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quarta-feira, 23 de março de 2011

BARTÔ, O ATEU




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Conheci Bartolomeu em uma tarde festiva na mesa do bar Savoy, no final dos anos 70, na Avenida Guararapes, o coração do Recife, hoje, alquebrado, feio e sujo. Estávamos reunidos bebericando e jogando conversa fora, e através do nosso amigo Nilo freqüentador assíduo, que já o conhecia lá prá bandas do Alto de Santa Terezinha, zona Norte do Recife nos apresentou. Dali prá frente quase todos os sábados lá estava conversando animadamente. O Nilo, em uma ocasião, falou que o Bartô era ateu. Todos nós ficamos admirados com aquela noticia, pois, todos nós acreditávamos em Deus, mesmo não participando das liturgias das igrejas, com freqüência.

Num certo dia que o Bartô apareceu no Savoy, Henrique, grande boêmio, falou para que todos ouvissem:

 Bartô você é mesmo ateu? Você não tem nenhuma religião? Como é?

Não acreditas em Deus? Como é isso? Conta-nos

Bartô deu uma risada e disse,

Realmente não acredito em nada. Para mim Deus não existe. Isto tudo em que vivemos é uma mentira, nós chegamos neste lugar sem saber como chegamos, apenas abrimos os olhos depois de certo tempo e vamos voltar fechando os olhos sem saber para onde vamos. Tudo vai se evaporar. Tudo se tornará pó ou cinzas, como queira vocês interpretar. Nada vale, somente é valido este momento que aqui estamos o resto e banal.

E como você apareceu e vive? Este espaço que nós habitamos, este ar que respiramos, a natureza, os animais, e a vida em sim, como apareceu, se não foi um SER superior que a criou? Jamaci perguntou arregalando os olhos em sua direção.

Eu não sei explicar apenas este o meu pensamento e com ele vou até o fim. Mas vamos parar por aqui, não gosto de discutir este tipo de coisa, cada um tem a sua preferência e eu tenho a minha e não gosto que ninguém se intrometa, ok. Ainda, digo mais, mulher, futebol, religião e política não se devem discutir cada um tem a sua opinião e preferência, e vocês fiquem na sua e não me incomode, disse já aborrecido.

 Ficamos todos atônitos, olhando um para o outro tentando compreender aquele colega de bar.

Encerramos o assunto, e passamos a jogar “porrinha” disputando garrafas de cervejas e tira gosto. Quem quisesse ver o Bartô danado começasse a falar de religião, ele se retirava irritado e para irritá-lo o Melo muito gaiato, quando chegava o Bartô na mesa, ele falava alto chegou o nosso ateu. Bartô já mostrando irritação, dizia. “aqui não é o meu lugar” e começava a se retirar enquanto os outros colegas de mesa, dizia, “deixa de besteira, Bartô, puxa a cadeira e senta-te, pois esse cara só quer te apoquentar”, apontando para o Melo que ria descaradamente.

Certo dia, uma sexta feira, ás treze horas, Maguari, trabalhando como despachante na Receita Federal chegou ao Savoy espavorido, com suor escorrendo pelo rosto, com a sua pasta na mão. Puxou uma cadeira e pediu ao garçom Careca, uma cerveja bem gelada, dispensando uma que tínhamos pedido há pouco instante. Solveu um copo de uma só vez, limpou a boca na manga da camisa. Olhou para todos nós e falou; Meus amigos não sei como começar, mas tenho uma bomba atômica para contar a todos vocês!

Todos nós ficamos na expectativa, olhando um para o outro aguardando a noticia bomba que o Maguari tinha para falar. Demorou um pouco tomando fôlego e tomou mais um copo de cerveja.

Fale, diga o que ocorreu que lhe deixou desta forma, pois, todos nós estamos curiosos para saber do acontecimento.

Na mesa, se encontrava os companheiros, o Nilo, Jamaci, Maia, Melo, Guilherme, Nelsinho, e Marcio Bessa, Zé Maria e o que escreve este pequeno artigo.

Maguari tomou mais um copo de cerveja e disse: “o que vou lhe falar vocês não vão acreditar”, percorrendo com um olhar todos nós, na expectativa da noticia.

Todos nós já estávamos impacientes aguardando o Maguari falar e, ele disse:

Vocês sabem quem eu encontrei na Basílica da Penha, na missa das 11h30min, recebendo a benção de São Felix?

Ficamos calados.

Pois é, disse Maguari, Bartô, o ateu na fila para receber o óleo na testa.

Naquele mesmo instante, me belisquei, fechei os olhos pensando que estava sonhando, mais era o próprio Bartô, ali em pé, na fila, aguardando a benção que os frades capuchinhos dava aos fieis. Fiquei admirado e o aguardei na saída da igreja.

Assim que ele passou o abordei e disse: Tu sempre apregoaste que é ateu, de que não acreditavas em Deus e em mais ninguém, como é que estais aqui recebendo a benção de São Felix e assistindo a Santa Missa?

Olhou admirado para mim e disse:

Eu nunca fui um ateu convicto, apenas para me vangloriar, dizia “que era ateu”, pois, assim me destacava na roda da mesa do bar, onde todos me olhavam com espanto por esta afirmação. Questionavam. Ficavam perplexos. E, eu ficava empolgado. Apanhei uma doença na urina, mijando sangue, e minha mulher muita devota de São Felix fez uma promessa para a minha cura, e eu prometia ela que cumpriria a promessa.  Estou curado, apenas tomando alguns remédios, no entanto a doença desapareceu e desta forma estou cumprindo a promessa, e estou me dando bem com as palavras proferidas pelos padres capuchinhos.

