MATRIZ DA SAGRADA FAMÍLIA (Foto: Roberto Lira) |
Por Zé Carlos
Este texto faz parte da série: Em Bom Conselho. O título é diferente porque eu queria aproveitar o bordão dos cartões postais para escrever sobre minha visita à Praça Pedro II à noite. A foto introdutória é do Roberto Lira, que também esteve na terra no final do ano passado e a nos enviou gentilmente, junto com outras que estão publicadas ao final das postagens.
Quem é de Bom Conselho e que morou lá por muito tempo, sabe que as histórias de nossa terra brotam mais à noite do que durante o dia. Não sei se isto se aplica a toda a história, mas tenho certeza de que, o que se passa durante o dia, é planejado à noite. Inclusive nossa fabricação inicial, quando as sementinhas se encontram e começam a crescer. Mas, não é só isto. As grandes batalhas e acontecimentos de nossa história foram pensadas durante à noite. Basta ler qualquer livro sobre eles, e verificar que as presenças de candeeiros e luzes artificiais estão mais presentes nelas do que na luz do sol.
Por exemplo, o primeiro estádio em que joguei futebol, tinha iluminação muito boa, para aquela época em Bom Conselho. Ele ficava em frente aos Correios e da Cadeia Pública. Os holofotes eram os postes de iluminação pública e a bola era de borracha e não era maior do que uma laranja Bahia. Um contra um, dois contra dois, três contra três, e, e quando chegava mais de seis se fazia outro time, pois o campo era pequeno. As traves eram feitas de tijolos no chão e as laterais eram o meio fio, o jogo não parava quando a bola saia pelas laterais, só quando saia pela linha de fundo. Tudo à noite.
Naquela época era o nosso Bom Conselho By Night. Não era só futebol. Eram o “rouba bandeira”, o “garrafão”, a “academia”, brincar de “lonha” e de “bandido”. Ouvir os ensaios da Banda Villa Lobos, vê-la se organizar e marchar rumo ao centro para abrilhantar as festividades mundanas ou religiosas. O pastoril de Lurdes “Isaca”, cantando e dizendo boa noite aos senhores todos, e as senhoras também. Minha irmã, Lourdinha, se candidatando a rainha de pastoril, perdendo e meu pai ficando triste. Tudo à noite.
Anos luz depois volto a Bom Conselho, começando pelo seu centro e à noite. Não vejo mais as bancas de bozó, nem as “ficheis”, nem o Zé Galdino distribuindo notas de um cruzeiro, bem novinhas, e a meninada atrás para ganhar a sua, e eu com ela. Os jogos do jacaré nem as brincadeira simples de derrubar latas, que um dia eu empreendi junto com o Ives Crespo, em frente a farmácia de Ivan. Tudo á noite.
Hoje o que vejo? Um parque de diversões imenso cumprindo o seu papel de divertir o povo, umas poucas pessoas na praça e nossa imponente matriz. Não podemos, porque somos, forçar os outros a serem saudosistas. O povo é outro, as diversões são outras, a época é outra. Entretanto, penso eu, há um limite para mudança, que ao ultrapassá-lo, a cultura de um povo para de existir. No dia em que fizerem, no lugar das Muralhas da China, um certa elétrica, a China começará a morrer, se já não começou. Bom Conselho não é de hoje, que tem ultrapassado certos limites, na arquitetura, nos folguedos populares, na religião, nas escolas e noutras atividades. Mas, onde ficará este limite?
Se eu soubesse diria às autoridades responsáveis por sua noite, que eu achava maravilhosa, agora eu tiro fotos. Vão em nossa página Vídeos e Fotos e curtam Bom Conselho By Night. Tudo é noite.
Linda, linda, linda...
ResponderExcluirQuando criança e mocinha costumava passar férias em casa de meus tios, hoje falecidos.
Minha mãe foi aluna do Nossa Senhora do Bom Conselho e nós amamos esta terrinha.
parabéns pela foto e por trazer essa saudade gostosa.
Selma Mello- Jornal Sináculo
Selma,
ResponderExcluirObrigado em nome daqueles que fazem a A Gazeta Digital. Você é quase uma conterrânea.
Zé Carlos