, sobretudo para custeio, com todas as suas consequências, mas reduzi-los têm implicações fortemente negativas sobre os serviços públicos e sobre a demanda agregada.

Somos prisioneiros da baixa capacidade de poupança por parte da população, porque o imediatismo da cultura de consumo, que caracteriza a economia brasileira, impede elevar a poupança agregada para o nível necessário; mas se dermos incentivos para aumentar a poupança vamos ter restrição de consumo e, em consequência, de crescimento.

Temos amarras legais e comportamentais que tornam difícil uma reorientação da economia: o corporativismo, que impede aos agentes políticos a visão do interesse nacional; a insegurança jurídica, que não permite estabilidade na antecipação das decisões tomadas pelos agentes econômicos; e também amarras constitucionais que podem transformar crises econômicas em institucionais, porque medidas simples exigem Propostas de Emenda à Constituição.

Uma forte amarra está na euforia que os últimos governos têm passado e que funciona como um falso vento que consegue soprar as velas do barco, até que se descubra que o vento é ilusório.

Enquanto prevalece o imaginário de que tudo está bem fica difícil perceber que a economia não vai bem e promover uma mudança de rumo. E com isso vamos adiando a busca de soluções, continuando com os pequenos ajustes dos pacotes.

A principal causa da opção por pacotes, ao invés de porta, está na miopia de olhar apenas para o curto prazo, no lugar de políticas de longo prazo, e na falta de vontade nacional para reorientar os rumos da economia.

Os pacotes são formulados de acordo com o cronograma eleitoral e não segundo as tendências das variáveis do processo econômico no país e no mundo.

Até outubro de 2012, busca-se passar a impressão de que há uma boa taxa de crescimento do PIB. Logo depois será tempo de pensar em 2014.

Ao invés de desatar o entrelaçamento de problemas, vamos adiando a construção de uma política de médio e longo prazo, que não apenas use “pacotes”, mas enfrente os entraves estruturais, abra a porta para um novo modelo de desenvolvimento, buscando a elevação do bem-estar, não necessariamente da taxa de crescimento, em equilíbrio com o meio ambiente e passar a produzir bens com alto conteúdo de conhecimento.”

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