“‘Fica, Temer!’
Por Eliane Cantanhêde
A melhor sacada do fim do
primeiro turno foi o “Fica, Temer!”, que viralizou na internet, foi um dos
assuntos mais comentados do Twitter mundial e resume bem a sensação no Brasil
de 2018: “Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”.
Num segundo turno totalmente
atípico, como em tudo nesta campanha tão cheia de surpresas, haverá menos festa
e mais irritação, menos apoio e mais crítica do que jamais se viu. E o medo do
autoritarismo estará pairando no ar, soprado pelos ataques mútuos das
campanhas.
Já nas primeiras horas após o
primeiro turno, o petista Fernando Haddad conclamava “os democratas” a aderirem
à sua candidatura. A insinuação é clara: ele é o lado da democracia, o outro é
o do obscurantismo. Com 4 milhões de votos para o Senado, Flávio Bolsonaro,
filho de Jair Bolsonaro, reagiu dizendo que “o lado das trevas” – o PT – não
terá governabilidade.
Essa guerra para carimbar o outro
de mais autoritário, perigoso, obscurantista e antidemocrático é estimulada por
uma outra peculiaridade da eleição: os altíssimos índices de rejeição dos dois
candidatos do segundo turno, mais de 40%. Mas há também dados concretos para o
discurso do medo.
Bolsonaro, capitão reformado do
Exército, tem uma visão de mundo, e de direitos humanos, muito particular. E
seu vice, um general que passou há pouco para a reserva, tem ideias exóticas.
Já defendeu intervenção militar, condenou a “indolência dos índios” e a
“malandragem dos negros” e está orgulhoso do “branqueamento” do neto. Hitler
sorriu no túmulo.
Do outro lado, o que dizer do
ex-presidente do PT José Dirceu e da atual presidente Gleisi Hoffmann? Ele
avisa que não basta ganhar a eleição, o objetivo é “tomar o poder”. Ela é
reincidente no apoio público a Nicolás Maduro na Venezuela, o que seria patético,
não fosse trágico. Ou seria sádico?
Para sorte do pobre Brasil, 69%
das pessoas já reagem a essas extravagâncias do PT e do bolsonarismo
manifestando apoio à velha e boa democracia. Pode parecer pouco, mas é o maior
índice desde a redemocratização.
Nessa disputa entre quem é mais
autoritário e antidemocrático, o fato é que Bolsonaro virou moda, primeiro, e
tsunami, no final, e entra no segundo turno como franco favorito. Teve 46% dos
votos, mudou as eleições para os governos estaduais, varreu petistas como Dilma
Rousseff, Eduardo Suplicy, Lindbergh Faria e Jorge Viana do Senado e pôs sua
turma no lugar.
E que turma! Flávio no Rio, Major
Olímpio em São Paulo, Carlos Viana em Minas. Ganhe ou não, Bolsonaro já tem uma
superbancada também na Câmara: o insignificante PSL será a segunda força, atrás
do PT, e ele fecha acordos no atacado, não no varejo. Em vez de convencer PP,
PTB, PR, etc., negocia com a frente BBB – Bíblia, Boi e Bala. Assim, ele anula
a crítica de que não teria maioria no Congresso e já se sente pronto a aprovar
todo o seu programa, caso suba a rampa do Planalto, como tudo indica. O
problema é saber qual é o seu programa, o que ele pretende aprovar...
O programa de Haddad é populista,
intervencionista, um recuo do PT no tempo, mas pelo menos sabe-se qual é. Já o
programa de Bolsonaro é uma incógnita envolta nas idiossincrasias entre a alma,
o coração e as crenças do candidato e a alma, o coração, as crenças e o sólido
conhecimento de seu homem para a economia, Paulo Guedes.
Até o dia 28, todos estarão
falando abstratamente de autoritarismo versus democracia. Em janeiro, dê no que
dê, o papo será outro: como combater concretamente o déficit do Estado e a
crise econômica. Guedes quer pragmatismo e tesoura, mas Bolsonaro é estatizante
e corporativista, logo, gastador. Nisso, sem dúvida, o capitão Bolsonaro e o
professor Haddad são bem parecidos.”
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