Por Carlos Sena (*)
A palavra é sempre o nosso melhor
meio de comunicação, a despeito de que nem sempre traduzem nossas intenções
vernaculares. O tempo se encarrega de colocar palavras na moda ou retirá-las,
mas há algumas que independem do tempo para permanecerem vigorosas. Por outro
lado existem palavras que nem todos sentem o mesmo significado e aceitação ou
repulsa ou mesmo indiferença diante delas. No terreno da sexualidade, as
palavras ficam pesadas ou leves ou dependendo da região em que se emprega.
“Baitola” é um designativo de Gay muito próprio do Ceará e adjacências. Já em
Pernambuco se usa mais “frango, viado”. Em Brasília se diz que “essa coca é
fanta” referindo-se a um gay. Pela TV se escuta muito “florzinha”. No interior
do Brasil se utiliza também a expressão “falso à bandeira”, etc.
Quando se parte para a
homossexualidade feminina os designativos são os mais duros, até mesmo
extremamente depreciativos. Deles o mais comum é SAPATÃO. Mas há “saboeira”,
“franchona”, “caminhoneira”, “cola velcro”. O pior deles: “chupa charque” –
terrível, mas infelizmente se utiliza nas rodas. No interior de Pernambuco se
utiliza “pitomba” – nunca ouvi em outro lugar, só por lá. A simbologia é que
essa “frutinha besta” dá em cachos e as mulheres homossexuais geralmente vivem
em grupo, em “bandos”... Certamente que cada estado tem sua própria linguagem.
No tocante a sexualidade hetero, então
a coisa fica densa, em que pese ser mais amena para os nossos ouvidos. Isto
pode representar um pouco do preconceito que se tem mais contra os homo do que
os hetero. Na lógica depreciativa, puta está em primeiro lugar concorrendo com
prostituta. Mas há rameira, messalina, “do baixo meretrício”, não obstante a
moda da “garota de programa” – aquela que ninguém diz, mas é puta. Ela se veste
bem e até cursa faculdade, mas vive de ganhar a vida deitando com os machos por
dinheiro. Ao homem parece que nada pega nessa pecha de nomes chulos. Macho é
muito usado, embora a mulher não se sinta fêmea. Macho é macho. Pode ser
cafetão, mas permanece ali no topo da posição intocável. Afinal a sociedade
sendo machista como é tem tudo a ver.
Noutro viés dessa prosa, mas
permanecendo no tema, uma discussão de casais que perderam os respeitos mútuos
tem muito a acrescentar nesse quesito. “Sua vagabunda, ordinária, anta,
afolozada”... Acho o “Ó” a expressão VAGABUNDA! Reduz a mulher a sulfato de pó
de peido, mas é como se na guerra valesse tudo, embora depois os casais
retornem aos beijos e abraços. A mulher, por sua vez, dispõe de um repertório
pobre quando quer ofender o homem numa discussão como a que nos referimos. Como
se vê, o nosso idioma é machista. No máximo sai expressões como “filho da puta,
corno, viado”, mas, que não contém o teor invasivo e depreciativo com que se
fala das mulheres neste sentido. Algumas vezes as mulheres apelam para o
tamanho do pinto – alternativa que geralmente dá resultados, principalmente
quando ela fala a verdade sobre ele e seu desempenho.
Quando as expressões apenas
denotam os nomes populares das nossas partes pudendas (olha como estou santo)
então os regionalismos imperam. Há, contudo, aquelas universais como “rola,
pinto, buceta, cu, periquita, perereca, fiofó, oiti, prativai, xoxota, fiofó.
Mas o reverso dessas medalhas às vezes é de travar nossa expectativa,
principalmente durante o “vamos ver”, na hora “H”: pênis, vagina, falo, anus,
etc. Muitas outras formas verbais e adverbiais poderiam ser apostas, mas elas
por si sós se estabelecem.
As palavras, não podemos
esquecer, são invenções sociais. Pode ser que noutros países se digam a mesma
coisa com outras expressões. Mas isto serve pra gente refletir um pouco sobre
nossa língua machista e nem sempre libertadora. Independente, acho que chamar
uma mulher de VAGABUNDA é péssimo aos ouvidos – reduz a mulher a nada, a um
traço no horizonte. Chamar uma mulher homossexual de “chupa charque” é indigno.
Chamar um gay de frango é indigno. Digno mesmo é o respeito a todas as raças,
cores, preferências sexuais, religiosas, etc.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 12/06/2012
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