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quinta-feira, 28 de junho de 2012

NO FIOFÓ DOS OUTROS É REFRESCO.





Por Carlos Sena (*)

A palavra é sempre o nosso melhor meio de comunicação, a despeito de que nem sempre traduzem nossas intenções vernaculares. O tempo se encarrega de colocar palavras na moda ou retirá-las, mas há algumas que independem do tempo para permanecerem vigorosas. Por outro lado existem palavras que nem todos sentem o mesmo significado e aceitação ou repulsa ou mesmo indiferença diante delas. No terreno da sexualidade, as palavras ficam pesadas ou leves ou dependendo da região em que se emprega. “Baitola” é um designativo de Gay muito próprio do Ceará e adjacências. Já em Pernambuco se usa mais “frango, viado”. Em Brasília se diz que “essa coca é fanta” referindo-se a um gay. Pela TV se escuta muito “florzinha”. No interior do Brasil se utiliza também a expressão “falso à bandeira”, etc.

Quando se parte para a homossexualidade feminina os designativos são os mais duros, até mesmo extremamente depreciativos. Deles o mais comum é SAPATÃO. Mas há “saboeira”, “franchona”, “caminhoneira”, “cola velcro”. O pior deles: “chupa charque” – terrível, mas infelizmente se utiliza nas rodas. No interior de Pernambuco se utiliza “pitomba” – nunca ouvi em outro lugar, só por lá. A simbologia é que essa “frutinha besta” dá em cachos e as mulheres homossexuais geralmente vivem em grupo, em “bandos”... Certamente que cada estado tem sua própria linguagem.

No tocante a sexualidade hetero, então a coisa fica densa, em que pese ser mais amena para os nossos ouvidos. Isto pode representar um pouco do preconceito que se tem mais contra os homo do que os hetero. Na lógica depreciativa, puta está em primeiro lugar concorrendo com prostituta. Mas há rameira, messalina, “do baixo meretrício”, não obstante a moda da “garota de programa” – aquela que ninguém diz, mas é puta. Ela se veste bem e até cursa faculdade, mas vive de ganhar a vida deitando com os machos por dinheiro. Ao homem parece que nada pega nessa pecha de nomes chulos. Macho é muito usado, embora a mulher não se sinta fêmea. Macho é macho. Pode ser cafetão, mas permanece ali no topo da posição intocável. Afinal a sociedade sendo machista como é tem tudo a ver.

Noutro viés dessa prosa, mas permanecendo no tema, uma discussão de casais que perderam os respeitos mútuos tem muito a acrescentar nesse quesito. “Sua vagabunda, ordinária, anta, afolozada”... Acho o “Ó” a expressão VAGABUNDA! Reduz a mulher a sulfato de pó de peido, mas é como se na guerra valesse tudo, embora depois os casais retornem aos beijos e abraços. A mulher, por sua vez, dispõe de um repertório pobre quando quer ofender o homem numa discussão como a que nos referimos. Como se vê, o nosso idioma é machista. No máximo sai expressões como “filho da puta, corno, viado”, mas, que não contém o teor invasivo e depreciativo com que se fala das mulheres neste sentido. Algumas vezes as mulheres apelam para o tamanho do pinto – alternativa que geralmente dá resultados, principalmente quando ela fala a verdade sobre ele e seu desempenho.

Quando as expressões apenas denotam os nomes populares das nossas partes pudendas (olha como estou santo) então os regionalismos imperam. Há, contudo, aquelas universais como “rola, pinto, buceta, cu, periquita, perereca, fiofó, oiti, prativai, xoxota, fiofó. Mas o reverso dessas medalhas às vezes é de travar nossa expectativa, principalmente durante o “vamos ver”, na hora “H”: pênis, vagina, falo, anus, etc. Muitas outras formas verbais e adverbiais poderiam ser apostas, mas elas por si sós se estabelecem.

As palavras, não podemos esquecer, são invenções sociais. Pode ser que noutros países se digam a mesma coisa com outras expressões. Mas isto serve pra gente refletir um pouco sobre nossa língua machista e nem sempre libertadora. Independente, acho que chamar uma mulher de VAGABUNDA é péssimo aos ouvidos – reduz a mulher a nada, a um traço no horizonte. Chamar uma mulher homossexual de “chupa charque” é indigno. Chamar um gay de frango é indigno. Digno mesmo é o respeito a todas as raças, cores, preferências sexuais, religiosas, etc.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 12/06/2012

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