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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ESCREVER: O TÍTULO DE UMA OBRA...


O título correto? (**)


Por Carlos Sena (*)

 O título de um artigo escrito é tão importante quanto o nome que se dá quando o filho nasce. Contudo, muitas vezes um título contém um chamamento meio marketing e, muitas vezes não significa muito o que está escrito como forma de conteúdo. Escrever é complexo, mas consegue ser simples ao mesmo tempo. Fazer marketing com um título não é pecado nenhum, mas temos que ter cuidados especiais, pois o leitor não pode se sentir traído na sua expectativa, exceto se o texto se compuser de surpresas que seduzam o leitor. O outro lado dessa moeda é quando se escreve um artigo com um título fiel ao assunto e muitos leitores principalmente via internet, não se sentindo motivados por ele passam por cima. Nesse contexto quando o título é erótico, certamente mais pessoas lêem – um pouco do que se espera destes tempos de consumo em todos os sentidos. Consumir uma leitura carece, na visão moderna equivocada, que tenha um apelo iniciado pelo título. Títulos com “Amor” já não fazem tanto sucesso quando no passado. Já títulos com apelos sexuais ou de violência, certamente despertam mais atenção de muitos.

Há que se fazer justiça aos leitores que lêem por amor a literatura. Esses, dificilmente se seduzem pelo título de um livro, de um artigo, de uma poesia. Os livros mais lidos do mundo não têm título atrativo, mesmo considerando que o marketing moderno muito contribui para que determinados autores anônimos logo virem celebridade na literatura, mesmo fazendo uma literatura fraca, mais pra “lixeratura”. Boa parte dos jovens da geração chamada de “Y” lê o que a internet lhe coloca na cara através de redes sociais, ou via e-mails nem sempre dignos de recomendação. Nas faculdades, quando os professores indicam livros pra pensar, a maioria deles não compra, mas xerografa as partes que lhes interessa e, desta forma, o conhecimento vai ficando cada vez mais fragmentado.

Tenho escrito muitos artigos no Recanto das Letras. A grande maioria deles com títulos fiéis aos conteúdos. Algumas vezes os acessos são pouquíssimos e, então, eu faço o teste: mudo pra outro título mais chamativo, talvez apelativo. Resultado: o número de acessos aumenta consideravelmente. Deste modo, compete aos escritores descobrirem o caminho que devem tomar ao titular suas obras. Prefiro muito os títulos criativos que, na maioria das vezes desperta interesse por si só. Isto porque sei que os leitores do Recanto têm pouco tempo para ler textos pesados, densos e com títulos secos, muito filosóficos, extravagantes. Um título de uma crônica, por exemplo, deve ser leve, e se possível conduzir consigo um pouco do conteúdo dela, pois a crônica no geral trata da visão do autor sobre o mundo, nem sempre o seu mundo, mas o mundo social... Outro viés dos títulos: o elemento surpresa na contradição do tema. Um conto erótico que leve no seu título expressões pudicas, nem sempre chamam atenção, mas quando o leitor se debruça nele e se envolve fica muito bem posto. Finalmente, nunca um título de uma obra literária por si só será unanimidade. Cada leitor, em seu universo cognitivo “viaja” num titulo pela forma, pela natureza, pela obviandade do assunto... Importante mesmo é que não se deixe de ler bons textos porque seu autor, por algum motivo, não foi bem na escolha do “batismo” dele... O resto a gente traça com os dedos da imaginação que o computador às vezes teima em não traduzir...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 19/02/2012
(**) Esta foto já foi apresentada com o título de ponta-cabeça. Qual a que foi maquiada pelo Photoshop? Até nisto o título influi. Vale salientar que a foto não faz parte do texto original do Carlos Sena. Administração da AGD.

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