Por Zezinho de Caetés
Estou tão ligado no julgamento do mensalão que os bons
textos que deveria comentar aqui e transcrevê-los, como o faço quase sempre,
vão se acumulando no disco do computador. Hoje, abaixo, transcrevo um texto que
saiu publicado no Globo no dia 06/09/2012, escrito pelo Carlos Alberto
Sardenberg, e que merece toda a atenção.
Sua análise e conclusão são brilhantes. Apenas penso que
comparar a falta de convicção do governo atual e do anterior, com aquele do
Fernando Henrique Cardoso, não é, no mínimo adequado. Havia no final do governo
FHC uma tentativa de se diminuir o papel do Estado, que poderia até ser visto
como uma contradição com os princípios da Social Democracia da época anterior a
de Thatcher no Reino Unido, mas era absolutamente coerente com a versão mais
moderna deste sistema político e econômico.
O que o meu conterrâneo Lula fez em seguida, é verdade, foi
manter o que vinha sendo feito, graças ao Palloci, que conseguiu sustentar os
petistas mensaleiros longe por um tempo. Mas, já para se manter no poder, na
era quase Dilma, tudo passou a girar em função do estado para fins eleitorais e
de apoio político, culminando com os acontecimentos de 2005 (leia-se
mensalão ou uma tentativa frustrado de
termos um partido único de fato) e posterior queda do próprio Palloci.
Mesmo, com a manutenção das políticas econômicas do FHC, no
governo petista tudo passou a funcionar dentro de sua lógica: aparelhar para
governar, dentro da administração pública. E esta simplesmente inchou, ao ponto
de chegarmos a ser o último lugar em eficiência pública com atesta o texto
abaixo. E a derrocada continuará se a Copa do Mundo não nos salvar.
Seguindo o desejo de se manter no poder começa-se a se
ensaiar, nesta fase do governo Lula, gerido por Dilma na presidência, um
processo de privatização que o governo diz que será diferente, para ver se
vende o peixe, e se comprometer com a responsabilidade de trocar apenas a vara
de pescar. E vamos ver se pelo menos teremos todos os estádios para a Copa do
Mundo. E eu até espero que o Brasil ganhe a copa, mas, tenho minhas dúvidas, se
o PT aparelhar até a comissão técnica, aceitando o Romário nos seus quadros e o
nomeando treinador.
Mas, fiquem com Sardenberg, e prestem atenção em nossos
números. Por enquanto, não ganhamos nada.
“Diz o Fórum Econômico Mundial que o Brasil é o 48º país mais
competitivo do globo. É bom ou ruim? Depende. Considerando que subiu cinco
posições em relação ao ranking do ano passado, está bom. Entramos no “top 50″
pela primeira vez, uma posição avançada em um grupo de 144 competidores. O
Brasil está à frente de Rússia, Índia e México, por exemplo.
Considerando, porém, os que estão à frente, não está bom. Perdemos para
China, o que é normal, mas também para Turquia, Polônia e Chile, entre outros
emergentes importantes.
O quesito tamanho conta a favor do Brasil. Quanto maior a economia,
maiores as possibilidades de negócios. Mas entre os grandões, aqueles países
que produzem mais de US$ 2 trilhões ao ano, o Brasil vai para o fim da fila.
Resumindo, essa 48ª posição não dá direito à Libertadores, mas também
está longe da zona de rebaixamento. Um tanto acima da média, disputando a
Sul-Americana, posição que certamente não é suficiente para uma nação que
pretende ser rica um dia.
Onde se pode melhorar? Em tudo que tem a ver com o governo. Isso mesmo.
O ranking do Fórum Econômico Mundial, cujo parceiro local é o Movimento Brasil
Competitivo, considera vários itens, da macroeconomia à micro e ao ambiente de
negócios. Em tudo que o setor público é preponderante, a classificação fica
abaixo da média. Ao contrário, o que depende da iniciativa privada vai acima.
Por exemplo: no quesito “comunidade de negócios sofisticada”, a posição
brasileira é 33ª.
Já no que se refere à regulação do governo, o Brasil vai para o último
lugar; impostos e sistema tributário, também o pior do mundo; desperdício de
gastos (públicos), 135ª; qualidade da educação (116ª); eficiência do governo
(111ª).
Isso confirma a dominância da agenda atual: como derrubar o custo
Brasil? A resposta, resumida, está na cara: reduzir o tamanho relativo do
governo, aumentar a sua eficiência e desobstruir o ambiente de negócios de modo
a abrir espaço para a iniciativa privada.
A boa notícia é que, pouco a pouco, se forma um consenso em torno desse
caminho. Lideranças políticas e econômicas têm chegado a essa posição por
razões diferentes. Ou por necessidade e por convicção.
No segundo grupo, estão todos aqueles que desde anos vêm sustentando
essa doutrina. Já na vertente da necessidade, está o pessoal que gosta de uma
economia controlada pelo Estado, mas verifica, no exercício do governo, como a
administração é incompetente.
Estamos falando, claro, de parte do governo Dilma. Trata-se de uma ala
que privatizou aeroportos não porque acredita na lógica do mercado, mas
simplesmente porque percebeu que o governo não conseguiria entregar as obras a
tempo.
Tudo bem, pode-se dizer. Se fizerem a coisa certa, de que importa a
motivação? Hegel, se não estou me atrapalhando com as longínquas lições da
faculdade de filosofia, dizia que a Humanidade só resolve os problemas quando
eles se impõem, que os líderes surgem nos momentos necessários.
De certo modo, isso aconteceu com Fernando Henrique Cardoso. Ele vinha
da social-democracia, do estado do bem-estar social, da esquerda à europeia, e
acabou, por necessidade, avançando na agenda da reforma do Estado, das
privatizações e das bases ortodoxas da macroeconomia. Como aliás fizeram muitos
outros líderes de sua época (Bill Clinton, Tony Blair e Gerhard Schroeder).
E como Lula, certamente. Por necessidade, ele manteve a base econômica
de FHC e até avançou, no primeiro mandato, na agenda de microrreformas que
melhoraram o ambiente de negócios.
Assim, Dilma Rousseff. Quem imaginaria que ela poderia comandar um
amplo programa de privatizações e de redução de impostos?
O problema é que essa turma que vai pela necessidade tende a abandonar
o caminho ao menor sinal de dificuldades políticas na implementação ou,
inversamente, de alívio na situação.
É diferente uma privatização tocada por uma Margaret Thatcher, digamos,
e pela nossa turma aqui. Convicção faz diferença. Diz-se, por exemplo, que não
haverá mais privatizações de aeroportos.
Veremos. A necessidade é forte, o momento exige, mas falta saber se as
lideranças são também aquelas exigidas pela situação. Um mau sinal: na pesquisa
da competitividade, há um item “confiança nos políticos”. Brasil, 121º lugar.”
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