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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A AGD na América - O gado de Obama

Chegando à América



Por Zé Carlos

Uma viagem aos Estados Unidos da América não começa quando a gente se desloca em direção a este país. Há todo um processo preparatório gerado pela desconfiança que este povo do norte criou em relação a outros povos. Não convém discutir aqui se esta desconfiança é fundada ou infundada, mas, apenas constatá-la.

O sinal mais evidente é a necessidade de um visto de entrada, como se dissessem: olha brasileiros aqui em casa vocês só entram se obtiverem permissão, e para a darmos vocês têm que comprovar o que querem conosco. E o maldito visto termina sendo a primeira exigência pela qual milhões de brasileiro (e de outras nacionalidades) se aglomeram defronte dos consulados americanos todos os dias.

Para mim, achando a causa justa, enfrentei este processo pela primeira vez. E não foi fácil. Para aqueles, que como eu já entraram na terceira idade e somos tão bem tratados no Brasil, quando sabemos que diante dos ambientes diplomáticos americanos perdemos todos nossas prerrogativas é uma grande desilusão. Esta desilusão é então superada pela vontade ou necessidade de viajar e a engolimos em seco.

Em seco porque, depois de preencher centenas de formulários pela internet, pagar taxas caras que só a vontade de viajar disfarçam, no dia em que fomos ao consulado americano, na primeira triagem, o tempo estava bom lá pela praia do Pina e o sol estava a pino batendo nas caras de um monte de brasileiros com o mesmo desejo: vir aos Estados Unidos. Igual a gado no matadouro, cercado por fitas de plástico com mourões de metal todos nós mugíamos naquele só de rachar.

De vez em quando chegava um “boi” mais realista e reclamava daquela situação. Por que não nos colocavam para dentro? Em alguma sombra mesmo que não nos dessem água fresca? Já outro mais realista do que o rei perguntava: Oh cara, então por que tu vais? Por que não ficas em casa ou então vais para a Bahia? Nenhuma resposta ouvida, nenhuma reclamação mais.

Então, lá vem a alegria. Um bando de vaqueiras, que pareciam jovens brasileiras, fazer uma a triagem para ver quem tinha a documentação em dia e quando ouvíamos algum muxoxo era porque uma data estava errada, ou ele havia respondido, no formulário da internet, que , sim, já havia praticado atos terroristas terríveis, por engano, é claro. E começa o tangimento do gado para dentro do depósito. Não sendo uma dependência americana (só as representações consulares o são) uma das moças vendo meus cabelos brancos disse: O senhor e prioritário, entre. E lá vai eu com vergonha de minha condição de boi velho.

Lá dentro fui submetido a uma varredura biométrica, já ficando pronto para, no futuro, votar no Brasil. Hoje, os americanos têm mais impressões digitais minhas do que os brasileiros. Para vencê-los temos que tirar as impressões dos pés também. Feita a varredura, com todos os cascos fotografados e arquivados, fomos enviados à próxima triagem, no Consulado Americano logo no outro dia. A pressa talvez seja  para que se morrer alguém no primeiro matadouro eles possam ainda aproveitar a carne no outro dia.

E lá vamos nós para o mesmo lugar, numa rua que não me lembro o nome, mas na qual passei muitas vezes e os canteiros, enormes, de cimento continuam na rua em frente do Consulado. Eu sempre me questionei se aqueles enormes blocos não seriam uma invasão dos americanos ao solo brasileiro. E ainda o fiz, desta vez, embora baixinho, pois havia o risco de ser considerado persona non grata e adeus viagem. E lá vem os vaqueiros jovens que desta vez gritavam não serem permitidos aparelhos eletrônicos, comida, bebida, etc. mas, no curral de lá já tem uma parte coberta, que depois de certa hora no sol ou chuva os bois podem descansar sentados. Embora alguns bovinos que vem de outros estados já estivessem todos molhados por chegarem lá muito cedo.

Então adentramos em território americano e somos obrigados a ver uma galeria de quadros de propaganda e esperamos na fila para o algoz americano nos entrevistar, por trás de um vidro, mais protegido do que a Mona Lisa, no Louvre. Depois de olhar nos nossos olhos e mostrar sua supremacia linguística no inglês, ele me entrevista com aquele português que só não é pior do que o meu inglês, e resolve nos liberar para entrar no seu país, para ele, o melhor país do mundo. Ainda não tive tempo para julgar se ele está certo ou não, e com embevecimento de conhecer o país dele pela primeira vez, com todo complexo de boi de matadouro (que é aquele que, diferente do complexo de vira lata, realmente acha que vai para algo ruim mas vai gostar) estou estudando e escrevendo sobre a viagem.

E ainda me sentindo o “gado de Obama”, agora estou vendo o dono passar na frente nas pesquisas (e aí em Bom Conselho, como vão as pesquisas?). E  me sentindo gordo pois agora com ele me olhando de perto, como dizemos aí no Brasil, é o olho do dono que engorda o boi. Mas, depois do Consulado teve a travessia e a chegada, mas, conto depois.

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