Eu desapareci estes tempos dos nossos encontros no Savoy devido à doença e o tratamento receitado pelo “doutor” que aconselhou que eu não tomasse nenhuma bebida que contivesse álcool.  E, completou: “Já viu alguém, como eu, boêmio inveterado, chegar numa mesa de bar e não tomar nada, nem uma “lourinha suada” é demais não é amigo? Brevemente e quem sabe no próximo sábado estarei no Savoy para agüentar as gozações de todos, mas o que fazer? Menti e, toda mentira merece uma “paulada”.

Um abraço. Dê lembranças minhas aos demais companheiros boêmios.

Seguiu pela Praça Dom Vital para apanhar o ônibus para sua casa na Avenida Guararapes. 

8 comentários:

  1. POR FALAR EM FÉ E EM ATEU O POETA CARLOS DRUMOND DE ANDRADE TINHA UMA TERRÍVEL DÚVIDA. AFINAL, VIVIA A SE PERGUNTAR: QUEM GEROU DEUS?!?!?!

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  2. Essa questão do Carlos Drumond de Andrade: “Quem gerou Deus?”, que o Altamir Pinheiro traz a baila, talvez, pela impossibilidade de ser respondida é que explique o motivo de se ser agnóstico. Vamos ser sincero, o ser humano em seu atual estado de desenvolvimento não tem capacidade de afirmar, negar ou explicar a existência de Deus. É isso.
    Roberto Lira

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  3. Ao ver estes comentários me lembrei do Cleómenes (que Deus o tenha na floresta amazônica) quando ele vinha com dúvidas deste tipo. Eu apenas respondia que esta dúvida não existia em minha cabeça, pois sei que Deus é o princípio e fim de todas as coisas existentes, e explicação lógica ou científica para isto não existe, e o que é pior é um erro pensar que possa existir.
    O homem nasceu religioso. É a nossa grande diferença do elo perdido, que muitos chamam do precursor de Adão. A consciência, evolutivamente, é um sinal de Deus e com ela criou-se a religião, ou religamento com Deus.
    Todas as religiões, dentro das limitações do homem para descrevê-la tem suas maneiras de expressá-las. Para mim, que nasci católica e sou católica, é a melhor maneira, mas não, a mais correta.
    A mais errada é o agnosticismo, que leva ao inferno sem nenhuma felicidade, como eu já avisei para o Roberto e aviso agora ao “guerrilheiro” Altamir, embora nem saiba de suas crenças.
    É pena que agora meu neto tome o tempo dos meus debates religiosos, sobrando só para os políticos. E vejam que já é muito difícil convencer o pessoal de Garanhuns que Lula não vai aprender a escrever depois que receber o título de Doutor Honoris Causa. Quando o cara chega a recebê-lo já burrificou geral.

    Lucinha Peixoto (Blog da CIT)

    P.S.: Eu já fui muito e vou ainda quando tenho tempo vou à bênção de São Felix. Um oleozinho na testa de vez em quando abre as ideias.

    LP

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  4. Conterrânea Lucinha, mesmo sem solenidade lhe prometi no texto “Conhecimento, Crenças e Opiniões” não confrontar as opiniões formadas pela lógica afetiva e/ou lógica mística. A promessa será cumprida, mas não será comprido esse comentário. Espero de sua parte que você cumpra o prometido: rezar para que eu (agnóstico) NÃO seja levado para o inferno, sem nenhuma felicidade. Snif! Snif! Snif! Snif! Se você não cumprir a promessa é você quem vai ter uma estada COMPRIDA lá onde mora o capiroto! Kkkkkkkkkkkkkkk!

    Roberto Lira.

    P.S.: Lucinha, no blog do Nivaldo Tenório foi postado ontem o texto “Uma provocação as mulheres”, ele trata do assunto em pauta (http://nivaldotenorio.blogspot.com/)
    RJTL

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  5. NÃO SEI SE ELE ESTAVA CERTO, MAS O FILÓSOFO RON BARRIER JÁ DIZIA QUE: SE DEUS EXISTISSE, A FÉ SE TORNARIA DESNECESSÁRIA E TODAS AS RELIGIÕES ENTRARIAM EM COLAPSO.

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  6. DEUS EXISTE Altamir! DEUS EXISTE! DEUS EXISTE! DEUS EXISTE, graças a Deus!
    Roberto Lira

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  7. Roberto e Altamir,

    Fui ao blog do Nivaldo Tenório. Bom escritor, daqueles que escreve errado por linhas certas. Não estou com tempo para colocar lá um comentário, mas o farei em breve. Gostei do seu comentário e pergunto ao Nivaldo: Que o leva a crer que ser ateia é sinal de dependência feminina? Pelo contrário, prova que estivemos sempre por cima, e hoje até na força física estamos chegando lá. Nivaldo que me aguarde!

    Lucinha Peixoto (Blog da CIT)

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  8. EU AINDA DIGO QUE SE UMA IGREJA TEM UM PÁRA-RAIOS NO SEU TELHADO É POR FALTA DE CONFIANÇA!!!

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