A Privataria Petista

Por Zezinho de Caetés

O que não falta neste país é assunto para escrever. São tantos os fatos e textos que nos vêem à cabeça que fica difícil juntá-los num tema só e fazer uma crônica coerente. A não ser que nos fixemos no projeto do PT para o Brasil. Aí sim teremos coerência, e muita,  que é a falta completa de coerência.

O PT começou no ABC paulista clamando contra uma ditadura militar, tendo como um dos seu dirigentes, o Lula, que naquela época não sabia nem o que era aquilo (e pelo visto continua a não saber, porque não estudou) e cercado por um bando de pessoas que acreditava que um dia a classe operária iria ao paraíso.

Foi um partido que teve um papel importante na história recente do Brasil, a começar por ajudar no projeto de restaurar a democracia, mesmo sendo contra quase todos os avanços institucionais que tivemos, inclusive, no Congresso, sendo contra a Constituição de 1988. Alguém lembra disto?

Talvez não lembre pois, como sempre, depois a Constituição serviu a alguns dos seus propósitos e então passou a existir e ser boa, como o Mensalão deixou de servir e agora foi decretado pelo Lula que não existiu. Dizem até que eles assinaram a dita cuja, que nos comanda hoje com uma certa eficiência, embora mais emendada do que roupa de matuto junino, mas se recusaram a participar da homologação coletiva porque dizia que ela havia sido feita pelo Centrão, pela direita.

Não tenho como não citar, só um pouquinho, alguém que pode errar certas horas, mas é coerente, mais do que eu, que um dia pensei em entrar para o PT, o Reinaldo Azevedo, que já em 2006 escrevia: “Ah, sim: Lula foi deputado constituinte. Quais emendas são suas mesmo? Ele não teve tempo de fazê-las. Estava ocupado acusando “os 300 picaretas”. Quando chegou ao poder, seu partido tentou comprá-los, tentou “privatizá-los”, já que era contra a privatização de estatais… Essa gente é um lixo moral continuado.”

E parece que o lixo moral continua. Final do ano passado apareceu um livro chamado “Privataria Tucana”, de autoria do Amauri Ribeiro Jr. que dizem está mais sujo na justiça do que pau de galinheiro. O livro tratava do processo de privatização na época do governo do Fernando Henrique e acusava o José Serra e família de mil “malfeitos”.

Hoje, depois de mentidos e desmentidos, e até de uma ameaça de CPI por um deputado querendo aparecer, eu nunca mais ouvi falar no livro. Ou seja, passou da fase do não li e gostei, para aquela do li e não gostei e hoje está naquela do não li e nem sei o que é isto. E eu confesso que não o li e aqui no agreste meridional só vi o blogueiro Roberto Almeida dizer que leu e achou que havia muitos documentos importantes porque pertenciam a fontes oficiais.

Ou seja, isto foi o que muitos disseram com desculpa para não ler o livro com atenção. Eu acredito mais nos que o leram e verificaram que aqueles documentos todos não passavam de blefes para engrandecer os novos patrões do autor que são da Rede Record.

Mas, eu, este fim de semana estive numa livraria, onde, quase sempre fui para não comprar, mas, para me sentar naquelas poltronas que agora eles colocam para degustarmos os livros, igual degusto comidas e bebidas no supermercado. E vi o tão propalado livro, que diziam ser um “Best seller”. Mesmo sendo um duro, quase que o comprava o livro pois estava com um desconto de 60%, do preço original.

Parece que encalhou, e se depender das notícias, breve só será encontrado nos sebos. Ontem vi o processo de privatização petista, e provavelmente, o Amauri Ribeiro Jr. se for bem pago escreverá outro livro brevemente com o título de “Privataria Petista”, mostrando suas possíveis falcatruas, começando pela fixação do preço mínimo para os leilões, dos nossos aeroportos.

O processo de privatização dos aeroportos já começou e continua agora com mais três ou quatro aeroportos sendo privatizados e num deles (Brasília) houve um ágio de 673% sobre o preço mínimo. É como se você levasse um porco para uma feira e dissesse que só o venderia por R$ 1,00, e chegando lá, tivesse muita gente querendo o porco e ele tenha sido vendido por R$ 8,00. Das três uma, ou eu não sabia o valor do porco, ou estava muito apertado ou os compradores estariam todos querendo se aproveitar do porco.

Quem clicou nas três alternativas passaria no ENEM. Na realidade, o governo não tinha a menor noção do preço dos aeroportos, estava apertado para vendê-los pois se não o fizesse a Copa do Mundo seria um caos, e os compradores receberão quantias polpudas do BNDES. Ou seja, estão comprando nossos porcos com nosso dinheiro.

Eu não critico a privatização em si, mas a incoerência do PT em tudo que este partido objetiva. O modelo do leilão privilegiou  quem deu o maior lance. O mesmo modelo dos tucanos que foi muito criticado principalmente pela nossa presidenta quando era ministra. Ela, naquele tempo, preferia aqueles que cobrassem menos do consumidor, agora voltou ao que os tucanos fizeram. Ou seja, não importa por quanto vai se comprar a carne de porco, o que importou foi o que se pagou por ele. Igualzinho no passado.

Segundo alguns especialista, este modelo tirou do mercado um monte empresas que tinha experiência no ramo, mas não quiseram chegara a este preço. Isto é, ficaram com medo de que não houvesse mercado para o porco. Embora eu ache que com a Copa e o próprio ritmo de crescimento isto não será um problema.

 Pelo que se vê, em termos de se manter no poder, a incoerência funciona. Mesmo assim, não percamos a esperança que, mostrando isto ao nosso povo, nunca precisemos ser iguais a eles para termos de voltar ao poder. E que o modelo tucano funcione outra vez. Na democracia, isto é possível.