Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Pensei que estava sonhando. Dois revolveres apontaram para
minha cabeça. Levantei as mãos para o alto. Lembrei-me nesta ocasião os filmes
de faroeste assistidos nos cinemas Moderno, Trianon, Art. Palácio no centro do
Recife e o Coliseu em Casa Amarela. O mocinho contra os bandidos onde torcíamos
nas cadeiras duras e ficava nervoso para o mocinho vencer. Torcíamos e gritava
e assobiava. Era um desespero o mocinho atrás dos bandidos atirando e
jogando-se na poeira. Só que eu não era o mocinho. Neste dia, por volta do meio
dia, em um beco o Beco dos Inválidos fui rendido por dois bandidos menores de
idade. Olhos frios e sanguinários, olhando e mirando aquela arma para mim.
Quinze ou dezesseis anos, vestiam-se da mesma roupa, blusa vermelha, calção
verde e tênis branco. Parecia com as fardas das torcidas organizadas no
futebol. O gorro na cabeça com a pala
voltada para traz trazendo o nome Viva o Recife. Um sarará parecia-me o mais
velho. Sardas e olhos azuis sem um dente na frente quando ria fazia medo. O
outro mais moreninho, baixinho cabelo escarrapichado, olhos pretos retintos.
Cada um no seu jeito, o sarara com uma barbicha amarela ouro o outro com um
bigodinho pretinho parecendo com Cantiflas. Brincos nas orelhas e anéis em cada
dedo. Trancelim no pescoço de metal com uma cruz brilhante. Óculos escuros e brilhantes
e lentes amarelas, Eu estava em transe. As pernas tremiam. O suor descia pelo
rosto pálido. Tinha que obedecer aqueles moleques juvenis naquele momento, pois
em qualquer movimento poderia ser fatal e lá ia falar com São Pedro antes do
tempo. Ponderei. Fiz o possível para ficar calmo na mira daquelas armas. Eles
trêmulos e nervosos querendo sair dali o mais rápido possível. Vô me dê o
celular e a grana que tirou do banco e não vá dizer que não porque vai ser pior. Zé futuca no bolso dele
enquanto estou na mira, qualquer gesto passo ele para o outro mundo. Ô meu cadê
a grana? Não tente me enganar viu coroa! Vou lhe dar mais um tempo para pensar
e entregar que já estamos com os nervos à flor da pele, vamos nos dê logo ou
diga onde está! Vamos! Vamos logo! Não temos tempo a perder. Coroa tu sabe que
estamos na tua cola a bastante tempo. Sabemos o dia que recebes a bulufa, pois
te seguimos. Vô você estava sentado no banco e nós ali atrás. Saímos do banco
quando você saiu. Seguimos pela calçada todo o itinerário, Pegamos o mesmo
ônibus que tu coroa pegou. Descemos no mesmo lugar que tu desceu. Seguimos até
aqui, neste beco, porque não passa muita gente. Tais vendo que nois estamos na
tua cola? Nois não estamos prá brincadeira. Eles já estavam bastante nervosos,
olhando para todo o lado e eu mais nervoso ainda. Dei o dinheiro que tinha
recebido da aposentadoria. Estava escondido num bolso de algibeira. O celular
fora presente do meu filho. E tinha um cordão de ouro herdado de minha mãe há
mais de trinta anos, eles puxaram e quebraram levando consigo. Já tinha se
passado mais de cinco minutos e eles já se preparavam para irem embora, mas
antes fizeram ameaça dizendo que nada falasse com a policia, nem os
identificasse se fosse pego, pois ele sabia todo itinerário e as coisas não
saíram bem. Ouviu vô! Nada de carburetagem, pois depois sair rapidamente da
casa de correção eles iriam acertar as contas. Agora que nois vamo embora tira
a camisa e o tênis e te senta fica quieto por vinte e cinco minutos. Quando
estavam andando um carro policial apontou. Sujou Zé! Corre a policia esta
entrando no beco. Corre! Zarpa moleque. À noite nois encontraremos e repartimos
a grana. Corre porra Corre! Separam-se em grande corrida, um subindo a
escadaria do morro e o outro entrando num matagal. A policia correu mais não
conseguiu pegar nenhum deles. Fui socorrido pela policia e fomos até a
delegacia onde foi firmado um Boletim de Ocorrência, com muitas perguntas as
quais tu conheces os marginais. Eu neguei. se os assaltantes, eram de menores, para onde fugiram nada sabia.
Nada delatei. O medo falou mais alto não ia perder a vida por dinheiro que recebi.
Ia fazer muita falta, mas a vida é preciosa, Aqui no Brasil o menor tem todos
os direitos de assaltar, matar estuprar e tudo o que quiser fazer, somente três
aninhos num reformatório. Fui para casa desolado com o acontecido e os
malfeitores mirins provavelmente estavam rindo do susto dado no coroa. É meu
amigo a vida é esta. Ninguém está seguro neste mundo. A violência esta
extrapolando o direito de ir e vir. Não se tem mais sossego, principalmente, pela
onda de assalto praticado por menores de idade, pois todos eles sabem que não
passarão muito tempo presos e isto faz com eles cometam crimes contra o cidadão
de bem. Esta narrativa foi do nosso amigo Eliseu em um encontro casual na
Avenida Guararapes.
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