Por Carlos Sena (*)
O celular entrou na minha vida,
como na de muitos. Digo que na minha, ele entrou feito Pilatos entrou no credo.
Na verdade, nem eu sei dessa história e os motivos que levaram Pilatos a
“entrar no credo”. Mas o sentido é aquele de que uma pessoa ou coisa entra na
vida de outra meio que de viés, de supetão e, como num passe de mágica a gente
se integra a ele e, não raro, jamais se livra, como é o caso do celular. Até
acho que de uma pessoa a gente pode se livrar mais facilmente do que dele, até
porque quanto mais o tempo passa, ele se moderniza e vai, rapidamente nos
seduzindo além.
Celular hoje é item obrigatório,
tal qual acessório de carro que já vem de fábrica. Homem, mulher e menino não
se desgrudam dessa verdadeira “peste” que ele representa. Há pessoas que andam
com dois, três e mais celulares, não obstante os aparelhos com dois, três e
mais chips. Daí ser comparado a Pilatos que, até onde procurei saber, só
católicos fervorosos podem nos dar a cabal explicação acerce de sua permanência
no CREDO - uma das orações mais importantes da igreja católica. Ele, o celular,
não sai das nossas vidas, mas o difícil mesmo é você entender que um dia ele
não foi ninguém e hoje vale mais do que muitas pessoas. Duvida? Veja quantas
pessoas não deixam o celular em casa nem a pau. Veja quantas pessoas se
esquecem da mulher e filhos mas não se esquecem do celular. Veja quantas vezes muitas
pessoas deixam esses “pestes” em casa e logo retornam pra ir busca-los, mesmo
depois de longa distância percorrida. Por outro lado, quando a mulher ou filhos
ou pessoas caras, chamam pra busca-los, muitos não vão. Vejam também que há
pessoas que deixam de pagar conta de luz e de água, até plano de saúde, mas o
celular não, esse sempre se dá um jeito de tê-lo ao nosso dispor.
Celular virou parte das pessoas.
Garotas e boys de programa ficam “desempregados” quando, por algum motivo ficam
sem ele. Por quê? Agenda tá nele; recado, tá nele; rede social, hora, dia, mês,
calculadora, nota, bip, alarme e os outros que eu não domino a utilidade nesta
prosa, estão nele.
Não sei se com ele já fazem sexo,
mas está perto. Outro dia, um programa de TV mostrou uma mulher que entrou num
presídio de segurança máxima com um celular na vagina, mas a guarda do presídio
descobriu exatamente na hora que ele, "lá dentro", havia tocado.
Como somos filhos de Deus, também
nos rendemos às evidências desse peste” – ele é mesmo uma praga que modificou
as relações sociais todas. No seu lado ruim (teria que ter) ele se mete da
educação dos filhos, na aula do professor, na fidelidade dos amantes, etc. De
fato, virou uma "coleira de cristal eletrônica". Certo que é de muita
utilidade, mas essa é a função da ciência, ou seja, produzir conhecimentos para
o bem do homem através de tudo que for descoberto e criado ou inventado. Embora
eu não sabendo ainda utilizar de tudo que ele me pode “dar”, permito-me ao luxo
de deixa-lo “sofrendo” diante dos seus oferecimentos bestas. Cada dia eu fuço
mais nele, dependendo da minha necessidade e isto talvez não lhe agrade muito,
pois ele adora quem vive sob sua dependência. Disto eu estou, literalmente,
livre. Nem por conta dele nem da internet eu fico sem minhas particularidades
que adoro: um papo no barzinho, uma leitura boa, um beijo na boca, uma louca
aventura sem destino pela vida, caminhar no calçadão da praia, ir ao teatro ou
sem destino... Celular e internet adoram se meter em nossa vida e modificar
nosso status quo de felicidade. No rol dessa intromissão de quem mais tenho
pena é do professor. Ele, coitado, já não basta a falta de limites dos alunos;
já não basta o salário baixo; j[a não basta a ausência dos pais dos alunos na
escola, agora vem a falta de limites que o celular ajuda impingir.
Mas, há quem tenha celular e
"selo lá"? Sei não. Mais fácil celular do que "selo lá",
naquele lugar, quero dizer, no triangulo das bermudas, ou entre os morros de
Pôncio e de Pilatos. Credo, vixe. Vou embora que o celular já está tocando,
devem ser os amigos me chamando pra farra. O CELULAR E PONCIO PILATOS. Alguém
pode pensar: "esse cara só pensa naquilo" e eu digo que sim. Pois
enquanto houver humor para eu pensar em tudo, inclusive "naquilo" é
sinal que o celular está cumprindo exclusivamente a sua função social de
comunicação entre pessoas, jamais de domínio delas.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 03/11/2012
QUEM USA CELULAR VAI MORRER COM UM TUMOR NO CÉREBRO. ASSIM REZA AS PROFECIAS...
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