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sexta-feira, 8 de junho de 2012

LUIZ GONZAGA E A BR 232.





Por Carlos Sena. (*)


A BR 232 é uma das principais estradas de Pernambuco. Ela liga o Recife à cidade de Parnamirim, interligando 25 cidades. Sua parte nova, duplicada, vai até a cidade de São Caetano e teve forte influência no turismo de cidades como Gravatá, Bezerros, Caruaru e São Caetano, bem como incrementou substancialmente a indústria e o comércio locais. Também o escoamento da produção agrícola teve forte incremento, levando para o homem do campo melhores condições de trabalho e colheita da produção.

Inegavelmente a BR 232 é uma obra gigante, principalmente pelos aspectos transformadores que ocasionou para o Estado. Seu nome, de fato é rodovia LUIZ GONZAGA. Que bela homenagem teria sido prestada a esse que foi o homem do século! Digo teria porque o nome do Rei não teve dos governantes o distintivo que merecia enquanto nome dessa BR. Tudo que fizerem para dizer ao mundo que aquela estrada tinha o nome do nosso Rei Lua, não faz sentido: uma mixuruca estatueta colocada à beira da estrada que mais se parece com aquelas casinhas que se faz na beira das estradas para lembrar que ali morreu gente... Pelo menos as casinhas são limpas, pintadas de branco pelos familiares dos que ali morreram. Nosso Luiz, não. Ele fica na beira da estrada sem nenhum atrativo que leve o turista ou o passante a ver que aquela estátua é seu Luiz – aquele da sanfona branca, da asa branca - canção que o mundo toca e canta e que os Beatles se não tivessem se desfeito teriam gravado também. A estatueta é feia, suja, com jeito de que esteja coberta pela ferrugem. Ao derredor dela, umas poucas mudas de macambira, sei lá que planta é aquela, só pra dar um aspecto nordestinizado...

Acho que o tamanho desse artista que o mundo reverencia merecia algo mais pomposo. Na feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro, a decoração do pavilhão da feira dá de dez nessa que fizemos na 232 para homenagear Luiz Gonzaga. Lá, foi criado um chapéu estilizado imitando o de Seu Luiz é o formato da concha acústica em que os shows acontecem. Todos os nordestinos se sentem naquela homenagem, mas aqui não. A 232 também liga Recife a Caruaru onde se diz ser o maior São João do mundo, teria que ter um diferencial pictórico em torno do "dono" da estrada. Também por ela se chega a outros destinos do forró como Bezerros, Passira, Arcoverde, Garanhuns e Bom Conselho. Ironia? Certamente. Muitos que vão passar o São João nessas bandas nem se percebem que estão trafegando pela rodovia que tem nome do Rei. A estrada é só asfalto como qualquer outra. Nela não se vê poesia, nem cantigas de vem-vem. Nem tem sinal de que algum pau de arara por ali passou indo do norte pro sul; nem tem amostra de quinquilharia da feira de Caruaru. Não se vê, na BR 232, sequer um Assum Preto, ou mesmo seu Malaquias com um peba correndo como medo da pimenta se encontra. Samarica Parteira não iria pela 232 fazer um parto, pois como encontraria na BR uma casa de reboco? Essa rodovia não tem canto da cotovia, não tem légua tirana que lembre Ana. Um dia se asa branca tiver que voltar no cheiro da terra molhada, pela estrada vai se perder. Não tem nela sinal, não tem nela gibão, não tem nela chapéu de couro, não tem nela um rosário. Essa falta de tanta coisa "amarga que nem Jiló". Januário não se conforma, Exu ficou ao léu... Passou-se setembro, outubro e novembro, já estamos em junho e não há testemunho. ...Sol de abril e a mata em flor, mas Assum preto cego dos olhos, não viu Luiz que nos deixou...

Mais tarde será junho. São João vai invadir o Nordeste. A 232 será romaria em festa ao som de sanfonas, oito baixo, pé de bode, harmônico e outros mais. Queria, feito um sonho, ver a BR engalanada: um chapéu tipo o de Luiz da largura da estrada, feito uma passarela de um lado a outro pro povo passar por cima. A cada dez quilômetros outro chapéu e mais outro até o fim da estrada. Entre um chapéu e outro, trechos de musicas em alto relevo sobre blocos de alvenaria... Isto o ano doto e todo mundo via. Muita luz em cada estação, fazendo justiça ao nome do Rei Luiz, Rei Luz, Rei Lua do Baião...

Mesmo assim acho tudo ainda pouco. Luiz Gonzaga não é deus nem será, mas é sentimento, sedução de uma nação que ele cantou, defendeu e amou até a morte. Seu mote era a terra – seca terra que não prendia seus filhos, mas os soltava pro mundo e depois cobrava a conta em forma de talento. Assim foi com Luiz. De Exu pro mundo. De Pernambuco pro mundo num grande Pagode Russo... Tudo em volta hoje é só tristeza, na BR de céu de abril. Seu Lula tá lá em forma de pedra de cal, cobre ou estanho, zinabre! Pouca homenagem pra quem cantou pro Papa João Paulo Segundo, pra quem levou pro mundo a terra de um cantador...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 25/05/2012

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