Por José Antonio
Taveira Belo / Zetinho
Corria o ano de 1968.
Véspera de Ano Novo. Recebíamos o décimo terceiro salário. Todos com o bolso
cheio, se preparando para a confraternização. Aos poucos concluíamos o trabalho
do dia. Muitos já tinham encerrado o expediente, às 11h55min. Fomos para o
restaurante. As piadas e alegria contagiavam os funcionários. Cada um sentados
em sua cadeira confabulando uns com os outros. Euclides Bezerra vendedor de
produtos contava as suas artimanhas nas viagens que realizava pelas cidades do
Norte e Nordeste, muitas reais outras inventadas. Todos riam enquanto ele tomava
uma dose de uísque; Mario Lyra Filho, outro grande vendedor, porém na Praça do
Recife ouvia em silencio tragando o seu cigarro Continental. As gargalhadas se
sucediam a cada instante. As piadas mais picantes, as moças se retraiam com um
sorriso malicioso; Pedro Moreira Dias, gerente da Filial Recife somente fazia
rir, pois, não era adepto ao álcool, somente a Coca Cola; os demais
funcionários, Osvaldo, Severino, Ledinha, Graças, Socorro, Maria José, Rosário,
Marlene batiam palmas a cada termino das piadas. Às 15h, com o abraço de um
Feliz Ano Novo todos se despediram. Adiel, um moreno cheio de bossa, risonho e
cheio de prosa, com cordão de ouro no pescoço, calça branca e camisa de seda estampada
e sapatos branco, era o nosso chefe de deposito, Rua da Palma. No dia 02,
soubemos no escritório no 12º andar do Edifício Igarassu, nos chegou à notícia
do assalto que sofreu Adiel, no Bar Savoy.
“Contou-nos que ao sair
do restaurante se dirigiu a uma loja para compra de um fogão”. Não encontrou a
mulher. Se dirigiu para tomar uma cerveja no Bar Savoy enquanto dava tempo à
esposa chegar. Sentou-se. Camisa aberta no peito mostrando o cordão de ouro.
Relógio dourado e a Aliança de Ouro no dedo esquerdo no calçadão da Avenida
Guararapes. Riso fácil e dinheiro no bolso eram tudo que queria. Tudo favorável
naquela tarde com o sol se pondo para comemorar a festa do Ano Novo com os
familiares. As pessoas passavam apressadamente na correria para apanhar o
coletivo vindo das compras. Na mesa ao lado tinha um homem que entabulou
conversa. E como conversa de bar é fraterno, o desconhecido pegou a sua cerveja
e colocou na mesa do Adiel, sorridente, se apresentando como Abelardo, morando
no Ibura e sentou-se a mesa. Conversa vai e conversa vem, já estava para sair,
quando falou que ia até o banheiro. De volta o homem tinha pedido mais uma
cerveja e insistiu para que eu tomasse haja vista, que estava comemorando um
bom Ano, pois os negócios lhe foram favorável. Fui ao banheiro. Na volta o
homem fez questão que eu tomasse o último copo. Tomei sentado e olhando para o
relógio dourado, as horas que já marcava cinco horas da tarde. Dentro de pouco eu
estava tonto. O sono me atacou de vez. E nada mais vi. De madrugada, lá pela
quatro horas da manhã acordei totalmente nu. Deitado na beira do Rio Capibaribe
margeando a favela dos Coelhos. A água já estava batendo em minhas pernas, pois
a maré estava enchendo. A escuridão tomava conta do lugar ermo. Levantei-me cambaleando
totalmente nu. Não sabia para onde ir e como sair daquele lugar. Sai caminhando
entre palafitas ate que encontrei uma toalha na cerca de um casebre a beira do
rio. Apanhei e a cingi na cinta e fui direto para o escritório no Edifício
Igarassu. Segui me escondendo pelo Cais José Mariano. Passei pela Ponte da Boa
Vista e Estação Central entrei na Rua Tobias Barreto. Neste percurso não
encontrei ninguém, nem policia e transeunte. Ao chegar à portaria ainda
fechada, quatro horas da manhã, o vigia tomou um susto vendo aquela figura nua.
Adiel voltou a contar tudo como aconteceu. “Perdi o dinheiro, roupas, relógio,
trancelim, sapato e todos os documentos, nada me restava somente à vida que por
pouco não a perdia. Voltei ao meio dia ao Bar Savoy para saber se alguém conhecia
o homem que estava comigo. Careca, garçom antigo do bar, disse – Você arriou a
cabeça na mesa e o homem, um moreno cheio de pose, chamou um taxi e saiu te
arrastando rindo, dizendo – Este meu amigo é de lascar, fica bêbado e eu que sofro.
Vou leva-lo pra casa. Saiu rindo sentado no banco da frente com o motorista,
que provavelmente era comparsa. Voltei desolado para casa”. Acrescentou ele - o
difícil foi convencer a minha mulher sobre o acontecido. Ela estava
inconsolável, pois, o ônibus tinha se atrasados e ela não o encontrou na loja.
Bem feito, disse ela, chorando. Isto é castigo, e todo castigo para Cachaceiro
é pouco. E agora? O que vamos fazer? Sem dinheiro sem lenço e nem documento.
Como é que você vai beber com gente desconhecido? Eu acho é pouco! Eu sentado
lá no canto da sala, no primeiro dia do ano, que se comemora a paz eu
comemorava a violência.
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