“STF reforça um
vazio
Por William
Waack
A bagunça criada
pelo STF é perigosa, não só pelo que possa significar para os destinos
políticos deste ou daquele (no caso, Lula), mas, sim, pela destrutiva força que
dali emana de insegurança jurídica. Faz tempo que o STF deixou de ser um
colegiado para se transformar num ajuntamento de 11 indivíduos, cada um com
suas ideias próprias do que seja a aplicação do texto constitucional. E, sem
liderança, papel que seu decano não quer ou não foi capaz de assumir.
Transformado, às
vezes, numa espécie de assembleia constituinte, dadas as interpretações capazes
de inverter o sentido de preceitos constitucionais, o Supremo é o espelho exato
do que se chamava antigamente de judicialização da política (já que o sistema
político não resolve, as decisões acabam caindo no colo de juízes, que não são
competentes para isso nem foram eleitos). O que existe hoje é a perigosa
politização da Justiça, entendida como tomada de decisões que tem como cálculo
atuar na política ou reagir ao que integrantes do Supremo possam considerar que
seja “clamor popular”.
Com algum atraso
– felizmente, depois das eleições – cumpriu-se um dos cenários mais temidos
pelos integrantes das Forças Armadas, que pularam para o lado de Jair
Bolsonaro. Com uma “canetada”, acaba sendo produzida uma surpresa de
imprevisíveis consequências políticas. A de Marco Aurélio só não se tornou
pior, pois o processo político já levou à diplomação de um novo presidente.
Mesmo assim, a “surpresa” da decisão monocrática é que fará com que alguns
desses altos oficiais, sintam agora cheios de razão: era necessário, na visão
deles, frear de alguma maneira a bagunça política que, junto do esgarçamento do
tecido social, ameaçava criar condições dificilmente controláveis.
Episódio ainda
pouco contado em detalhes foi o temor do escorregão rumo à bagunça política que
levou o ainda nem empossado atual presidente do Supremo, Dias Toffoli, a
combinar com o alto-comando do Exército uma garantia contra “surpresas” (leia-se
canetada monocrática). Foi a nomeação do então chefe do Estado-Maior (e agora
nomeado ministro da Defesa), general Fernando Azevedo, como assessor especial
do chefe do Poder Judiciário, o próprio Toffoli. Pode-se dar a isso a
designação de “tutela”, mas seria um exagero. O que aconteceu, no fundo, foi a
compreensão, por parte de uma série de agentes políticos, de que era necessário
articular algum tipo de garantia contra “surpresas” jurídicas de consequências
políticas incalculáveis.
Foi exatamente
essa garantia que Toffoli deu aos militares – mas a garantia não se estendia a
seus colegas de ajuntamento de integrantes do STF. As causas jurídicas mais
distantes da insegurança que emana do STF não cabem neste curto espaço. Um
breve resumo, as localiza exatamente na politização da Justiça – o STF, por
exemplo, protelou uma decisão final sobre o artigo da Constituição que trata da
prisão após condenação em segunda instância, pois alguns de seus integrantes
achavam que se formaria uma maioria “beneficiando” Lula.
Como
instituição, o STF sofre hoje do pior dos males, que é o descrédito – seja por
decisões que inevitavelmente serão consideradas como “políticas” (e, de fato,
muitas são) e, portanto, destinadas a favorecer uns e prejudicar outros. Seja
por ser identificado não mais como “garantidor” dos preceitos constitucionais,
mas, sobretudo, de vantagens auferidas por integrantes do Judiciário. Qualquer
que seja o destino de Lula, o papel desempenhado pelo STF reforça um vazio
institucional.”
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AGD
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