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sábado, 22 de dezembro de 2012

ARARUTA TEM SEU DIA DE MINGAU





Por Carlos Sena (*)

Não me canso de falar que na vida não há ACASO. O que há é a falta do momento exato para que muitos se sintam com essa certeza. Não se trata de nada espiritual, tampouco sobrenatural. É que a própria ciência está se “rendendo” às evidências cósmicas das energias positivas e negativas que conduzem o mundo desde sempre.

O homem não domina o tempo, tampouco o seu futuro dominará. Em função da tridimensionalidade da vida, nós humanos, nos escravizarmos pela ânsia de querermos saber o que nos acontecerá no futuro. Essa dominação do futuro em nossa vida, muitas vezes nos torna dependentes dele ao ponto de deixarmos de viver o presente. Ao passado, nada mais compete ser buscado, exceto o que ele já nos deu de experiência; exceto suas marcas em nosso rosto, corpo e cabelos.  Contudo, na imaginação de que nada na vida é por acaso, presente, passado e futuro se interligam. Então a gente tem que ser proativo com esses tempos e fazer deles todas as ilações em função da compreensão da vida presente. Neste sentido, o grande dificultador são os nossos limites. Como seres humanos o que mais temos dentro de nós, a despeito de pensarmos o contrário, são elementos dificultadores dos processos holísticos acerca dos fatos que acontecem conosco e que, quase sempre nos contrariam. Essa contrariedade é em função do pouco domínio que, como dissemos, não temos, acerca do futuro.

A expressão muito utilizada pelos pais quando dão conselhos aos filhos “quando você crescer você vai entender tudo isto” é uma forma simplificada do que estamos querendo colocar. Os pais, diante das suas experiências, no fundo, estão querendo dizer aos filhos que aquilo que lhes incomoda é uma questão de tempo, ou seja, de compreensão dos acontecimentos da vida. Outra expressão popular que leva a isto: “Deus escreve certo por linhas tortas” A rigor, Deus escreve certo por linhas certas, mas, nós não temos o alcance de fazer as ligações dos fatos com o tempo futuro. Este não nos faculta inferir. Contudo, tenho a sensação de que a natureza cósmica tem seus movimentos e que eles são infinitamente diferentes dos nossos. Por isto, talvez, quando a gente perde um grande amor sempre chega alguém e nos diz: “dê tempo ao tempo”. Ora, o tempo passa e adiante você, de fato, encontrou o seu grande amor! Mas, aquele anterior não o era? Então, é um pouco da canção de GIL que diz que “a semente tem que morrer pra renascer grão” (grifo meu).

Nós é que somos fracos de sabedoria, certamente. Pior: achamos que somos o “cão do terceiro livro”, a “bala que matou Getúlio”, “as polegadas de Marta Rocha”, mas não passamos de seres frágeis em nossa composição, embora fortes nos componentes naturais humanos de pensar, agir e sentir. Tanto nada disso somos que ainda ficamos preocupados se as pessoas são GAYS ou não. E se são devem ser “ativas ou passivas”. Quando eu estudava o ginasial (faz tempo, mas era assim que se chamava), a gente estudava as vozes dos verbos: ativa, passiva e reflexiva. Diante disto, fico matutando: se existe um gay ativo, outro passivo, quem é o reflexivo? Seria o do “armário”? Nem quero saber. Como não acredito no acaso, certamente chegará um dia, como dizem na minha terra “em que a casa cai” ou que “macaco vira homem” porque “toda araruta tem seu dia de mingau”...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/11/2012

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