Por Zezinho de Caetés
Semana passada vi no Blog do Noblat um texto do senador
Cristovam Buarque, que guardei para depois tecer alguns comentários. O título é
muito sugestivo do caráter amador com que se faz política econômica hoje, no
Brasil: “Os pacotes econômicos estão de
volta”. Eu o transcrevo abaixo, mas, antes, não há como não colocar meu
bedelho na questão.
Por longo tempo, durante quase todo o período do governo
Lula, a economia internacional parecia até que havia abolido o sistema
capitalista e suas crises cíclicas tão conhecidas. Aproveitando isto e os
fundamentos de governos anteriores, Lula conseguiu passar todo seu tempo de
governo como um grande administrador e quase se transformando em um deus vivo.
Mas, a partir de 2008 voltamos a ser cobrados, em termos mundiais, pelos
excessos que sempre ocorrem em períodos de prosperidades.
E só a partir de 2011 a “marolinha”
nos atingiu de forma negativa, levando a desequilíbrios sérios, que, se não
sanados, teremos um mau tempo pela frente. Um desses gargalos é a excessiva
valorização de nossa moeda, menos por seu méritos, mas por deméritos das outras
que não valem muito, pelos problemas da crise em si (como o dólar e o euro) ou
de forma artificial como na China. E o texto do senador vai ao ponto.
Durante todo este período de prosperidade quisemos
redistribuir nossa renda em termos quantitativos, através de programas sociais,
sem mudar muito nosso perfil de produtividade, que só é aumentado de forma
duradoura pelo investimento em educação e inovação tecnológica. Este é o nosso
calcanhar de Aquiles. Não tivemos a mesma coragem do chineses e japoneses para
copiar tecnologia, pelos nossos pruridos esquerdistas (que os chineses não
tiveram) de evitar o capitalismo a qualquer custo e nem diversificamos nossa
pequena poupança para aplicar no nosso setor do conhecimento e agora estamos
encalacrados no longo prazo e tentando sobreviver, através de pacotes mal
amarrados, no curto prazo.
No fundo perdemos uma grande oportunidade de mudar os
fundamentos de nossa economia no período de prosperidade de Lula, e agora vamos
ter que esperar para que a prosperidade volte para termos outra chance. Será
que voltará e quando? Como não sabemos responder a isto leiam o texto do
senador e meditem sobre o que pode nos acontecer.
“Os “pacotes” de curto prazo voltaram à rotina no lugar de políticas
econômicas.
A razão disto está no entrelaçamento dos problemas de difícil
desatamento que foram se acumulando e da resistência dos agentes econômicos a
reorientarem os propósitos da economia brasileira, encontrando uma porta para
novos tempos, ao invés de pacotes para manter o velho ritmo.
Estamos sequestrados pelo Real valorizado. Mantê-lo apreciado motiva
desindustrialização, sua desvalorização eleva o custo dos insumos na produção
nacional e dos preços dos bens importados.
Em uma economia aberta isso significa inflação. E escassez numa
economia exportadora de bens primários e importadora de bens de alta
tecnologia.
Estamos amarrados ao desempenho da indústria automobilística. A
economia sofrerá se reduzirmos a produção e a venda de carros, mas para
dinamizar a indústria de automóvel é necessário facilitar crédito e desonerar
impostos, aumentando o impacto ecológico e o caos nas cidades.
E facilitar crédito leva à inadimplência, desonerar impostos gera
problema de déficit e reduz investimento público, inclusive para as obras em
infraestrutura urbana necessária para evitar o colapso, já em marcha, das
cidades e estradas.
Os juros altos nos aprisionam há décadas, mas sua redução pode reduzir
o fluxo internacional de divisas para o Brasil e insuflar crédito e consumo,
com ameaça à estabilidade monetária, além do aumento ainda maior da
inadimplência.
A exportação de “commodities” permite gerar superávits na balança
comercial, mas implica em vulnerabilidade à demanda e à vontade de outros
países, especialmente a China, devido à baixa elasticidade da demanda por esses
produtos, e ao risco decorrente de novos produtores, especialmente na África.
O baixo investimento crônico em C&T nos faz escravos da baixa
competitividade, por não produzirmos bens com características inovadoras, de
alta tecnologia.
Nossos produtos levam a marca “feito no Brasil”, mas não “criado no
Brasil”. Para sair dessa escravidão precisamos reformar drasticamente o frágil
setor produtor de conhecimento, fruto de décadas de uma universidade divorciada
do setor produtivo e do baixo investimento privado em inovação.
Somos viciados nos gastos públicos, sobretudo para custeio, com todas
as suas consequências, mas reduzi-los têm implicações fortemente negativas
sobre os serviços públicos e sobre a demanda agregada.
Somos prisioneiros da baixa capacidade de poupança por parte da
população, porque o imediatismo da cultura de consumo, que caracteriza a
economia brasileira, impede elevar a poupança agregada para o nível necessário;
mas se dermos incentivos para aumentar a poupança vamos ter restrição de
consumo e, em consequência, de crescimento.
Temos amarras legais e comportamentais que tornam difícil uma
reorientação da economia: o corporativismo, que impede aos agentes políticos a
visão do interesse nacional; a insegurança jurídica, que não permite
estabilidade na antecipação das decisões tomadas pelos agentes econômicos; e
também amarras constitucionais que podem transformar crises econômicas em
institucionais, porque medidas simples exigem Propostas de Emenda à
Constituição.
Uma forte amarra está na euforia que os últimos governos têm passado e
que funciona como um falso vento que consegue soprar as velas do barco, até que
se descubra que o vento é ilusório.
Enquanto prevalece o imaginário de que tudo está bem fica difícil
perceber que a economia não vai bem e promover uma mudança de rumo. E com isso
vamos adiando a busca de soluções, continuando com os pequenos ajustes dos
pacotes.
A principal causa da opção por pacotes, ao invés de porta, está na
miopia de olhar apenas para o curto prazo, no lugar de políticas de longo
prazo, e na falta de vontade nacional para reorientar os rumos da economia.
Os pacotes são formulados de acordo com o cronograma eleitoral e não
segundo as tendências das variáveis do processo econômico no país e no mundo.
Até outubro de 2012, busca-se passar a impressão de que há uma boa taxa
de crescimento do PIB. Logo depois será tempo de pensar em 2014.
Ao invés de desatar o entrelaçamento de problemas, vamos adiando a
construção de uma política de médio e longo prazo, que não apenas use
“pacotes”, mas enfrente os entraves estruturais, abra a porta para um novo
modelo de desenvolvimento, buscando a elevação do bem-estar, não
necessariamente da taxa de crescimento, em equilíbrio com o meio ambiente e
passar a produzir bens com alto conteúdo de conhecimento.”
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