“Das nuvens, também chovem dados
Por Silvio Meira
Há uns meses, falamos das Três
Leis da Era Digital, inspiradas nos princípios de Asimov para a Robótica. Eram
assim:
1) Deve-se proteger os dados das
pessoas
2) Deve-se proteger as pessoas
dos algoritmos.
3) Deve-se garantir que a
primeira e a segunda leis sejam bases para o futuro e não caminhos para o
passado.
Uma possível implementação da
nossa primeira lei é a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que trata do
ecossistema de dados no Brasil, cuidando da proteção e privacidade das pessoas.
Não é um problema menor: “quase” em tempos de LGPD, dados de milhões de
usuários de grandes instituições vazam. Neste mês, foram vazados os dados do
programa Clube de Descontos do governo, que expôs dados de todos os
funcionários públicos federais, inclusive agentes da Agência Brasileira de
Inteligência, a Abin. As informações mostravam até um deles posa de vigilante
na UnB.
Estamos a 6 meses da entrada em
vigência da LGPD, e ela vale para todos, inclusive o Estado. Mas seria um erro
pensar que tal problema só afeta o Brasil. Um vazamento de dados em Israel
acaba de deixar em aberto dados de todos os eleitores do país. Atentado
digital? Não: para achar os dados, bastava clicar no botão direito do mouse e
ver o código-fonte no navegador.
Há pelo menos 600 anos, o desenho
de informação e o controle de sua circulação, na forma de apontamentos e mapas,
em tempos de escassez e imprecisão, foi essencial para expandir nosso
(entendimento do) mundo. Portugal, tão pequeno, era especialmente competente em
gestão de informação e o fez de forma estratégica. O que podemos aprender com o
passado, em tempo de tantos dados precisos e tão pouco design e gestão?
O problema de proteção de dados
tem, dentro dele, um problema de engenharia de informação. Ele pode ser chamado
de gestão de ciclo de vida de informação do negócio. Envolve uma miríade de
fatores: quais são os dados necessários e suficientes para realizar algo?
Quando, como onde e por que eles devem ser preservados? Não é algo simples de
resolver, como usar uma nuvem computacional: 91% não criptografam arquivos
“parados”; 87% não deletam arquivos quando uma conta é fechada. Das nuvens,
também chovem dados.
E o guarda-chuvas não é a LGPD. A
lei deverá criar um ambiente em que todas as instituições serão forçadas a
criar, manter e evoluir processos de gestão do ciclo de vida do informação do
negócio. Isso demanda tempo, estratégia, até mesmo mudança em modelos de
negócios. Mas era isso que os portugueses tinham para descobrir o mundo:
estratégia e gestão da informação, com os recursos possíveis na época. Quem
quiser sobreviver na era digital terá que fazer algo muito parecido, senão igual.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário