Por Denis Lerrer Rosenfield
Os evangélicos estão no centro do
debate nacional. Tornaram-se atores políticos, pautando sua ação em valores
conservadores, incluindo desde costumes até questões dogmáticas, como a mudança
da Embaixada do Brasil em Tel-Aviv para Jerusalém. Ao contrário dos católicos,
que não seguem normalmente os dizeres políticos de seus padres, eles tendem a
observar as orientações de seus pastores. É bem verdade que os católicos são
numericamente superiores aos evangélicos, porém tal diferença não tem
relevância eleitoral.
Ademais, por muito tempo os
católicos abandonaram posições religiosas em benefício de posições esquerdistas
da Teologia da libertação, apoiada pela CNBB. Criou, por sua Pastoral da Terra,
o MST e sempre o apoiou desde então. Não mais respeitou o direito de
propriedade, afastando a Igreja dos empreendedores rurais. Esses setores da Igreja
foram firmes apoiadores dos governos petistas.
O eleitorado evangélico considera
os costumes sob uma ótica religiosa. Aí não entra em questão uma discussão
propriamente racional, pois o seu fundamento se encontra num texto bíblico, que
fornece os critérios do juízo e da ação. Assim é o caso do aborto, do casamento
homoafetivo, dos textos didáticos sobre gênero e do que o PT considera
politicamente correto. Aliás, esse partido começou a perder seu eleitorado
evangélico ao contrariar essa pauta de valores. Quando Bolsonaro se manifesta
sobre a pauta de costumes, tem em mente precisamente esse eleitorado.
Outro ponto de princípio dos
evangélicos diz respeito à mudança da embaixada brasileira para Jerusalém.
Trata-se de uma questão dogmática, não sujeita a discussão: Jesus ressuscitará
quando Jerusalém se tornar a capital do Estado judeu. Passa, então, a correr
outro tempo, o do processo de conversão dos judeus, passando ambas as religiões
a ser uma, sob os princípios do cristianismo, principalmente o reconhecimento
de Jesus Cristo como Messias.
Bolsonaro comprometeu-se com esse
seu eleitorado a fazer tal mudança. Seu compromisso continua, embora por
questões conjunturais tenha sido adiado. Muito provavelmente realizará essa
mudança em 2021, um ano antes da eleição presidencial. Ao cumprir sua promessa,
terá apoio maciço da comunidade evangélica. Note-se que Trump assim conquistou
o apoio do eleitorado evangélico, ganhou as eleições e cumpriu a sua promessa.
O PT está aqui mal colocado, pois
optou pelo politicamente correto de forma esquerdizante e se chocou de frente
com os evangélicos. As contrariedades e os ressentimentos se traduziram no
apoio ao candidato Bolsonaro em 2018. As posições antissemitas/antissionistas
do PT igualmente tiveram papel importante no distanciamento. Lula tenta uma
reaproximação, porém suas dificuldades são imensas. A visita ao papa tampouco
atenua o problema, ao dirigir-se a outro eleitorado, além de seu caráter
manifestamente inapropriado ao envolver o santo padre numa questão política, a
da corrupção e do roubo em seus governos, sem arrependimento nem confissão.
Tomemos o exemplo da Assembleia
de Deus. Essa confissão tem no Brasil em torno de 20 milhões de membros. São
pessoas acima de 14 anos de idade, capazes de fazer a escolha de sua religião,
quando então se tornam parte integrante dela, em sentido pleno. Considerando a
idade eleitoral de 16 anos, quase todos são eleitores, em sentido estrito. Não
barganham com questões dogmáticas, como certos preconceitos veiculam contra os
evangélicos. Foram missionários suecos que a introduziram no País. São pessoas
extremamente sérias e comprometidas com sua religião. A Igreja Universal do
Reino de Deus, numericamente menor, tem, por sua vez, enorme importância
midiática, por ser proprietária da Rede Record. Trata-se de uma rede de
comunicação que abarca principalmente as classes C e D.
Qualquer PEC ou projeto de lei,
para ser aprovado na Câmara dos Deputados, necessita passar pelo crivo da
bancada evangélica. Após a bancada da agricultura e da pecuária, é a segunda em
importância. A Câmara tem 513 deputados federais e a bancada evangélica, 86.
Outras estimativas chegam a 106. O Senado tem 81 parlamentares e a bancada
evangélica, 9. Outras estimativas chegam a 14. Qualquer articulação parlamentar
de governo deve passar por tratativas com essa bancada, que sempre sustentará
suas questões de princípio, mesmo quando não forem objeto específico de
negociação.
Os evangélicos estão distribuídos
em vários partidos, embora votem alinhados entre si. A sua estratégia consiste
em captar o maior número possível de eleitores em diferentes configurações
partidárias, atendendo a conveniências regionais. Ademais, escolhem candidatos
preferenciais em cada Estado, concentrando neles os seus votos. Os candidatos
escolhidos são pessoas próximas das lideranças religiosas e delas dependem,
agindo organicamente. Muitos são “filhos espirituais”, assessores e discípulos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário