Por Carlos Sena (*)
Esperar. Pelo amor que se foi.
Pelo amigo que não chega. Pelo resultado do vestibular. Pelo dia de carnaval.
Pelo Natal, por que não? Esperar que a fruta madureça. Que a rosa floresça.
Esperar pelo filho que partiu sem dizer pra onde. Esperar pelo ônibus, pelo
telefonema, pela liquidação do shopping, pela viagem à Europa. Esperar,
esperar! Penso mesmo que viver seja o exercício permanente de esperar. Há quem
diga que “a espera é difícil, mas eu espero cantando”. Particularmente não vejo
nada mais difícil do que o exercício da espera.
Contraditoriamente, esperar por Deus talvez seja a espera mais difícil.
Não que Deus não nos goste, nem nos queira bem. É que esperar por ele é
consequência das esperas que a vida nos dá a granel. Deus é a supremacia do
mundo, mesmo sem às vezes ter a exata noção de sua forma, de sua cor, de sua...
De sua “tudo”, porque marcados pela imperfeição, não raro nos dependuramos em
Deus para que ele nos abrevie nossas esperas. Entregar a DEUS talvez seja um
pouco do nosso inconsciente “preguiçoso” que nem sempre se realiza via nosso
trabalho. Na verdade, viver dá trabalho. Talvez não dê àqueles que vivem
“segurando a onda” e quando não a podem sustentar, “pegam uma onda no mar” e se
enganam pensando ser o dono do mundo.
Esperar. Pela hora “H”. Pelo dia
“D”. Pela vitamina “C”. Esperar por quê? Pelo sinal de transito que não abre
porque quebrou? Esperar pela chuva que vem para aguçar a safra? Esperar o “SIM”
da namorada romântica que ainda manda flores, à moda antiga? Esperar, ah
independe. Por menos que esperemos o tempo passar, ele não nos cumprimenta nem
nos dá bom dia. Talvez se sinta menos angustia que a espera deixa se a gente
começar a compreender o movimento da vida. A gente, na escola, aprende
direitinhos os movimentos da terra que são Rotação e Translação. Mas a gente se
esquece de que nunca nos ensinaram que os seres humanos precisam compreender
suas rotações interiores; que dentro dele há um “eixo” transfixante que une
cabeça e pés como se fossem norte e sul. Esqueceu-se de nos ensinar que dentro de
nós, o movimento de translação igualmente nos perpetua o ciclo da vida; não
durante um ano, mas por toda a existência. Essa compreensão, ironicamente,
rendeu-me uma espera que nos foge ao domínio da razão.
A espera de coisas e
acontecimentos movidos pela dimensão interior, talvez seja a grande prova que a
vida nos impõe pelo duro exercício da espera. Se o ônibus não vem, podemos
pegar um taxi; se um amor não vem, não era o grande amor que se foi, então logo
a gente arruma outro e assim por diante. Mas, se um filho morreu, como
esperá-lo sem desesperar? Quando a gente se perde de nós e esquece os caminhos
que percorreu, como nos recuperar? Como administraremos essas esperas? Sei não.
Mas, prefiro ter paciência com a vida e, no meu canto, enxugar meu pranto, se e
quando houver.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 06/11/2012
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