“O pecado da omissão
POR ALMIR PAZZIANOTTO PINTO
No formoso Sermão da Primeira
Dominga do Advento, pregado na Capela Real em Lisboa, no ano de 1650, advertiu
o padre Antonio Vieira: “A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete
e com mais dificuldade se conhece; e o que mais facilmente se comete e
dificultosamente se conhece raramente se emenda”.
A frase do santo jesuíta, a mais
poderosa inteligência de Portugal de todos os tempos, deve servir de alerta a
quem decidiu conservar-se omisso e indiferente às eleições do próximo dia 28,
quando estará em jogo o futuro da democracia brasileira. Frente a frente,
submetendo-se ao escrutínio de 147 milhões de eleitores chamados a decidir o
futuro da República, estarão o deputado federal Jair Bolsonaro, oficial da
reserva do Exército, e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, advogado,
porta-voz e alter ego de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidiário de Curitiba.
O aparentemente impossível
aconteceu. No primeiro turno Bolsonaro quase alcançou maioria absoluta;
Fernando Haddad, na última semana correndo por fora, conseguiu a segunda
colocação. Alguns dos supostos favoritos, como Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e
Marina Silva, foram avisados de que pertencem ao passado e devem abandonar
antigos projetos de exercer a suprema magistratura da Nação.
Aos eleitores, antes de se
decidirem, compete examinar o currículo dos dois finalistas e o histórico dos
respectivos partidos. Jair Bolsonaro candidatou-se pelo Partido Social Liberal
(PSL), em aliança com o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), ao
qual coube indicar o candidato à Vice-Presidência, Hamilton Mourão, general da
reserva. Fernando Haddad, apesar de relativamente jovem, tem longo passado como
militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Sua candidata à Vice-Presidência é
Manuela d’Ávila, filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fundado em
fevereiro de 1962 por João Amazonas, Diógenes Arruda, Pedro Pomar, Maurício
Grabois. Desligando-se voluntariamente, ou afastados compulsoriamente, alguns
dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) criaram o PCdoB com o
objetivo de “promover a derrubada do sistema capitalista e, através da
revolução proletária, realizar a passagem para o socialismo”, conforme se lê no
Dicionário Histórico Geográfico Brasileiro Pós-1930 (Ed. FGV-Cepdoc, 2.ª
edição, 2001, vol. IV, pág. 4.280). Quem duvidar consulte o livro Combate nas
Trevas - A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada, de Jacob
Gorender (Ed. Ática, 1987).
A história do PSL e do PRTB
poderia ser escrita, até as eleições deste ano, numa única página. Passaram
despercebidos, como meros figurantes, até o primeiro turno destas eleições.
Seus dirigentes nunca foram protagonistas principais no teatro da política
brasileira dos últimos anos. O mesmo não se poderá dizer do PT e do PCdoB.
Fundado em 1980, por reduzido grupo de sindicalistas, o PT nasceu com a
pretensão de monopolizar a representação das classes trabalhadoras. Seria uma
espécie repaginada do antigo PCB, ou do fisiológico Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Durante anos seduziu a classe média alta, artistas,
intelectuais, picaretas e oportunistas, com o discurso do combate à corrupção,
ao fisiologismo, à pobreza, às desigualdades regionais e sociais. Não escondia
forte pendor à violência, como instrumento de conquista do poder. Já o PCdoB
assumia, ao lado de outros extremistas, a posição de partido revolucionário
inspirado no velho stalinismo maoista. Rapidamente se tornou uma espécie de
vanguarda do atraso.
A ascensão do PT ao governo
revelou-lhe a verdadeira face e confirmou a frase de Pítaco de Mitilene: a
ambição é insaciável. Com insaciável ambição de dinheiro, o PT e seus aliados
investiram contra os cofres públicos, conforme revelariam os processos
referentes ao mensalão e à Operação Lava Jato.
Durante 12 anos e alguns meses de
regime petista a economia foi desbaratada; a política, aviltada; o País,
desindustrializado; o Tesouro Nacional, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica Federal, a Petrobrás e os fundos de pensão, saqueados. Torrentes de
dinheiro foram canalizadas para apoiar ditaduras africanas e latino-americanas.
Não satisfeito, usou e abusou do aparelhamento do Estado para se consolidar no
governo, ao qual procura retornar com o propósito de arrebatar definitivamente
o poder, como declarou José Dirceu.
O apego ao crime pode ser aferido
pelo asilo concedido ao terrorista italiano Cesare Battisti pelo presidente
Lula. Relembro que o facínora, natural de Sermoneta, na Itália, onde nasceu em
1954, depois de preso várias vezes como ladrão, em 1976 passou a integrar o
grupo Proletários Armados do Comunismo (PAC), surgido das Brigadas Vermelhas.
Acusado de assassinar quatro pessoas - Antonio Santoro, Pierluigi Torregiani,
Lívio Sabatini e Andrea Campagna - e de deixar o filho deste último
paraplégico, foi condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua. O processo
correu à revelia, em razão da fuga de Battisti. Após se esconder em vários
países, foi preso no Brasil em 2007. Antecipando-se à decisão do pedido de
extradição no Supremo Tribunal Federal, formulado pelo governo de Roma, o então
ministro da Justiça, Tarso Genro, conferiu ao criminoso o benefício de asilado
político, confirmado por Lula.
O segundo turno deverá determinar
o fim do PT como força política, com a derrota do binômio Fernando Haddad-Manuela
D’Ávila. Aos brasileiros respeitáveis não restará alternativa senão derrotá-lo,
ainda que o remédio a alguns possa parecer amargo. Diante da urna eletrônica
não nos esqueçamos de que o PT nunca se alinhou com países democráticos. As
alianças que perpetrou foram com a Cuba de Fidel Castro, a Venezuela de Hugo
Chávez e Nicolás Maduro, a Bolívia de Evo Morales e ditaduras africanas
corruptas.”
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