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quinta-feira, 31 de março de 2011

VENDEDORA DE AMENDOIM




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Flavinha era uma moça muito bonita, cabelos longos, olhos esverdeados, boca sensual com um par de argolas em cada orelha dourada parecendo mais uma espanhola. Manejava bem o corpo quando oferecia amendoim como tira gosto nas mesas dos bares.  Vinha sorridente e já com uma colher com alguns caroços e colocava na mão dos fregueses, e depois colocava duas colheres em um pequeno papel de embrulho, rosa ou verde e saia sob o protesto dos mesários que não queria, ela se voltava rindo, dizendo quando eu voltar se tiver intacto eu recolho e nada cobro. Ledo engano. Quando ela saia todos buscavam alguns caroços do amendoim torradinho e novinho do jeito que ela falava e quando ela aparecia, sorrindo, dizia “dá-me o meu dinheiro” que vou pegar o “bonde”, e apesar das reclamações se pagava e ficava olhando o rebolado indo ela para outros locais. Vivia desse comércio ambulante. Tirava o seu sustento com aquele trabalho, mesmo recebendo “cantada” a todo instante, isto não a incomodava, pois fazia parte do cotidiano de uma vendedora em bar. Muitos faziam proposta para viverem juntos. Outros para passar a noite em algum lugar. Ela descartava. Dizia, que todo homem é igual “só quer comer da fruta, mastigar e jogar fora” e a mulher que se ferrava. Se embuchasse caia fora e a mulher que fosse criar a sua cria, como aconteceu com ela quando tinha dezoito anos. Enamorou-se de Zeca, um bonitão morador em sua Rua do Bom Jesus no Alto da Besta, se entregou e desta entrega nasceu Normando, apelidado carinhosamente por “Nando”, já com cinco anos. Queria viver outra vida, pois agora tinha uma “cria” para criar, referindo-se a Nando.
 
Começava o dia como comentava quando era perguntada, por volta das dez horas da manhã. Os primeiros fregueses eram do Bar Alvorada, na Praça Machado de Assis, por trás do cinema São Luiz, depois, atravessava a Ponte da Boa Vista (ponte de ferro) e ia visitar o Bar do Mijo, na Praça Joaquim Nabuco, seguia para Sorveteria Perola, e o Bar Rosa de Ouro, no fundo da Loja Viana Leal, indo para o Botijinha, depois Savoy e A Nova Portuguesa, na Rua Diário de Pernambuco e finalmente, na Praça do Sebo, por detrás do Edifício Almare, no Bar do Gordo e de outros que ali se concentrava. Era minha Via Sacra, ela dizia rindo e com as mãos na cintura, o que fazer? A vida é esta não tem outra, por enquanto. É correr atrás da “bolacha” se eu não comprar como vai a ser a minha vida? Certa vez no Escondidinho Bar, numa manhã ensolarada e a vitrola tocando Valdick Soriano, ela deu uma bofetada em um atrevido que lhe passou a mão na sua bunda. Foi um bofete que o caro caiu da cadeira no chão. E, disse eu trabalho vendendo amendoim e não sou o que você pensa, seu cabra safado. O cara levantou-se todo desajeitado, com marca da bofetada no rosto. Todos ficaram olhando e ela saiu do recinto vitoriosa. Um dia quando estávamos todos no Savoy, ela chegou com o mesmo sorriso e a mesma manobra para venda do seu produto da sua subsistência.  Percorreu algumas mesas distribuindo o amendoim torradinho, mesmo com a negação fregueses, o amendoim 
era colocado na mesa.

Ao sair falou:

Olha pessoal e meus amores estou deixando esta vida. Não dá mais para mim. Vou me casar e viver uma vida sem tanto aperreio e sem tanta “frescura”. Encontrei um bom moço que se engraçou de mim, e quem não se engraça desta morena gostosa? Perguntou rindo todos com gestos sensuais. Mas não é brincadeira. Encontrei em uma festa que fui à casa de uma amiga em Boa Viagem. “Passeava na praia pela manhã quando aquele ‘broto velho” já na casa dos seus cinqüenta anos, começou a me olhar e de repente se achegou em mim e disse “eu te amo”.  Amor a primeira vista. Fiquei atordoada e sem fala, mas ele falou serio e marcou um encontro comigo. Neste dia não vendi amendoim. Marcamos um novo encontro. Eu já “escolada na praça da vida” com tantos casos por aí, e eu que levei “cano” anos atrás, fui cautelosa para ver a sua intenção, pois não queria cair em uma nova cilada, só bastava uma que me deu “Nando”. Genaro era o seu nome, aposentado da Rede Ferroviária, morando em Casa Forte, bom partido com uma situação financeira estável tudo o que eu queria para sair desta vida que levo. Pensei, muito sobre o assunto, e vi que era uma oportunidade que aparecia em minha vida.

Depois desta noticia, ninguém mais viu a Flavinha no “pedaço” vendendo o seu amendoim. Os fregueses já acostumados com a sua presença graciosa ficaram fazendo várias conjecturas. Uns diziam, penso que ela achou um cara certo. Outros diziam não sei não, este amor de primeira vista é passageiro e bem pouco tempo ela aparece dando algumas desculpas. Esquecemos a Flavinha, outras e outros apareceram vendendo o amendoim o que vinha logo em mente a Flavinha com o seu rebolado.

Passado mais de quinze anos, encontro no Shopping Recife, o Daniel um boêmio da época e deu-nos a noticia. Sabe quem encontrei aqui no Shopping a Flavinha, a vendedora de amendoim, numa pinta que só você vendo. Ninguém acredita. Falou comigo e disse que a sua vida mudou. Agora estava morando no bairro de Casa Forte, com o seu “amor a primeira vista” e o Nando o seu filho já estava terminando o curso de Medicina na Universidade Federal de Pernambuco. O que mais queria, disse sorrindo. Sou feliz. Saiu passeando com o seu gingado. 

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