Por Zezinho de Caetés
Li na Veja desta seman, o texto que transcrevo abaixo, do J.
R. Guzzo, e que tem como título: “Tudo
ao avesso”, e depois de sua leitura fiquei imaginando se este país é o
mesmo em que vi o Ministro Celso de Melo, no julgamento do mensalão, com uma
sensibilidade e inteligência até comovente, mandar o petista Marcos Maia,
presidente da Câmara dos deputados (embora não tenha citado seu nome, por
educação) recolher-se à sua insignificância nesta matéria, quando este disse
que não cumpriria as decisões do STF.
O país do Marcos Maia é o mesmo de Lula e dos petistas e de
todos que sobrevivem à sua custa, como escreve o Guzzo, no fecho do seu artigo.
É o país da Dilma e do Zé Dirceu que se escoraram no Lula o quanto puderam para
subir.
É o país onde se perdeu completamente a noção do que é
público e do que é privado. Tudo depende das conveniências dos políticos de
plantão. O que os cidadãos decentes esperam é que o único poder que não sofreu
a contaminação (pelo menos em sua maioria) é o poder judiciário, representado
pelo STF e que vem dando lições de como se deve viver num estado democrático de
direito.
Se deixarmos esta corja continuar com o poder, este país
ainda será uma imensa Venezuela. Hoje, pelas minha condições de semi-férias,
este nariz de cera será menor do que o dedo mindinho do Lula. Fiquem com o
texto do Guzzo, que interpretei como um chamado para vestir a roupa correta no
Brasil. Será que a oposição tem pano “prás
mangas”?
“O que aconteceria se um belo dia, de passagem por São Paulo, o dr.
Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, recebesse um grupo de
voluntários empenhados em alguma causa com méritos indiscutíveis ─ uma entidade
que luta contra o câncer infantil, por exemplo ─ e ouvisse deles o seguinte
pedido: o banco poderia nos ceder, por caridade, um conjunto de salas no 17°
andar do prédio que tem na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta?
Precisamos com urgência de espaço nessa área da cidade, e, se a gente pudesse
economizar com o pagamento de aluguel, sobraria mais dinheiro para salvar a
vida de nossas crianças. “Não pode”, diria na hora o dr. Bendine. “Isso aqui é
uma empresa do estado brasileiro. Sabem quanto está valendo o aluguel de um
imóvel por aqui? Não se acha nada por menos de 120 reais o metro quadrado. Não
dá para ceder de graça uma área assim.” O presidente do BB poderia acrescentar
um outro argumento: mesmo que concordasse com o pedido, a Advocacia-Geral da
União, que tem por obrigação defender o patrimônio público, jamais aprovaria
uma coisa dessas. Fim da conversa.
E se o mesmo pedido fosse feito pelo presidente da República,
interessado em instalar nesse 17° andar uma espécie de sucursal paulista do seu
gabinete no Palácio do Planalto? O local, como ficou comprovado há pouco,
servia como escritório particular de uma quadrilha de delinquentes, segundo a
definição da Polícia Federal, do Ministério Público e do próprio ministro da
Justiça. O dr. Bendine, diga-se logo, não tem nada a ver com isso; nem era
presidente do Banco do Brasil na ocasião em que o espaço foi entregue a uma
amiga pessoal do ex-presidente Lula e seus associados, que no momento se
preparam para responder a uma ação penal por diversas modalidades de ladroagem.
Sorte dele. Seu antecessor, que recebeu a ordem de “disponibilizar” a área,
disse “sim, senhor”. E o que poderia ter feito de diferente? Se tivesse, como
no caso dos bons samaritanos imaginado acima, a mesma valentia para defender o
interesse estatal, seria posto na rua antes de se encerrar o expediente do dia.
Ou seja: dez anos de convívio com a moral que Lula e o PT trouxeram para o
governo ensinam que o patrimônio público é uma coisa muito relativa no Brasil
de hoje. Não pode ser usado em benefício próprio por uns, mas pode por outros ─
e quem não souber a diferença vai ter uma carreira muito curta neste governo
dedicado à causa popular.
Eis aí o que Lula, a presidente Dilma Rousseff e o PT criaram de
realmente original com sua conduta à frente do governo ─ um país ao avesso,
onde o triângulo não tem três lados, mas quantos lados eles acharem que lhes
convém. É um mundo onde não existem fatos; só é verdade aquilo que o governo
diz que é verdade. No caso da amiga de Lula e dos escroques associados a ela, o
ministro da Justiça admitiu no Congresso que havia, sim, uma “quadrilha”, mas
decretou que sua existência nos galhos mais altos do governo não tem a menor
importância, pois não há provas de que Lula tenha sido beneficiado pela gangue.
Sua única participação no caso foi ter nomeado a diretora do tal gabinete. “Só”
isso? Sim, só isso; qual é o problema? Além do mais, segundo o ministro, os
envolvidos no bando tinham um “papel secundário” na administração pública. Como
assim? A chefe do escritório paulista acompanhou Lula em trinta viagens
internacionais. Os funcionários “menores” mandavam em agências-chave na máquina
federal; um outro era nada menos que o braço-direito do responsável pela
Advocacia-Geral da União, onde se dedicava a advogar contra os interesses da
União. Seu chefe declarou-se “magoado” com ele, e a presidente Dilma decidiu
que essa declaração era uma esplêndida solução para o contratempo todo. O
secretário-geral da Presidência, enfim, completou a verdade petista dizendo que
só “um ou outro” gângster faz, de vez em quando, alguma coisinha errada no
governo.
Deve-se ao sr. secretário, também, a melhor definição do pensamento
oficial diante da corrupção no Brasil de 2012: seja lá o que acontecer, nada
tem importância, porque “Lula é endeusado por onde passa”. Eis aí uma teoria
realmente revolucionária para o direito penal moderno: “Estão previamente
absolvidos de qualquer acusação, por mais que baseada em fatos, todos os
cidadãos que tiverem índices de popularidade superiores a X%”. O resultado
prático de tudo isso só pode ser um: a bandalheira vai continuar a toda, e
promete ocupar um espaço cada vez maior na biografia de Lula e de todos os que
sobrevivem à sua custa.”
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