Por Zé Carlos
Em Bom Conselho sempre existiu, durante a Semana Santa uma procissão do encontro. Não me lembro mais, diante da minha queda de religiosidade, os seus detalhes. Mas, ela representava um encontro de Maria com seu filho Jesus, quando este ia em direção à morte. Lembrei-me disso ontem, quando li a notícia no Mural da AGD, da morte de uma sobrinha de Pedro Ramos, o meu amigo Dodó.
Senti muita a morte de uma jovem, e senti muito mais por não saber seu nome e o nome dos seus pais. Fiquei pensando, será ela uma filha de Luiz Ramos e Juvani, que conheci ainda no Rio de Janeiro, ainda quando era mais lindo do que é hoje? Parece-me que ela se chamava Érica, perdoem-me seus pais se eu tiver enganado. Não importa de quem ela seja filha, uma vida jovem perdida é sempre triste, e mais triste ainda para cada um que também sente os sofrimentos dos pais.
Eu, daqui deste jornaleco virtual que foi criado para fornecer notícias e opiniões boas, nunca gostaria de dar os pêsames a ninguém e muito menos, quando se trata de amigos tão queridos. Quis o destino, que em apenas uma semana tenha que lidar com morte que envolve diretamente duas famílias queridas, a Família Torres e a Família Ramos de Souza. Como dizem os pacificadores de almas em chamas: “é a vida!” Meus sinceros sentimentos a elas pela perda de uma jovem, a menina sem nome, e uma nem tão jovem assim, minha professora Josemir Torres, sobre a qual tenho histórias mais alegres para contar posteriormente.
Na mesma nota em que li sobre a morte da sobrinha de Pedro Ramos, li também que o encontro de papacaceiros este ano havia sido suspenso. Fiquei mais triste ainda. Pois, esta decisão só aumentará a dor das famílias enlutadas. Além das perdas de seus entes queridos, eles terão que carregar a culpa por impedir um evento que muitos já consideram como um evento turístico da cidade. Ao invés de se fazer a festa para prestar uma homenagem ao seu criador, ela é suspensa, com se fosse algo mau e pecaminoso. Agimos como extremos provincianos, quando já crescemos demais para isto. Mutatis, mutandis, ninguém pensou em suspender a saída do desfile do Galo da Madrugada por causa da morte do seu fundador. Isto não indica nem descaso nem falta de sentimento para com a sua família, e sim, mostrar que a vida continua, e pode continuar de uma forma muito melhor prá ela com a homenagem feita ao Enéias pelo Bloco.
Mesmo antes de saber das mortes de Josemir Torres e da sobrinha do Dodó eu já dizia aqui, que seria uma temeridade suspender uma festa programada com tanta antecedência, por mais que sentíssemos as adversidades que se abateram sobre as famílias. Por isso, criamos uma enquete, aqui na AGD, para auscultar sobre o desejo de uma parte ínfima do povo de Bom Conselho, que é a elite conectada de nossa terra. Vejam o seu resultado. Não vou falar aqui que o povo quer isto ou aquilo, pois não houve eleição nem pesquisas mais precisas, mas, tenho minhas dúvidas se o povo fosse consultado, ele quisesse, em maioria, suspender a festa. Muita tristeza rolou antes do último Forróbom, e a Prefeitura decidiu manter a festa, se naquela época já externasse minha opinião publicamente, teria concordado com a Prefeita.
Alguns dirão, já sei, mas este cara nem a festa vem, o que ele quer dando pitacos impertinentes aqui? Eu apenas diria que não precisamos fazer discursos na Praça Pedro II todos os dias para darmos opinião sobre as coisas de nossa terra, desde que deixemos vaga para os que ficaram na cidade terem opinião e decidirem sobre os seus destinos, afinal de contas, eles formam o que chamamos de povo de Bom Conselho. Apenas tento justificar minha opinião que é a favor da Cidade, pois o turismo é uma das nossas vocações, pouco explorada ainda, mas a festa dos Pacaceiros estava no rumo certo. Eu pergunto, quem deverá morrer ou não no próximo ano, para que a festa prossiga?
Recebi o último número da A GAZETA, jornal do nosso querido Luis Clério, que pelo seu período de publicação não pode estar atualizada com todos os acontecimentos, mas, cito uma de suas frases, e que pensei, também seria o resultada da reunião que fizeram Luis, Maria e Celina, ano passado:
“O importante é que a Praça Pedro II será o ponto de encontro de todos os papaceiros – nativos e de fora. A confraternização, alegria e bate papo fica por conta de todos. Basta um som, um teclado, Basto Peroba, pois cantores termos para todos os gostos.”
Se isto acontecer, já não podemos dizer que o Encontro de Papaceiros foi suspenso em 2011. Ele apenas mudou de forma, e pode ser uma forma de fazermos uma bela homenagem às famílias, que, tenho certeza não querem a tristeza de ninguém. E confesso, se a festa continuasse assim todos os anos, eu até pensaria em ir.
Ao ler este texto do Zé Carlos, muitos pensamentos afloraram em minha mente. O primeiro deles é sobre a compreensão daquilo que chamamos de morte. Ao observar a reação manifesta de cada indivíduo frente a este fato, que para todos nós é inevitável, concluo que cada ser humano tem uma compreensão muito pessoal sobre a morte. Essa compreensão particular ocorre em todos os aspectos relacionados ao fato (morte). Por isso, penso que as manifestações sobre a morte, daqueles que estão próximo ou longe do nosso viver, e do nosso morrer, devem ser respeitadas por terem substância nos nossos conceitos, nos nossos condicionamentos.
ResponderExcluirComo já manifestei em escrevinhações passadas, meus conceitos sobre a vida e a morte não são muito comuns. Ou seja, não é compartilhado por muitos. A morte de conhecidos, por exemplo, desperta em mim sentimentos de tristeza e de saudade. Pois é um afastamento, uma interrupção do convívio físico e como somos condicionados a perceber este convívio através dos sentidos físicos achamos que a morte é o fim de tudo. Mas, se pensarmos que a morte faz parte da vida ela pode ser tratada com naturalidade e não de forma lastimosa, de forma enlutada.
Como agnóstico para muitos aspectos da vida, a morte é para mim algo incognoscível. Na atualidade, tenho tratado a morte como parte da minha vida, e, por conseqüência parte da vida dos meus familiares, dos meus amigos, dos meus conhecidos e dos desconhecidos. Vivo cada dia como se fosse o último. No aqui e no agora, o que acho certo fazer faço agora. Procuro me apegar apenas à essência dos seres e das coisas.
Sei que o sentimento de tristeza e de saudade será tanto maior quanto mais próximo for aquele com quem se perde o convívio. Mas não quero, e penso que não devo lastimar a morte de ninguém. Penso que o sentir deve ser de: TRISTEZA, SAUDADE, SAUDADE e SAUDADE.
Fico esperançoso que às famílias Torres e Ramos de Souza superem esse momento de Tristeza e de Saudade e se resignem a Vontade do Criador. Pois, mesmo quando esta não é compreendida, é necessário ser assimilada (convertido em substância própria).
Meus sentimentos a todos.
Roberto Lira